Valor Econômico
Assis Moreira, de Genebra
Para preservar sua posição competitiva no mercado português, onde detém 20% de fatia do mercado bancário, o Banco Espírito Santo (BES) está sendo empurrado a se expandir no exterior e reforçar o apoio à internacionalização de companhias portuguesas.
É nesse cenário que o banco abre o capital de sua recém-criada holding BES África para o Bradesco e o Banco do Brasil. Não foram divulgados o preço de venda nem as percentagens de participação, mas o banco português diz que manterá o controle da holding africana.
Para o analista Andre Rodrigues, do Caixa Banco de Investimentos, a presença do Bradesco e do Banco do Brasil será “muito positiva para o BES, à medida que, além dos recursos captados com a alienação de parte do BES África, deverá traduzir-se num aumento significativo da capacidade de investimento da holding no mercado africano e alargar a base potencial de clientes (empresas), sobretudo brasileiras, que pretendam iniciar ou reforçar as suas atividades na África”.
O BES é o mais antigo banco privado de Portugal, com mais de 140 anos, forte influência no país e gestão conservadora. A familia Espírito Santo tem 42% de controle direto do grupo, o banco francês Credit Agricole, 10%, o Bradesco 6%, e fundos de pensão da Portugal Telecom cerca de 3%.
É um gigante financeiro no mercado doméstico, mas tem peso médio na região ibérica e de pouca relevância na cena bancária europeia. Seu valor de mercado é de ? 4,4 bilhões, comparado a US$ 78,6 bilhões do espanhol Santander e US$ 88 bilhões do Itaú Unibanco. Seus ativos totais alcançavam ? 84,8 bilhões ao final de junho.
Nos últimos cinco anos, mesmo com a crise financeira e econômica global, o BES diz que continuou a ampliar suas atividades. As operações internacionais ganharam importância, representando 19% do total dos créditos e 35% dos ganhos. O crescimento do banco vem cada vez mais do estrangeiro.
Este ano, o ambiente é difícil em Portugal, com taxa de juros baixa, estagnação econômica e maior custo de funding e taxas. Isso deve provocar queda de 33% nos lucros. No entanto, as atividades em Angola e Portugal devem render 15% a mais por ano até 2013, de acordo com cálculos de analistas.
Basta ver que no primeiro semestre a área internacional do BES contribuiu com 34% do lucro liquido, comparado a 18% em 2006. As subsidiárias no exterior renderam 34% a mais de janeiro a junho, enquanto as operações em Portugal caíram 22% no rastro da recessão europeia.
O “triângulo estratégico” das operações do banco é Ibéria-Brasil-África. Na Espanha, por ser o principal parceiro comercial de Portugal e para onde 4 mil empresas portuguesas exportam. Na África, o maior foco é Angola, com enorme crescimento econômico, estimado este ano em quase 10%. A subsidiária do BES deu lucro de ? 90 milhões no ano passado e os ativos chegam a ? 4,5 bilhões.
Recentemente, o BES comprou 25% do Moza Banco, de Moçambique, por ? 10 milhões. Ampliou presença no Norte da África, adquirindo 40% do Aman Bank, da Líbia, por ? 39,8 milhões, para acompanhar empresas portuguesas. Negocia parceria com um banco na África do Sul. E ampliou presença em Argélia e Marrocos.
O Brasil gera 5% do lucro total do banco português. Foram 27,1 milhões em 2009, vindos do banco de investimento e da participação de 4% no Bradesco. Os ativos totais no país são de ? 1,6 bilhão. O faturamento cresceu 89% entre 2008 e 2009, enquanto era negativo na Espanha, por exemplo. A expectativa é de expansão dos negócios, diante de investimentos planejados em infraestrutura e o potencial de internacionalização do país. O BESI, o banco brasileiro, este ano emitiu US$ 500 milhões em títulos no exterior, “confirmando a capacidade do país de atuar como funding pool”.
Além disso, o BES comprou 51% do Execution Noble, banco de investimento britânico com atuação tambem nos EUA, Índia, Hong Kong e Alemanha. E busca licença para operar em Hong Kong, Venezuela e México.
Em Portugal, o BES se caracteriza também pela proximidade com o poder político. Vários ministros saíram de seus escritórios, assim como ex-ministros tomam o rumo do banco. O BES África, por exemplo, é dirigido pelo ex-ministro de Economia Manoel Pinto, para juntar as atividades do banco no continente.
Além de maciça participação nos financiamentos a empresas portuguesas, com mais de 25% de fatia desse segmento, o banco tem também participações diretas. É o maior acionista individual da Portugal Telecom, com 7,9%, que recentemente vendeu sua parte na Vivo por ? 7,5 bilhões para a Telefônica. Tem 2% na EDF, empresa de energia com capitalização de mercado de ? 10 bilhões, além de 4% no Bradesco.
Seu presidente, Ricardo Salgado, colocou seu peso na venda da Vivo para os espanhóis, ameaçando até com a venda de sua participação no grupo português. Sinalizou que o banco precisaria se enquadrar no novo Acordo de Basileia 3, de capital mínimo dos bancos. Deixou clara a preocupação com o aumento do colchão de capital do banco, precisando levantar um bom volume de recursos no mercado a partir de 2012. O índice de capitalização é de 11%.
O analista Carlos Peixoto, do Banco Português de Investimentos (BPI), diz que o BES tem capital sólido e nenhuma preocupação de liquidez. “O BES combina o melhor ativo de qualidade e os mais elevados colchões de provisões em nossas pesquisas de bancos ibéricos”, diz. A necessidade de refinanciar suas próprias dívidas chega a ? 9,7 bilhões nos próximos dois anos, que estão inteiramente cobertas.