Tobias Buck
Financial Times, de Madri
Uma estimativa do Banco da Espanha calcula que os bancos espanhóis terão de fazer provisões extras de até 10 bilhões de euros para cobrir empréstimos que tomadores terão dificuldades para pagar.
Segundo dados recentes, os bancos espanhóis rolaram empréstimos de mais de 200 bilhões de euros antes de seus vencimentos, muitas vezes porque ficou claro que os tomadores não teriam condições de pagar as dívidas nos prazos definidos. A estimativa de 10 bilhões de euros é a primeira avaliação oficial do provável impacto da nova abordagem do BC espanhol em relação aos empréstimos refinanciados.
O Banco da Espanha calcula que os riscos dessa prática não estão totalmente cobertos e está pressionando todos os bancos para que reclassifiquem, até o fim de setembro, seus créditos refinanciados de acordo com padrões mais rígidos. O novo regime tornará mais difícil para os bancos tratar empréstimos refinanciados como se estivessem sendo quitados normalmente, o que, por sua vez, forçará os bancos a fazer provisões adicionais.
“Nossos bancos precisarão de mais provisões”, disse ontem ao “Financial Times” um funcionário do Banco da Espanha. “As provisões vão afetar seus resultados, mas a questão é em quanto. Não sabemos com certeza, mas acreditamos que o impacto será de algo entre 5 bilhões de euros e 10 bilhões de euros [em provisões] para o sistema.”
A nova rodada de provisões deverá afetar significativamente os lucros no momento em que os ganhos dos bancos espanhóis já se encontram pressionados no mercado doméstico. A Espanha está em recessão há dois anos e empresas e famílias sofrem as consequências de uma bolha imobiliária alimentada por endividamento e com a crescente taxa desemprego.
Analistas e autoridades da Espanha acreditam que a nova e dura postura do banco central em relação aos empréstimos refinanciados deverá forçar os bancos mais fracos – que se concentram exclusivamente no mercado doméstico – a captar mais recursos por meio de vendas de ativos, aumentos de capital ou recorrendo ao fundo de resgate bancário do governo.
No entanto, um funcionário do Banco da Espanha disse que a posição da instituição é de que “os bancos podem arcar com isso”. Nem todas as provisões serão lançadas todas de uma vez este ano, acrescentou a fonte. Em vez disso, os bancos sofrerão o golpe financeiro dependendo de quando os empréstimos refinanciados vencerem.
Autoridades familiarizadas com o tema afirmam que o golpe financeiro será muito maior para os bancos menores do que para os grupos grandes e diversificados como o Santander e o BBVA, que geram lucros suficientes para absorver facilmente o esperado aumento das provisões.
Há uma preocupação especial com a carteira de empréstimos de bancos que foram nacionalizados no ano passado. O Bankia, que se tornou o símbolo da crise bancária da Espanha, responde pela maior parte dos ativos atualmente em poder do Estado.