Desde junho de 2008 está em vigor a lei que instituiu o atendimento reservado para clientes nas agências bancárias de Curitiba. O objetivo é aumentar a segurança de quem faz saques de valores elevados. A legislação determina a instalação de divisórias para impedir que pessoas dentro do banco vejam a movimentação no caixa, mas um ano depois, são poucas as agências que se adaptaram.
Para o autor da lei, o vereador Paulo Frote (PSDB), o atendimento reservado evitaria a modalidade de assalto conhecida como “saidinha”. Bandidos abordam a pessoa na saída dos bancos e roubam o dinheiro que acabou de ser sacado. Na maioria das vezes os assaltantes agem com violência. A polícia acredita que “olheiros” ficam dentro do banco passando informações sobre os clientes para os bandidos do lado de fora.
A legislação estabeleceu prazo de 90 para adaptação. O que se vê, porém, são poucos bancos com os equipamentos instalados. O próprio autor da lei disse que só tem conhecimento de duas agências com as divisórias, uma na Rua XV de Novembro, região central de Curitiba, e outra no bairro Xaxim. Nelas, o cliente recebe uma senha e só se dirige ao caixa quando o número é chamado por um painel eletrônico.
Algumas agências colocaram as divisórias, mas de vidro. Em outras as divisórias são pequenas e não impedem quem está na fila de ver o cliente no caixa. “Você se sente inseguro de conferir R$ 500 no caixa porque os outros estão olhando e você não sabe se vão te assaltar”, afirmou Frote.
A lei prevê aplicação de multa diária no valor de R$ 200 pelo descumprimento e de até R$ 25,6 mil em caso de reincidência. Os bancos estão sujeitos, ainda, a cassação do alvará de funcionamento. Até agora, nenhuma agência foi multada.
A Secretaria Municipal de Urbanismo informou que só pode aplicar a multa depois que a infração for constatada pelo Procon. Já o órgão de defesa do consumidor afirma que por se tratar de uma legislação municipal a fiscalização é de responsabilidade da prefeitura.
Frote disse que ainda esta semana a Comissão de Segurança da Câmara pretende realizar uma blitz nas principais agências da cidade. Para isso, a comissão vai pedir auxílio do Procon.
Crimes
Os assaltos “saidinha” estão se tornando cada vez mais comum em Curitiba e região metropolitana. O caso mais recente ocorreu no último dia 5. O empresário José Niczay Sobrinho, de 50 anos, foi morto com um tiro no peito em frente ao restaurante dele no bairro Bigorrilho.
Ele havia sacado R$ 3 mil de uma agência do Bradesco na Rua Padre Anchieta. Niczay foi seguido por dois homens em uma motocicleta até a frente do restaurante, onde foi abordado e baleado. No dia anterior, dois bandidos tentaram assaltar um cliente que saía do Banco do Brasil na Rua Evaristo da Veiga, no Hauer. Neste caso, a polícia foi acionada e os assaltantes presos.
Em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana, o dono de um posto de combustível foi assaltado no dia 21 de julho. Os ladrões levaram um malote de dinheiro quando ele deixava uma agência do HSBC. No mesmo dia, dois homens tentaram assaltar um policial militar que tinha acabado de sair de uma agência bancaria em Pinhais. Os dois estavam em uma moto e seguiram PM por cerca de três quadras. Ao abordar o policial, um dos bandidos foi baleado e morreu, o outro foi ferido na perna.
Segundo Otávio Dias, presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e região metropolitana, um levantamento da federação dos bancários aponta que o número de assaltos diários a bancos, caixas eletrônicos e nas proximidades é igual ao total de agências no Brasil. Para o sindicato, todas as medidas para aumentar a segurança nas agências são importantes. “O banqueiro se preocupa em proteger seu patrimônio dentro da agência e deixa os clientes desprotegidos”, afirmou Dias.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) foi procurada pela reportagem da Gazeta do Povo para comentar o assunto, mas não respondeu ao contato.
Escolta
Para evitar assaltos a Polícia Militar (PM) do Mato Grosso oferece o serviço de escolta armada em períodos de grande movimentação de dinheiro, como o final de ano. O cliente que for sacar valores superiores a R$ 5 mil podem agendar com a polícia o acompanhamento.
A PM do Paraná informou que este tipo de serviço não é prestado no estado por se caracterizar como atendimento privado. Segundo a assessoria de imprensa da corporação, a polícia pode ser acionada a qualquer momento pelo 190 para situações de emergência. Quanto a segurança dentro das agências, a responsabilidade é dos próprios bancos, informou a PM.