Valor Econômico
Cristiane Perini Lucchesi
Após a compra de 70% da corretora do banco de capital português Banif no Brasil, a Caixa Geral de Depósitos (CGD), controlada 100% pelo governo de Portugal, não descarta aquisições de outros ativos que “tenham afinidades com a estratégia do banco no Brasil”, diz Deborah Stern Vieitas, presidente do banco no país.
Uma das possibilidades seria a compra de gestoras de recursos de terceiros, atividade na qual a CGD pretende entrar, inclusive com a criação de fundos de investimento para pessoa física. A CGD avalia até mesmo comprar outros bancos no país, diz a executiva. “Estamos olhando tudo com muita calma, pois nossa tarefa prioritária agora será integrar a corretora do Banif”, afirma a executiva.
O conselho mundial do banco aprovou ainda a abertura de uma filial no Rio de Janeiro, no início de 2011, que já ficará sob os cuidados de Maria Izabel Aboim – ex-chefe do departamento de captação da área financeira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Teremos muitos investimentos em infraestrutura no Rio e queremos estar próximos dos nossos clientes por lá”, diz a Deborah.
Segundo ela, o mandato para novas compras de bancos ou gestoras de recursos no Brasil se mantém, apesar da crise da dívida na Europa, que está pegando em cheio Portugal. “As incertezas nas economias europeias trazem obstáculos, como o aumento nos custos de captação, mas só deixaram mais claro para a CGD que o lugar para investir é fora de Portugal”, afirma Deborah.
Desde abril de 2009, quando inaugurou um banco de atacado no país, a CGC já trouxe R$ 529,5 milhões para o Brasil, incluindo os R$ 129,5 milhões da corretora, e precisa agora colocar esse capital para trabalhar. “O Brasil tem sido privilegiado em termos de crescimento na Caixa”, afirma.
Espaço para crescer o banco tem: o índice de alavancagem – Basileia (relação entre capital e ativos ponderados pelo risco) – no Brasil estava em 56,14% no fim do terceiro trimestre, após a integralização de R$ 138,5 milhões, que elevaram o capital social da instituição financeira para R$ 412 milhões. “Com nosso patrimônio no país, temos ampla capacidade de gerar ativos em reais”, diz a executiva. No mundo todo, o capital da CGD chega a ? 7,2 bilhões.
Por enquanto, o banco vem focando sua atuação no atendimento a seus clientes, principalmente empresas portuguesas e espanholas, com presença no Brasil. Também tem dado especial atenção a grupos brasileiros com negócios em países nos quais o banco tem forte presença – além da Península Ibérica, o grupo atua em diversos países da África, com bancos comerciais e até em parcerias com governos em bancos de desenvolvimento, na China e Índia. Tem presença em mais de 24 países.
Com a aquisição de 70% da corretora do Banif, anunciada em junho mas ainda não aprovada pelo Banco Central, a ideia é crescer sua participação no mercado de coordenação e distribuição de emissões de ações no país, se aproveitando de sua rede internacional de distribuição junto aos investidores pessoas físicas e institucionais.
No Brasil, a corretora do Banif é a quarta maior no segmento de “home broker”, o atendimento às pessoas físicas, segundo o ranking da BM&FBovespa, girando R$ 25,646 bilhões de janeiro a outubro.
Dessa forma, com a corretora do Banif, a CGD faz uma primeira aproximação com as pessoas físicas no Brasil. A ideia é aprofundar essa relação, criando uma área de gestão de recursos de terceiros para investidores institucionais e pessoas físicas “qualificadas”, que queiram investir valores superiores a R$ 300 mil.
A CGD tem a Caixa Gest, especializada nessa atividade de gestão de recursos, que administra ativos de mais de ? 45 bilhões no mundo todo, diz Deborah Stern Vieitas. No país, a ideia é focar inicialmente a atuação junto à grande comunidade de portugueses e descendentes, inclusive com a realização de transações de ordens de pagamento de câmbio de valores superiores ao total de US$ 50 mil.
No futuro, o banco quer criar fundos de investimento para a pessoa física e para grandes investidores institucionais, explica a executiva.