Carolina Mandl
Valor Econômico
O Banco Central multou o BicBanco em junho por avaliar que existem problemas na gestão da carteira de crédito do banco, que soma R$ 11,6 bilhões. A informação consta da atualização de um documento público entregue à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na quinta-feira da semana passada.
Segundo o banco, uma multa de R$ 200 mil foi aplicada pela autoridade em 7 de junho de 2013. Alguns administradores do BicBanco também receberam punições que vão de R$ 25 mil a R$ 200 mil.
O BicBanco afirma no documento que o Banco Central entendeu que “a gestão da carteira de crédito da instituição teria sido em desacordo com as práticas de boa gestão e segurança operacional”.
A autoridade também avaliou, de acordo com o banco, que não foram implementadas “medidas apropriadas para garantir o bom funcionamento dos sistemas de controles internos”.
O BicBanco e seus administradores vão recorrer da multa do Banco Central por meio de um processo administrativo. “Não há fundamento válido para a aplicação de tais sanções”, diz a instituição financeira no documento entregue à CVM.
Ainda em junho, antes que a multa do Banco Central se tornasse pública, o preço dos títulos de dívida externa do BicBanco começou a desabar. Os títulos subordinados com vencimento em 2020 chegaram a valer cerca de 60% de seu valor de face, e os que vencem em 2015 caíram para 86%.
No início de agosto, na tentativa de demonstrar confiança aos investidores, o BicBanco anunciou a recompra de parte de seus bônus seniores e subordinados. Após essa sinalização, os papéis voltaram a se valorizar. Na tarde de sexta-feira, o título de 2020 era negociado a cerca de 84% do valor de face, e o de 2015, a 91,94%.
As ações do banco também apontam uma rota de desvalorização. Desde junho, os papéis preferenciais tiveram queda de 20,2%, enquanto o Ibovespa ficou praticamente estável.
Procurado pela reportagem para detalhar o motivo da punição feita no BicBanco, o Banco Central disse que “não se manifesta sobre qualquer processo administrativo antes de decisão final no âmbito administrativo ou sobre qualquer outro procedimento em relação às entidades reguladas”. O BicBanco também informou que não se pronunciaria sobre o caso.
Atas de reunião do conselho de administração do banco mostram que o tema controle de risco tem sido alvo de discussões internas. Em agosto, o banco identificou “algumas fragilidades no processo de gestão de riscos”, determinando que a diretoria aprimorasse os controles internos. “Após uma evolução dos riscos dos últimos semestres e respectivas notas atribuídas, discutiu-se o plano de ação”, diz a ata. “Todavia, no geral, não foram identificadas lacunas graves.”
Tem chamado a atenção de investidores e analistas a evolução das despesas do banco com créditos de má qualidade. Em 2011 e 2012, essas provisões somaram cerca de R$ 500 milhões por ano, quase o dobro de 2010, apesar do crescimento mais modesto dos empréstimos. Em reunião feita em agosto, os conselheiros também determinaram a revisão dos pagamentos de juros sobre capital próprio. O objetivo, diz o BicBanco, é alinhá-los a resultados do banco.
Desde o ano passado, a distribuição de resultados tem superado o próprio lucro líquido do BicBanco. Neste ano, os acionistas receberam até junho R$ 57 milhões, sendo que o banco lucrou R$ 16,7 milhões.