Confusão. É nisso que têm apostado os bancos com o lançamento de balanços diferenciados. São várias as denominações: pró-forma, gerencial etc. E diferentes os resultados: bônus e dividendos pagos nas alturas a uns poucos executivos e participação nos lucros (PLR) paga pela regra básica aos milhares de bancários que fazem funcionar o sistema financeiro do Brasil.
O exemplo do Santander é emblemático. Enquanto distribuiu à esmagadora maioria dos seus cerca de 53 mil funcionários o valor mínimo de PLR garantido pela Convenção Coletiva de Trabalho, destinou a alguns superintendentes valores astronômicos, na casa dos R$ 1,4 milhão.
“É com isso que estamos querendo acabar”, afirma o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino. Os dirigentes sindicais reúnem-se com a federação dos bancos (Fenaban) nesta terça, dia 5, para dar início a negociações sobre o tema. “Os bancos produzem balanços em que aumentam cada vez mais os provisionamentos para se proteger de uma hipotética inadimplência, lançam ágios fantásticos que fazem os lucros cair. Como esse é o parâmetro para distribuir parte dos resultados com os trabalhadores, a categoria sai prejudicada”, explica o dirigente. O presidente da federação dos bancos, Fábio Barbosa, anunciou que o setor deve provisionar mais de R$ 50 bi até o final deste ano – 25% mais que em 2008.
A PLR foi conquistada em 1994 e começou a ser paga em 1995. De lá para cá cresceu graças à mobilização dos bancários que alcançaram mudanças na parte fixa e no teto, além do valor adicional. “Mas isso ainda é pouco perto do ganho das instituições financeiras no Brasil. E agora, essas mexidas estratégicas nos balanços estão tornando o cálculo cada vez mais complexo, o que dificulta que o trabalhador se aproprie do seu direito. Por isso queremos negociar uma nova regra mais simples e justa para os bancários”, destaca Marcolino.
Fusões – As recentes fusões entre os bancos também tiram dos trabalhadores as referências para o cálculo da PLR. “A cada ano fica mais difícil. Os bancos fazem a fusão, mas divulgam balanços separados, em tempos diferentes, por um longo período. Essa também é uma razão para rediscutir parâmetros. Precisamos de novas referências para melhorar a participação dos bancários no lucro dos bancos”, completa o presidente do Sindicato.
De acordo com a mitologia grega, a esfinge possuía cabeça de mulher, corpo de leão e asas de águia. Enviada por Hera, invadiu Tebas destruindo campos e afugentando moradores. E só se retiraria se alguém decifrasse seu enigma: “Que animal caminha com quatro pés pela manhã, dois ao meio-dia e três à tarde e é mais fraco quando tem mais pernas?” Os inábeis eram devorados.Édipo respondeu: “o homem, pois ele engatinha quando pequeno, anda com as duas pernas quando é adulto e usa bengala na velhice”.
Está colocado o enigma nos bancos: por que publicar balanços indecifráveis que só devoram a PLR dos bancários?
Cláudia Motta – 05/05/2009