Banco do Brasil estuda a compra de cinco instituições financeiras

Folha de São Paulo

SHEILA D’AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além de já ter emprestado R$ 600 milhões nas duas últimas semanas a bancos com problemas, o Banco do Brasil estuda, segundo a Folha apurou, a compra de cinco instituições menores que atuam nas áreas de crédito consignado e empréstimo direto a empresas para capital de giro.

A atuação do BB na ajuda aos bancos vem sendo feita porque a linha de socorro financeiro criada no início do mês pelo Banco Central, o chamado redesconto, tem muitas exigências e dá um grande poder ao BC, segundo avaliação do mercado financeiro.

Como preferiram não recorrer à ajuda direta do BC (nenhuma instituição usou ainda o redesconto), os bancos que precisavam de dinheiro e não estavam conseguindo os recursos com o setor privado acabaram pegando empréstimos com o Banco do Brasil, que recebeu como garantia a carteira de crédito. Na prática, essa operação é similar ao redesconto do Banco Central, só que com menos exigências.

Os bancos que lutam para sobreviver à falta de dinheiro para as operações diárias no mercado já dão sinais de que não aguentarão por muito tempo os efeitos da crise atual, e os executivos do BB estão avaliando o interesse neles. Como é uma empresa de capital aberto, o Banco do Brasil terá que informar ao mercado se as sondagens iniciais avançarem para uma proposta concreta.

Oficialmente, o BB nega que esteja comprando algum outro banco. O vice-presidente de Finanças, Aldo Luiz Mendes, afirmou que não há nenhuma negociação além das que já foram anunciadas: a Nossa Caixa e o BRB (Banco de Brasília), ambos estaduais.

O BB tem participado de forma ativa no socorro de instituições de menor porte. Até agora, segundo Mendes, o banco já comprou R$ 3 bilhões em carteiras de crédito, sendo que 20% desse total, R$ 600 milhões, foi em operações semelhantes ao redesconto.

Outros R$ 3 bilhões estão em análise, mas o executivo não detalhou se serão usados em compra direta ou empréstimos. Fora isso, o BB tem mais R$ 5 bilhões, liberados dos compulsórios, que podem ser usados em outras transações, como a compra de bancos.

No último dia 6, o governo editou a medida provisória 442 ampliando as garantias que o BC poderia aceitar nas operações tradicionais de redesconto, os empréstimos concedidos para quem não consegue se financiar com outros bancos. A MP foi batizada, pela oposição, de Proer do Lula justamente porque permite ao governo salvar o banco em dificuldade e vender os ativos no mercado.

A regulamentação dessa medida deu poderes totais ao BC sobre a instituição socorrida. Pela regra, o BC pode impor aporte de recursos, restrição de limites para operação, suspensão de distribuição de lucros e até de bônus de executivos, além de poder vedar a exploração de novos negócios.

Segundo a Folha apurou, com isso, o redesconto -que nunca foi bem visto no mercado- passou a ser um sinal de desespero total. Para não passar essa sinalização ao mercado, os bancos que precisam têm evitado o Banco Central e procurado alternativas.

O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal têm sido uma das opções. A Caixa, por enquanto, comprou carteiras de crédito, segundo o vice-presidente de Finanças, Márcio Percival. Além de aquisições diretas, no acordo feito com pelo menos duas instituições, o banco se comprometeu a comprar créditos que serão concedidos nos próximos 24 meses.

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