Assis Moreira, de Basileia
Valor Econômico
Apesar dos resultados positivos dos testes de estresse divulgados na sexta-feira, dia 23, a pressão sobre os os bancos europeus tende a continuar e o Banco Central Europeu (BCE) se manterá como fonte essencial para o funding de muitas instituições, avaliam fontes bancárias.
Estimativas obtidas pelo Valor Econômico mostram que as injeções diretas de liquidez do BCE excederam ? 325 bilhões nos bancos da zona euro desde metade de 2008, com mais de ? 75 bilhões destinados somente para os combalidos bancos da Grécia.
O financiamento do BCE representa cerca de 18% do total dos ativos do sistema bancário grego, praticamente um recorde, já que o acesso ao mercado se fechara para suas instituições. No caso dos bancos irlandeses, esse funding fica em 6%.
Nos testes de resistência a que foram submetidos, apenas sete bancos da UE foram julgados fracos demais para afrontar uma crise, sendo um grego, o Agricultural Bank of Greece, cinco caixas de poupança espanhóis e o alemão Hypo Real Estate, necessitando levantar mais ? 3,5 bilhoes de capital.
Mas certos analistas são céticos e consideram que as hipóteses examinadas nos testes não integraram um cenário realmente catastrófico, permitindo calcular o custo real de uma recapitalização para o sistema bancário do velho continente.
O risco é de outras instituições enfrentarem nova pressão dos mercados para reforçar seus fundos próprios. Vai depender da reação dos mercados a partir desta segunda-feira. Se for muito negativa, o próprio BCE terá maior demanda por liquidez dos bancos e poderá estender o prazo de empréstimos.
Nos últimos meses, com os bancos perdendo acesso a funding tradicionais, as operações de financiamento do BCE praticamente substituíram o mercado de “papéis comerciais” emitidos pelo setor financeiro.
Entre autoridades monetárias e de regulação, que se reúnem hoje em Basileia, a esperança é de que o resultado dos testes dos bancos europeus “conforte os mercados”. O italiano Mario Draghi, presidente do Conselho de Estabilidade Financeira, vê um exercício de “clareza e de transparência” sobre a solidez do sistema bancário europeu.
Na mesma linha, o jornal francês “Le Monde” insiste em editorial que as simulações feitas em 91 instituições do velho continente foram estruturalmente bem mais duras do que as submetidas aos bancos dos Estados Unidos, por exemplo.
Os EUA fizeram seus cenários de crise após vários anos de crescimento. Por sua vez, os testes europeus foram conduzidos em junho sobre bancos que já tinham atravessado uma crise e os mais fracos recapitalizados.
Espera-se que a demanda por funding por parte dos países com grandes déficits também diminua e deixe espaço para os bancos captarem recursos. A Espanha está pagando ? 24,7 bilhões em obrigações e títulos este mês e outras dividas só vencerão depois de julho de 2011. Portugal não tem esse problema até abril.
Outros analistas notam, em todo caso, que a confiança nos bancos europeus está fortemente vinculada à confiança no mercado de bônus soberanos. Ainda mais que os bancos precisarão refinanciar suas próprias dividas de ? 1,1 trilhão no ano que vem.
Mas uma parte de ceticismo sobre os testes se explica também pela suposta falta de exame da qualidade dos ativos dos bancos, que se deteriora. Também uma queda do valor dos papéis soberanos foi simulado com taxa de desconto de até 23% para a dívida da Grécia, 14% para a dívida de Portugal e 12% para a dívida da Espanha, considerada como muito otimista por participantes do mercado.