Bancos brasileiros não respeitam trabalhadores nos demais países

A atuação do BB e do Itaú nos demais países da América Latina é marcada pela diferença de tratamento dispensada aos trabalhadores. Enquanto no Brasil a Convenção Coletiva de Trabalho os obriga a cumprir uma série de obrigações, em países como Paraguai, Chile e Colômbia a realidade é bem pior.

Além de alguns problemas comuns, como cobrança de metas abusivas e assédio moral, os bancários destes bancos nos demais países sofrem mais. Por exemplo, tanto o BB quanto o Itaú não pagam PLR aos empregados das operações internacionais, já que não há legislação local ou acordo que garanta este direito. Uma das reivindicações dos sindicalistas dos dois bancos é que a PLR seja paga a todos os empregados dos dois grupos, em moldes semelhantes ao que ocorre no Brasil. Afinal, se o lucro do banco é resultado da atuação em todas as bases, por que distribuir lucro apenas aos bancários brasileiros?

Fortalecer a organização dos empregados dos bancos em outros países também está entre os objetivos traçados pelos sindicalistas reunidos na 11ª Reunião das Redes Sindicais de Bancos Internacionais. No BB, a tarefa é apoiar os funcionários do banco no Chile, que ainda estão em situação de fragilidade.

No Itaú, o principal esforço será junto aos empregados do CorpBanca, um dos maiores bancos do Chile, que está em processo de incorporação pelo grupo brasileiro. As conversações estão avançadas, com cronograma prevendo a conclusão do processo em meados de 2016. Mas o Itaú quer apressar o andamento e está oferecendo maiores vantagens aos acionistas do banco chileno. Entre os bancários – inclusive os da operação do CorpBanca na Colômbia – o sentimento é de incerteza, já que não foi feito nenhum anúncio sobre o futuro do corpo funcional. A Rede Sindical do Itaú assumiu como tarefa colaborar com os sindicatos de empregados do CorpBanca para minimizar os impactos da fusão sobre os trabalhadores.

O Itaú também está pressionando os funcionários nos outros países a assinarem acertos internos que burlam os acordos coletivos. É o Pacto Coletivo, que, apesar do nome, tem caráter individual – cada bancário tem que assinar. Caso concorde e assine, o bancário abre mão da cobertura pelo acordo da categoria e passa a negociar diretamente com o banco os termos de seu contrato de trabalho. Além de ser uma clara violação da liberdade sindical, o pacto traz para o trabalhador um novo problema: como o documento prevê o cumprimento de metas, caso o bancário não atinja os objetivos definidos pelo banco o contrato pode ser anulado, o que resulta em sua demissão.

A discriminação de gênero também é um problema no Itaú nos demais países da América Latina. Na Argentina, por exemplo, as mulheres são 40% da força de trabalho do banco, mas estão concentradas nos call centers, onde são 90% dos funcionários. Como o setor de teleatendimento tem remuneração mais baixa e condições de trabalho muito piores, a situação das bancárias é muito inferior à dos colegas do sexo masculino. Com isso, a segunda questão da diferença de tratamento, que é a possibilidade de ascensão profissional, é ainda mais crítica.

Tanto na rede do Banco do Brasil quanto na do Itaú um dos objetivos é a uniformização dos acordos e foi acordada a realização de reuniões de trabalho com esta finalidade. Os integrantes da rede do BB pretendem, inclusive, realizar um seminário sobre o papel dos bancos públicos, já que as operações internacionais da empresa em nada se parecem com o que se espera de um banco estatal. Se, no Brasil, a gestão do BB se assemelha à de um banco privado, no exterior esta orientação é ainda mais nítida, com muitos prejuízos para os empregados.

Os membros das redes sindicais dos dois bancos identificaram a necessidade de contato mais frequente e definiram uma série de medidas para facilitar a troca de informações. Ficou acertado que serão feitas reuniões periódicas e abertos canais de comunicação que permitam estreitar o contato entre os trabalhadores.

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