Valor Econômico
Vanessa Adachi e Aline Lima
O BTG Pactual pretende fazer um investimento estratégico no PanAmericano – e não uma transação da sua área de private equity – e planeja transformar o banco de Silvio Santos numa plataforma de negócios completamente independente do próprio BTG. Contará com a forte parceria da Caixa Econômica Federal, que manterá sua fatia de 36,56% do capital total (49% do votante) e a condição de co-controladora que assumiu ao investir R$ 740 milhões no ano passado, antes que viesse à tona a fraude contábil revelada em novembro.
Os planos ainda não estão detalhados, mas o PanAmericano poderá ser um canal para o BTG acessar empresas de médio porte (middle market), financiamento ao consumo e também o financiamento imobiliário com produtos fora do SFH, que já é operado pela Caixa. O BTG, controlado por André Esteves, recebeu em dezembro um aumento de capital de US$ 1,8 bilhão feito com recursos de alguns dos principais fundos soberanos da Ásia e do Oriente Médio, além de famílias ricas.
Ontem estava prevista uma reunião do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, com os membros do Fundo Garantidor de Créditos. A autoridade monetária queria se assegurar de que a troca de controle do PanAmericano fosse anunciada hoje pela manhã para evitar um estresse maior no sistema bancário.
Mesmo que a venda do controle seja anunciada hoje, o balanço do terceiro trimestre do PanAmericano só deve sair dentro de alguns dias, dada a complexidade para se fechar todas as contas. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é mantida informada.
Não por acaso, os principais banqueiros do país envolveram-se pessoalmente nas conversas na última sexta-feira e estiveram reunidos na sede do Fundo Garantidor, em São Paulo.
O Banco do Brasil, comandado por Aldemir Bendine, o Bradesco, presidido por Luiz Carlos Trabuco Cappi, e o Itaú Unibanco, de Roberto Setubal, são os principais credores do PanAmericano, na condição de compradores das carteiras de crédito da instituição. São cifras bilionárias. Ao mesmo tempo, são os principais cotistas do FGC e, com risco de amargar perdas bilionárias nas duas frentes, terminaram por concordar com nova operação de salvamento do banco até então controlado por Silvio Santos.
A operação, contudo, deixa gosto amargo na boca da banca nacional. A irritação com o empresário dono da rede de TV SBT é grande. Silvio relutou em aceitar a existência do novo rombo. Desde novembro o PanAmericano é dirigido por uma equipe indicada pela Caixa e o empresário ficou isolado da gestão.
Silvio Santos não aparecia na sede do Fundo Garantidor de Créditos, localizada no bairro de Pinheiros, em São Paulo, desde novembro do ano passado, quando veio à tona a existência de um rombo bilionário em seu banco. Foi obrigado a retornar ao FGC semana passada. Na quinta-feira, permaneceu lá aproximadamente das 18 horas às 21 horas.
As pessoas que trabalham no edifício comercial sequer desconfiavam que a visita de urgência do empresário e apresentador envolvia a apuração de novas perdas no PanAmericano, que agora já somam cerca de R$ 4 bilhões. Silvio Santos estava sorridente e até tirou foto com uma funcionária do tradicional escritório de advocacia Demarest e Almeida, situado no mesmo edifício. Ao ouvir que a foto não havia saído tão boa por um problema na máquina, ainda brincou com a fã: “Então conserte até amanhã que estarei aqui de volta”.
Mas Silvio não voltou na sexta. Mesmo assim, o dia foi ainda mais movimentado no FGC. Quase todo o PIB bancário do país esteve por lá. Ainda pela manhã, Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), e Márcio Percival, presidente da CaixaPar, entraram para discutir as saídas para o banco do qual a Caixa se tornou sócia no ano passado.
Ficaram por cerca de uma hora, até pouco antes de 11h. Enquanto saíam, chegavam, em carrões pretos, os principais banqueiros privados do país, os grandes “acionistas” do FGC. Primeiro Luiz Carlos Trabuco Cappi, acompanhado de Lázaro de Mello Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco. Logo em seguida, Roberto Setubal. A reunião, dessa vez, foi um pouco mais longa e durou cerca de duas horas e meia.
André Esteves, do BTG, apareceu no sábado, já para negociar as condições da compra do PanAmericano. Foi acompanhado de José Acar, ex-vice-presidente do Bradesco e atualmente um sócio do BTG, um grande entendido do negócio do varejo bancário. Silvio Santos mais uma vez não foi e esteve representado por advogados. As conversas se estenderam das 15h30 até quase 19 horas sem que tivessem sido conclusivas. Terminaram em impasse e foram retomadas ontem.