Com faixas, placas e balões, o Sindicato dos Bancários de Brasília percorreu nesta sexta-feira (13) todos os bancos do Setor Comercial Sul (SCS) reivindicando a inclusão de negros, negras e pessoas com deficiência no mercado de trabalho, especialmente nas instituições financeiras. A atividade fez parte do Dia Nacional de Luta contra a discriminação nos bancos, promovido pela Contraf-CUT, realizado em todo o país. A data marca a Abolição da Escravatura no Brasil, com a assinatura da Lei Áurea em 1888.
“A discriminação ainda é gritante dentro dos bancos. Um exemplo são os negros e mulheres que têm a mesma qualificação e escolaridade que os brancos mas recebem salários menores. Vale destacar a situação dentro do Itaú Unibanco. Além de contratar poucos negros, ainda trata clientes de maneira diferenciada: há agência para ricos e agência para pobres”, frisa Rodrigo Britto, presidente do Sindicato, numa referência ao tratamento dispensado entre as agências “comuns” do Itaú Unibanco e as do Itaú Personnalité.
“Estamos lutando para que os bancos saiam do discurso e pratiquem realmente a igualdade de oportunidades. Lutamos pela responsabilidade social de fato”, completa André Nepomuceno, secretário-geral do Sindicato.
O caderno Construindo a Igualdade de Oportunidades, divulgado pela Contraf-CUT, confirma a discriminação no ramo financeiro. Segundo a publicação, que traz números do Mapa da Diversidade, pesquisa feita com quase metade da categoria, os negros e as negras ocupam apenas 19% das vagas no setor no Brasil. No Distrito Federal, as mulheres negras representam apenas 12% do corpo funcional. Quanto à remuneração, na região Centro-Oeste os brancos recebem em média R$ 4.142 e os negros, com igual qualificação, R$ 3.614.
“Nos bancos públicos a situação não é muito diferente. Apesar dos funcionários ingressarem por meio de concurso, eles não conseguem ascensão na carreira. O Banco do Brasil é um exemplo: não há negros e nem mulheres na direção”, afirma Eduardo Araújo, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB e diretor do Sindicato.
A estudante universitária Joseane Mota passava pelo SCS quando viu a manifestação e deu o seu apoio. “Eu sou negra e já fui discriminada em várias entrevistas de trabalho. Diziam que já tinham preenchido a vaga e no outro dia a placa de procura-se continuava lá. Temos que fazer a nossa parte para que essas situações acabem”, diz.
Durante a atividade, os diretores do Sindicato também protestaram contra a falta de valorização dos bancários e as demissões. “Só em maio, o Itaú Unibanco demitiu 1.000 funcionários em São Paulo e hoje mesmo recebemos a notícia de um bancário negro demitido em Brasília depois do término da licença-saúde. Ele já tinha 16 anos de empresa e simplesmente foi dispensado, sem justificativa”, conta Washington Henrique, diretor do Sindicato.
Preservação da cultura brasileira
Além da promoção de atos como o desta sexta-feira, o Sindicato também está envolvido em iniciativas que preservam e resguardam a identidade brasileira. No último dia 12 de maio, diretores da entidade foram conhecer o Povoado Mesquita, quilombo localizado na Cidade Ocidental, região do Entorno do DF a 60 km de Brasília. A área foi reconhecida como quilombo em 2006. Lá residem 751 famílias cadastradas na Associação Renovadora dos Moradores e Amigos do Mesquita (Areme).
Sandra Pereira pertence à quarta geração de quilombolas da família. Ela nasceu e cresceu no Mesquita. Atualmente presidenta da Areme, ela fala da importância da preservação das raízes e da história no local: “Nós só queremos manter a nossa cultura, as raízes da comunidade. A história dos meus antepassados me dá força para perpetuar e lutar por melhores condições para as famílias daqui”, afirma.
Os quilombolas da região ainda aguardam a homologação das terras dessa comunidade. A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados encaminhou uma comunicação aos órgãos ambientais de Goiás e da Cidade Ocidental informando que o território encontra-se em processo de regularização e que não pode ser objeto de licenças ambientais. O objetivo é impedir a autorização de licenciamento para empresas que querem desenvolver projetos de exploração econômica na área.
“Temos que oferecer nosso apoio para ajudar a melhorar as condições do povoado, que não conta com infraestrutura básica no ensino e saúde”, comenta Louraci Morais, secretária de Relações com a Comunidade do Sindicato.