Carolina Mandl
Valor Econômico – São Paulo
O Banco Central (BC) quer estimular o barateamento das operações de transferência de recursos via DOC, num momento em que os bancos se preparam para extinguir o valor mínimo para realização de Transferências Eletrônicas Disponíveis (TED). Para o regulador bancário, o DOC é uma ferramenta de custo mais baixo para as instituições e mais eficiente em termos de gestão de liquidez.
Apesar de não determinar os valores que devem ser cobrados pelos bancos, o BC estima que a tarifa de um DOC pode ser cerca de 50% inferior àquela cobrada pela TED. Depois de a TED ter sido lançada com tarifas mais caras, hoje não há diferença tarifária para o DOC, com custo em torno de R$ 14 para operações feitas no caixa ou R$ 8 se realizadas eletronicamente.
Reportagem publicada pelo Valor no começo deste mês mostrou que, até o fim de 2015, os bancos devem acabar com o valor mínimo para a realização de TED, hoje fixado em R$ 1 mil. Pela TED, os recursos são transferidos de uma conta a outra no mesmo dia, enquanto no DOC o dinheiro demora um dia para ser creditado.
A expectativa da autoridade, porém, é que as pessoas continuem usando o DOC. “Os custos para os bancos [de uma TED e de um DOC] são completamente diferentes”, diz Daso Maranhão Coimbra, chefe do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos do BC. “A ideia é que as pessoas tenham uma opção conforme a urgência que se tem para fazer a transação.”
O apelo ao bolso do consumidor também traz vantagens para os sistemas dos bancos. Os DOCs são processados à noite, período de menor sobrecarga às plataformas tecnológicas. Isso significa que, se as transações ficarem mais espalhadas ao longo do dia, os bancos podem fazer um mesmo volume diário de operações sem ter de investir em sistemas que suportem um período de pico.
Para o BC, o DOC também favorece a liquidez dos bancos. Como é feito de um dia para o outro, esse tipo de transação permite que apenas os valores líquidos transitem entre as contas. Por exemplo: se o banco A precisa transferir R$ 100 para o banco B, mas o banco B deve R$ 80 para o banco A, só haverá uma transferência de R$ 20.
Coimbra, do BC, não faz uma previsão de como deve ficar a distribuição das transferências no Brasil entre DOCs e TEDs. “Isso vai depender do custo das tarifas e da preferência dos clientes.”
No ano passado, foram compensados no sistema R$ 190,8 bilhões em DOCs, num total de 256,8 bilhões de operações, segundo dados da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), que processa as operações. É esse volume que pode migrar para a TED, que movimentou R$ 13,6 trilhões em 2013, com 199,7 milhões de transferências.
A extinção de um valor mínimo para a TED representa o fim da reformulação do Sistema de Pagamentos Brasileiro, que começou a ser implementado há 12 anos.