Bancários querem discutir com Bradesco programa de retorno ao trabalho

Dirigentes sindicais debatem proposta do banco e apontam problemas

A Contraf-CUT promoveu na terça-feira (10) uma reunião da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Bradesco, na sede da entidade, em São Paulo, onde foram discutidas várias reivindicações dos trabalhadores em negociação com o banco. Estiveram em pauta questões como o programa de “reabilitação” profissional, auxílio-educação, acordo de ponto-eletrônico. O Dieese fez também uma análise do balanço de 2014.

A COE retomou o tema do retorno ao trabalho tomando por base a proposta elaborada e apresentada pelo Bradesco no ano passado. “O programa do banco, além de conter inúmeros problemas em relação às legislações vigentes, prioriza a adaptação do trabalhador ao local de trabalho e não prevê a mudança do ambiente estrutural e das condições de trabalho para receber o bancário que ficou afastado”, afirma Walcir Previtale, secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT.

“Nós já tivemos vários encontros com o banco sobre o tema e queremos continuar discutindo até que a proposta tenha como objetivo a saúde do trabalhador”, ressalta Elaine Cutis, diretora da Contraf-CUT e coordenadora da COE do Bradesco.

A reunião contou também com a participação da advogada Leonor Poço, assessora jurídica da Contraf-CUT e especialista em Saúde do Trabalhador.

Programa de “reabilitação” tem muitos problemas

Segundo Walcir, a proposta apresentada pelo Bradesco possui muitos problemas. Ele destaca:

– não está em sintonia com a Norma Internacional SA 8000, que inclui todos os requisitos para uma correta avaliação das condições do local de trabalho;

– fere a legislação nacional e internacional, especialmente quando desconsidera as Convenções da OIT das quais o Brasil é signatário;

– descumpre a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) por interferir no afastamento dos trabalhadores e não garantir a participação do sindicato e dos próprios trabalhadores no processo;

– reforça a “gestão dos atestados médicos” ao querer que as entidades sindicais assinem Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) permitindo ao médico do trabalho tal atribuição;

– não contempla nenhum mecanismo de controle do programa por parte dos sindicatos, CIPAs e dos próprios “reabilitandos”;

– reforça a questão da “readaptação” dos trabalhadores às condições de trabalho. O correto é a “readaptação” dos processos e organização do trabalho às condições do ser humano.

– não informa qual o universo de homens e mulheres farão parte do programa. Quantas pessoas são? Afastados ou não? Afastados por acidente do trabalho ou doença comum? Tempo de banco? Função? Classificação Estatística Internacional de Doença (CID) que ocasionou o afastamento?

A Contraf-CUT está solicitando uma reunião com o Bradesco para o começo de março para tratar do assunto. “Vamos elaborar um documento apontando todos esses problemas e protocolar junto ao banco”, destaca Walcir.

“A expectativa dos bancários é que o banco mostre disposição para corrigir essas distorções e possa junto com o movimento sindical construir um programa que dialogue com a realidade enfrentada por esses trabalhadores”, projeta o diretor da Contraf-CUT.

Lucro possibilita mais empregos e novas conquistas

Durante a reunião, o Dieese fez uma apresentação detalhada do balanço de 2014, frisando o lucro recorde de R$ 15,359 bilhões, crescimento de 25,9% em comparação com 2013.

Em relação ao terceiro trimestre, o Bradesco registrou alta foi de 4,6%, com lucro de R$ 4,132 bilhões. O retorno anual sobre o patrimônio líquido médio foi de 20,1% (2,1 pontos percentuais a mais do que em dezembro de 2013).

Apesar dos ganhos mais que satisfatórios, o banco fechou 4.969 postos de trabalho em 2014, andando mais uma vez na contramão da economia brasileira, que no ano passado gerou 396.993 novas vagas.

Conforme o Dieese, o número de empregados da holding em dezembro de 2014 foi de 95.520, contra 100.489 funcionários em dezembro de 2013 , representando uma queda de 4,9%.

“Não há justificativa para que o Bradesco, com esse lucro gigante, tenha fechado quase 5 mil postos de trabalho. Não vamos admitir esta postura do banco, que tenta ganhar ainda mais com a rotatividade dos bancários, quando demite um antigo funcionário para substituir por outro com salário menor. O banco tem todas as condições de gerar novas vagas e melhorar as condições de trabalho e de atendimento aos clientes”, ressalta Andrea Vasconcelos, secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT.

“Com todo esse lucro e as recentes mudanças estruturais, esperamos que o Bradesco mude também o processo de diálogo e de negociações específicas com o movimento sindical e passe a atender as demandas dos trabalhadores, como o auxílio-educação que há muitos anos estamos reivindicando”, aponta Elaine

Acordo de ponto eletrônico

A renovação acordo coletivo sobre sistema alternativo eletrônico de controle de jornada de trabalho também foi discutido. O acordo vence no final de fevereiro. A Contraf-CUT enviou nesta quinta-feira (12) orientações aos sindicatos para que realizem assembleias dos empregados do Bradesco até o dia 23.

“O banco está fazendo testes para que o ponto seja atrelado ao sistema, o que trará eficiência ao processo de trabalho. Infelizmente ainda há casos de colegas que batem o ponto e continuam trabalhando diante do excesso de serviços, o que não pode acontecer”, salienta Elaine.

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