Mesmo com a nova ajuda de 100 bilhões de euros solicitada pelo governo espanhol para capitalizar as instituições do país, a Espanha ainda vai precisar de novos aportes para garantir solidez ao sistema bancário, o que é motivo de especial preocupação para a Alemanha, principal credor dos bancos da região.
Levantamento feito a pedido do GLOBO pela consultoria Austin Rating mostra que pouco mais de um terço da dívida dos bancos espanhóis está nas mãos de bancos públicos e privados alemães. Quando tomados os chamados Piigs (sigla em inglês para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, considerados os países mais problemáticos), a proporção é semelhante.
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– Está certo que novos aportes serão necessários. Os bancos espanhóis continuam sendo acompanhados com lupa pelo mercado financeiro e ainda inspiram cuidados – disse o economista da Austin Felipe Queiroz.
Concentração justifica austeridade alemã
O quadro de fragilidade é uma das explicações para a relutância alemã em fazer novos aportes sem contrapartidas de austeridade muito fortes por parte dos países problemáticos.
A relação da dívida dos países europeus com bancos estrangeiros deve ser levada em conta na reunião da União Europeia (UE) em Bruxelas esta semana. Dos US$ 157,9 bilhões que o sistema bancário espanhol deve a bancos, US$ 134 bilhões são para instituições públicas e privadas europeias.
Deste total, US$ 53,1 bilhões são para a Alemanha. Outros US$ 23,4 bilhões são devidos a instituições públicas e privadas francesas.
Já os PIIGS têm US$ 121,1 bilhões dos US$ 363,4 bilhões de suas dívidas como débitos junto aos bancos alemães. Os franceses detêm US$ 67,4 bilhões desta dívida.
Crise da dívida europeia terá reflexos no Brasil
O endividamento do setor bancário europeu também tem implicações sobre o Brasil. Para Queiroz, dependendo da intensidade da crise e do tempo que os países levarem para reverter a situação, os bancos podem ter de se desfazer de posições em outros mercados onde tenham bons resultados, como o brasileiro, por exemplo.
De acordo com o levantamento da Austin, a dívida dos bancos alemães está em US$ 394,9 bilhões, enquanto a dos franceses está em US$ 471,5 bilhões. A maior parte de ambas tem como principais credores os bancos europeus: US$ 338 bilhões e US$ 278,4 bilhões, respectivamente. Mas esse endividamento não chega a preocupar, porque os dois países são as principais economias no bloco e têm uma situação econômica mais estável.
– Por mais que França e a própria Alemanha tenham uma dívida bem maior do que a espanhola, estes dois países têm um sistema financeiro mais sólido.
O Reino Unido é, de longe, o país da Europa cujo sistema bancário está mais endividado com bancos estrangeiros. São US$ 727,9 bilhões, dos quais US$ 508,5 bilhões estão nas mãos de instituições públicas e privadas europeias. Entre os europeus, a Alemanha é maior credor do país, com US$ 173,8 bilhões. E fora da Europa, são os bancos americanos que mais detêm créditos com os britânicos.