Financial Times
Haig Simonian
Os bancos privados da Suíça enfrentam tempos turbulentos em meio à formidável pressão exercida sobre a confidencialidade de clientes, possivelmente o pilar central de suas fortunas. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) exigiu maior transparência. Enquanto isso, a Comissão Europeia pediu trocas de informações tributárias automáticas e a Alemanha, um dos parceiros mais próximos da Suíça, comprou dados de clientes roubados por empregados dos bancos.
“Todos estão muito assustados. Não há nenhuma estratégia. E não há nenhuma liderança”, diz um destacado executivo de banco privado.
Berna, enquanto isso, curvou-se. A tenaz defesa inicial do estrito sigilo bancário se diluiu no ano passado, depois das investigações conduzidas pelas autoridades dos EUA em torno do UBS, maior banco da Suíça. Desde então, os suíços apresentaram um amplo imposto retido na fonte – de pouca eficácia.
No mês passado, Berna admitiu que os depósitos futuros deverão ser declarados nos países de origem dos estrangeiros e que negociações deverão ser conduzidas visando regularizar bens “patrimoniais” não declarados.
“Para o dinheiro existente não declarado mantido aqui, a Suíça precisará ter uma solução política. Para dinheiro novo, se soubermos que não está sendo declarado, não o aceitaremos”, disse Hans-Ulrich Meister, responsável pela Suíça no Credit Suisse, na semana passada.
Relatos da morte do setor de “private banking” da Suíça ou de sua iminente extinção são extremamente exagerados. As cifras para fluxos de ativos em 2009 mostram que, apesar de os bancos privados terem sido submetidos a fortes vendavais, a maioria os enfrentou bem.
Além disso, apesar de ser possível que alguns dos depósitos mais sólidos registrados pelos bancos possam ter representado dinheiro transferido do UBS, os dados indicam que os bancos também conseguiram explorar novas fontes importantes.
“Clientes ricos apreciam o leque de oportunidades de investimento, o raio de ação global e a estabilidade oferecidos pelos bancos suíços que, além do mais, têm sido empreendedores ao prospectarem novos mercados”, disse Huw van Steenis, analista do Morgan Stanley.
Três fatores tornam a vida mais árdua para os bancos: a recessão em mercados maduros, que reduziram novos depósitos; as dificuldades do UBS, que transbordaram para o sigilo bancário em geral; e a anistia fiscal italiana.
Os problemas do UBS começaram com a crise do crédito, tornando os clientes gradativamente mais desconfortáveis à medida que os prejuízos disparavam, e se aceleraram, à medida que o grupo foi obrigado a passar informações confidenciais de clientes aos EUA.
No ano passado, os clientes sacaram, em termos líquidos, 89,8 bilhões de francos suíços (US$ 83,7 bilhões), dando sequência a uma sangria de fundos de 200 bilhões de francos suíços desde janeiro de 2008.
A anistia italiana foi mais um golpe. A medida de Roma, de incentivar seus cidadãos a declarar propriedades anteriormente secretas, afetou quase 23 bilhões de francos suíços em ativos dos clientes do UBS no ano passado.
O grupo não estava só. O Credit Suisse estimou que teria registrado mais que o dobro dos decepcionantes 5,4 bilhões de francos suíços recebidos em dinheiro líquido novo no quarto trimestre se não fosse pela anistia. O Bank Julius Baer, de menor porte, usou o mesmo argumento para explicar seus relativamente modestos 5 bilhões de francos suíços em dinheiro novo líquido captados em 2009.
Mas as notícias dos bancos não foram de todo ruins. Muitos conseguiram reduzir o impacto da anistia de Roma persuadindo clientes italianos a manterem suas contas – embora agora declaradas -ou transferi-las a agências locais italianas que muitos bancos privados suíços abriram nos últimos anos.
O UBS, que investiu pesadamente na estruturação de redes bancárias privadas exclusivas nos países europeus vizinhos, reteve mais de 14 bilhões de francos suíços dos 22,8 bilhões de francos suíços afetados pela anistia italiana. O Credit Suisse disse que também manteve uma parcela substancial.
A expansão internacional também compensou nos demais lugares, especialmente na Ásia, onde os bancos suíços se beneficiaram de riquezas recém geradas.
“Os resultados mostraram que ainda há muitas oportunidades por meio de consolidação e expansão no mercado suíço anteriormente negligenciado. Mas, sobretudo, os ingressos de capital vindos da Ásia e da Europa Oriental demonstraram o excelente crescimento disponível nessas regiões, que, acima de tudo, não foram movidos por evasão fiscal”, disse Christian Stark, analista setorial do Cheuvreux, em Zurique.
O Sarasin com sede na Basileia foi o exemplo eminente. Sua exposição tradicionalmente limitada a clientes italianos deixou o banco relativamente imune à anistia. E sua recente expansão rumo à Ásia – financiada e apoiada localmente pelo Rabobank, seu controlador holandês – compensou regiamente.
O Sarasin fomentou a vinda de dinheiro novo contratando dezenas de consultores de clientes na região, enquanto a nota de crédito AAA do Rabobank tranquilizava seus novos clientes.
“O respaldo do nosso acionista majoritário Rabobank com classificação AAA, a solidez do nosso próprio capital e a estratégia de negócios sustentada do Sarasin inspiram enorme confiança”, disse Christoph Ammann, presidente do conselho de administração do banco.
Outros bancos suíços também se beneficiaram com as condições relativamente robustas da Ásia. O Julius Baer disse que ingressos sólidos procedentes de mercados emergentes, especialmente a Ásia, compensaram as saídas de capital nos demais lugares.
Mesmo o UBS, apesar da sua reputação desgastada, conseguiu registrar dinheiro novo liquido positivo da Ásia no quarto trimestre, na primeira mudança para melhor por um bom tempo, e num possível sinal de melhoras por vir.