Banco Espírito Santo avalia vender ações que possui no Bradesco

Valor Econômico
Cristiane Perini Lucchesi

O português Banco Espírito Santo avalia vender sua participação de 3,55% no capital total (7,10% no votante) do Bradesco para fazer caixa e enfrentar a sua crescente dificuldade de captação por causa da crise da dívida do governo de Portugal.

O rebaixamento da nota de crédito daquele país tem levado os bancos portugueses a um aperto de liquidez e tornado essas instituições pouco competitivas em relação aos seus parceiros de países de menor risco.

O valor de mercado do Bradesco, ontem, era de aproximadamente R$ 110,5 bilhões, e os 3,55% chegariam a R$ 3,9 bilhões. Não está decidido ainda se a participação iria ao mercado ou se o próprio Bradesco poderia comprar parte dela ou toda ela. Os recursos poderiam ser usados em investimento no próprio Brasil, onde as perspectivas de crescimento são maiores do que em Portugal.

Procurado, o Bradesco não quis se pronunciar. O Banco Espírito Santo de Investimentos no Brasil também não comentou e disse que uma posição viria de Portugal. A assessoria de imprensa do BES em Portugal não respondeu aos e-mails enviados.

O BES, com sede em Lisboa, é o segundo maior banco comercial privado de Portugal e está presente em 18 países e quatro continentes. Segundo relatório dos resultados do BES no ano passado, “o agravamento do risco soberano teve repercussões na carteira de certificados de depósitos vendidos a clientes internacionais, determinando uma diminuição de 7,6% nos recursos totais de clientes”. Com menos recursos disponíveis, a matriz reduziu ativos em ? 4 bilhões por meio da venda de carteiras.

O resultado do grupo BES em 2010 foi de ? 510,5 milhões, queda de 2,2%. No Brasil, o banco teve lucro de R$ 71,1 milhões, 24,5% inferior ao resultado de 2009, quando a volatilidade dos mercados ajudou a impulsionar as receitas de tesouraria.

No início deste ano a dificuldade de captação cresceu para a instituição financeira, com a crise em Portugal se aprofundando. No dia 15 de abril o prêmio de risco de crédito do BES medido pelo swap de crédito (“credit default swap”) de vencimento em cinco anos chegou a 576,83 pontos básicos, na comparação com os 74,33 pontos básicos do J.P. Morgan, um dos bancos com menor risco de crédito no mundo hoje.

Analistas de mercado acreditam que uma das alternativas de capitalização para o BES seria uma injeção de recursos da família controladora.

Além do BES ter participação no Bradesco, o banco brasileiro também tem uma participação no BES em Portugal. Os principais acionistas, o Espírito Santo Financial Group e o Crédit Agricole detêm, por meio da Bespar, 40% do capital do BES. Adicionalmente, o francês Crédit Agricole detém participação direta de 10,81%. O Bradesco, por meio da Bradport, e o grupo Portugal Telecom detêm participações de 6,05% e 2,62%, respectivamente. O total de ações nas mãos do mercado está em torno de 40,52%.

O Bradesco virou parceiro do BES ainda em 2000, quando o brasileiro comprou o antigo banco Boavista, onde os portugueses foram sócios do grupo Monteiro Aranha e do banco francês Crédit Agricole. O Espírito Santo perdeu muito dinheiro com o Boavista e a família que controla o grupo não se lembra da experiência com alegria.

Em agosto do ano passado, o Banco do Brasil e o Bradesco anunciaram uma parceria com o BES para atuação na África. Em Angola, o português tem 30 agências, na Líbia, 20 agências, em Cabo Verde acaba de abrir uma sede, além de participações em outras instituições na Argélia, no Marrocos e em Moçambique, entre outros.

No Brasil, o BES atua no atacado e como banco de investimento. Terminou 2010 com uma carteira de R$ 1,350 bilhão, incluindo garantias. O número de clientes portugueses no país cresce, pois a escassez de crédito em Portugal e o cenário econômico conturbado têm contribuído para aumentar o fluxo de empresas querendo fazer negócio no Brasil. “Toda semana aparece uma ou duas de médio porte batendo à nossa porta”, contou em entrevista recente ao Valor Ricardo Espírito Santo, presidente do BES Investimento no Brasil.

No total, a área internacional do BES (atividade fora de Portugal) contribuiu para o resultado consolidado com 40%, um aumento na comparação com os 34% de 2009. A estratégia de internacionalização vem sendo adotada há anos e deve se intensificar neste ano.

Para ampliar sua liquidez, o BES tem tomado recursos no Banco Central Europeu. No fim de 2010, eram ? 3,9 bilhões, uma redução de ? 2,1 bilhões na comparação com junho de 2010. O banco reduziu ativos e conseguiu manter seu índice de alavancagem (Basileia) total de 11,3%.

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