O produto interno bruto (PIB) do setor bancário cresceu 41,7% no ano passado, quase oito vezes mais que a economia como um todo, e caminha para um resultado semelhante em 2008. Levantamento divulgado nesta quarta-feira 10 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o setor de intermediação financeira e seguros (que inclui bancos, seguros e previdência complementar) teve um crescimento de 12,5% no primeiro semestre deste ano, mais que o dobro do aumento do PIB nacional no período, que foi de 6,1%, superando todas as expectativas.
“O fantástico desempenho dos bancos mostra que eles não têm nenhuma razão para rejeitar as reivindicações da categoria. Queremos incorporar aos nossos direitos e salários uma parte da riqueza que ajudamos a construir”, afirma Vagner Freitas, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) e coordenador do Comando Nacional dos Bancários, que está negociando a campanha salarial com a Fenaban.
Na próxima quarta-feira, 17, os bancários começam a discutir com os bancos as cláusulas econômicas da pauta de reivindicações, que inclui aumento real de 5% (acima dos 7,15% da inflação medida pelo INPC/IBGE nos últimos 12 meses), aumento e simplificação da PLR, valorização dos pisos salariais, cesta-alimentação no mesmo valor do salário mínimo (R$ 415) e contratação da remuneração total. Clique aqui para conhecer as principais reivindicações e aqui para ver o calendário estabelecido para as negociações.
Na rodada de negociação marcada para terça-feira, 16, o Comando Nacional pretende concluir as discussões sobre as cláusulas não econômicas, que incluem saúde e condições de trabalho, igualdade de oportunidades e segurança bancária.
O aumento da riqueza dos bancos
De acordo com os dados do Relatório Social dos bancos divulgado no mês passado pela Febraban, a riqueza gerada pelo setor bancário (valor adicionado; veja no quadro o que é) em 2007 foi de R$ 136,9 bilhões, contra R$ 92,5 bilhões em 2006 – aumento de 41,7%. No mesmo período, o PIB nacional subiu 5,4%. Com isso, a participação do setor bancário no PIB nacional, que era de 4,0% em 2006, cresceu para 5,4% no ano passado.
Distribuição do valor adicionado dos bancos (R$ milhões) | |||
2007 (1) | 2006 | Evolução Real* | |
RECURSOS HUMANOS | 45.510 | 36.662 | 18,8% |
Salários e Honorários | 24.620 | 20.181 | 16,8% |
Encargos Sociais (30%) | 12.310 | 10.090 | 16,8% |
Benefícios (10%) | 4.103 | 3.363 | 16,8% |
Participações (funcionários e minoritários) | 4.477 | 3.028 | 41,6% |
GOVERNO | 33.212 | 23.977 | 32,6% |
Despesas Tributárias | 12.015 | 9.135 | 25,9% |
IRPJ e CSLL | 11.964 | 7.274 | 57,5% |
INSS sobre salário (22,5%) | 9.233 | 7.568 | 16,8% |
LÍQUIDO PARA ACIONISTAS | 58.176 | 31.851 | 74,9% |
Dividendos distribuídos | 14.627 | 8.256 | 69,6% |
Lucro retido | 43.881 | 24.768 | 69,6% |
Prejuízos | (332) | (1.173) | 79,4% |
TOTAL | 136.898 | 92.490 | 41,7% |
Fonte: Austin Asis/Relatório Social dos Bancos 2007 – Febraban
(1)em 2007, os dados são de 150 bancos, contra 147 em 2006
*Valor Deflacionado pelo IPCA/IBGE de 2007, igual a 4,46%
Os resultados dos bancos no primeiro semestre indicam a mesma tendência de crescimento em 2008, como demonstram os dados do IBGE divulgados na quarta-feira. Enquanto o PIB de toda a economia cresceu surpreendentes 6,1% nos primeiros seis meses, a riqueza do setor de intermediação financeira e seguros aumentou mais que o dobro (12,7%). Mais uma vez foi o segmento que mais cresceu. O setor de serviços de informação, que ficou em segundo lugar, teve acréscimo de seu valor adicionado em 9,7%.
O levantamento do IBGE não permite separar os segmentos de bancos, seguros e previdência complementar, o que dificulta um comparativo do setor estritamente bancário com o crescimento no primeiro semestre do ano passado.
A participação dos salários cai
Como a tabela da Febraban mostra, o valor destinado aos acionistas dos bancos registrou um extraordinário aumento real de 74,9%, enquanto os gastos com salários cresceram apenas 18,8%. Ou seja, o crescimento do valor pago aos donos do capital é quatro vezes superior ao crescimento do montante pago aos donos da força de trabalho (18,8%), os trabalhadores.
O que significa que piorou o quadro da distribuição de renda do setor bancário, com redução da renda do trabalho e a ampliação da renda do capital. Sobre isso, os dados são reveladores. Pois, além de divulgar e identificar o valor da riqueza gerada por uma empresa, o valor adicionado revela também como essa riqueza foi distribuída entre aqueles que contribuíram, direta ou indiretamente, para a sua geração.
Além disso, os dados do Relatório Social da Febraban mostram que da riqueza gerada pelo setor bancário em 2007 os trabalhadores viram a participação de sua renda reduzida de 39,6% para 33,2% da riqueza. Enquanto os donos do capital (investidores) ampliaram sua participação de 34,4% para 42,5%. O governo, por sua vez, também viu sua fatia (impostos) sendo reduzida de 25,9% para 24,3% da riqueza do setor bancário.