(São Paulo) Segundo o Ministério da Previdência Social, os bancos estão em primeiro lugar no ranking de registros de LER/Dort (lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho) no país. De 2000 a 2005, R$ 981,4 milhões foram pagos em auxílio-doença a 25,08 mil bancários afastados do trabalho por doenças incluídas nessas classificações.
Os dados estão em reportagem publicada na Folha de S.Paulo, assinada por Leandra Peres. A publicação coincide com as comemorações do Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, em 28 de abril.
Incluem-se nas LER/Dort doenças de coluna, tendinite, bursite e síndrome do túnel do carpo, entre outras. Os distúrbios já são a segunda maior causa de doenças entre os trabalhadores do país.
Entre os bancários, em média, cada trabalhador permaneceu um ano e meio afastado. Somados, são 14,9 milhões de dias sem trabalhar. De acordo com os dados da Previdência, para cada grupo de 10 mil trabalhadores, 520 bancários foram afastados por LER/Dort entre 2000 e 2004. O segundo colocado no “ranking” de LER/Dort e ramo de fabricação de tênis, setor em que o número de trabalhadores afetados é de 392 para cada grupo de 10 mil, representando 75% a mais de casos.
Para Plínio Pavão, secretário de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), os bancos precisam investir em prevenção e adotar políticas que não forcem os trabalhadores a produzir mais do que sua capacidade. “As estatísticas divulgadas tratam apenas das doenças osteomusculares, sabemos, com base em estudos do próprio Ministério da Previdência, que os bancos são também campeões em doenças mentais, provocadas, principalmente, por pressão pelo cumprimento de metas abusivas”, lembra o dirigente. “Além disso, a terceirização de alguns setores como retaguarda bancária e call centers, sempre acompanhadas de precarização das condições de trabalho, tendem a agravar o cenário”, analisa.
Os custos não podem ser repassados à sociedade
Justamente por esse quadro, o Ministério da Previdência recentemente promoveu uma revisão no enquadramento de grau de risco dos bancos, elevando a contribuição para o Seguro Acidente de Trabalho (SAT) dessas instituições de 1% para 3%. Esse percentual é recolhido mensalmente pelas empresas sobre a folha de pagamento para financiar os benefícios decorrentes de acidentes e doenças do trabalho. É uma forma de a Previdência Social garantir os direitos dos trabalhadores afastados sem onerar a sociedade como um todo.
“Os casos de LER/Dort são caros para a sociedade”, declarou Helmut Schwarzer, secretário de previdência social, ao jornal paulista. “Será que prevenir custa R$ 39 mil por pessoa? [É preciso] que não se faça mais a socialização do custo. O empregador tem de assumir sua responsabilidade na prevenção de doenças", defende.
Subnotificação
Apenas 8.700 dos casos, equivalente a um terço dos 25,08 mil bancários que receberam o auxílio-doença, foram reconhecidos pelos bancos. De acordo com Schwarzer, isso mostra a elevada subnotificação.
Plínio lembra ainda que esse quadro de subnotificação vem sendo denunciado há muitos anos pelas entidades sindicais ligadas à Contraf-CUT. “O advento, do Nexo Técnico Epdemiológico, que nada mais é que um instrumento com base na epidemiologia para auxiliar na identificação do chamado ‘nexo causal’ – a relação do doença com o ambiente de trabalho – irá certamente melhorar as estatísticas, mostrando que o problema é muito mais grave do que querem fazer parecer os banqueiros”, complementa.
O jornal apresenta declaração do presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino. Ele sustenta que, em muitos casos, os bancos usam indenização diretas aos trabalhadores afastados como moeda de troca para evitar a notificação do acidente.
O pagamento é feito para que o trabalhador peça demissão, abrindo mão de deirietos como estabilidade, seguro-desemprego etc. O resultado é que a indenização sai mais barata para a empresa e cara para o trabalhador.
Magnus Ribas Apostólico, superintendente de relações trabalhistas da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), ouvido pela reportagem, nega que a prática ocorra e tenta pôr a culpa em fraudes e esquivar os bancos da responsabilidade.
Cultura preventiva
Anadergh Barbosa, a doutora em saúde do trabalho e professora da Universidade de Brasília (UnB), afirma que, nos últimos anos, a categoria bancária passou por maiores alterações na estrutura do trabalho em relação a outros setores. Na visão dela, contribuíram para o aumento da vulnerabilidade dos trabalhadores a informatização, a incorporação de metas no gerenciamento dos bancos, a insegurança e os assaltos e o menor prestígio da profissão no ambiente social.
Diante da piora no ambiente de trabalho, segundo a professora, não foram promovidos sistemas de reabilitação eficazes nem uma cultura de prevenção.
Fonte: Contraf-CUT