Todo governo neoliberal, logo no seu começo, buscou acirrar o enfrentamento com o movimento sindical para demonstrar como a correlação de forças havia mudado, na perspectiva de dar uma “lição” de como seriam tratados os trabalhadores no novo governo.
Na Itália, o governo de direita conseguiu, pela primeira vez, quebrar e derrotar uma greve na Fiat, a maior indústria e concentração de trabalhadores do país, antes de poder se consolidar e impor seu programa neoliberal. Na Inglaterra, Margareth Thatcher quebrou e derrotou uma greve dos trabalhadores do carvão, como prova da sua força para implementar o modelo neoliberal.
Nos EUA foi uma greve dos controladores aéreos, duramente enfrentada e derrotada pelo governo de Ronald Reagan, que abriu o período neoliberal e lhe permitiu se consolidar como governo de direita.
No Brasil, a primeira grande greve que buscou enfrentar o Plano Real de Fernando Henrique Cardoso foi dos trabalhadores petroleiros e o governo tomou o movimento como uma prova da sua força. Tratou não apenas de derrotá-lo, mas de desmoralizá-lo e de quebrar o sindicato, com altíssimas multas. Um ministro daquele governo – que hoje faz parte da esquerda – chegou a declarar que ia enfrentar os grevistas como faz na sua terra, “dando umas porradas, depois eles vêm negociar”.
Foram sempre movimentos simbólicos que os governos neoliberais tentaram usar como escarmento, como punição para todos os trabalhadores e seus sindicatos. Foram momentos de virada na correlação de forças e na luta de classes, que apontaram para um período de defensiva e de quebra de direitos fundamentais dos trabalhadores.
O governo golpista de Michel Temer nunca escondeu seus objetivos de atacar a direitos fundamentais dos trabalhadores, seja na jornada de trabalho, seja nos salários e no nível de emprego. A própria Consolidação Geral do Trabalho (CLT) é questionada, quando se tenta impor o acordado sobre o legislado.
A própria nomeação de um personagem sinistro como ministro do trabalho, o deputado Ronaldo Nogueira (PTB-RS), confirma a decisão do governo golpista de aprofundar as condições de exploração da força de trabalho como um dos seus maiores objetivos. Baseiam-se na falsidade absoluta de que a recessão econômica é resultado do preço supostamente alto para a contratação da força de trabalho, o que seria combatido retirando direitos dos trabalhadores, um artifício que soaria como incentivo aos investimentos. Mentira que foi denunciada já nos governos Collor e FHC, quando a maior parte dos trabalhadores deixou de ter carteira assinada, mas nem assim aumentaram os investimentos dos empresários.
A mais longa greve geral dos bancários apontava para um primeiro grande enfrentamento entre o capital e o trabalho no país depois da instalação do governo golpista. A própria resistência dos banqueiros – os que mais ganham no Brasil de hoje – fazia prever sua vontade de ir para um enfrentamento em que acreditavam que poderiam impor uma grande derrota às organizações dos bancários. Para isso contavam com o governo golpista.
Mas a greve demonstrou uma força e uma extensão que surpreendeu aos banqueiros, que tiveram de ir revendo suas ofertas, retomando as negociações, ao contrário da sua disposição inicial. Até que o movimento, depois de se tornar a mais longa greve da categoria, conseguiu obter condições melhores, com a recuperação em 2017 do que não se obtém este ano, com outras conquistas mais, incluído o pagamento dos dias parados.
Aquilo que o governo golpista e suas políticas neoliberais pretendia que fosse uma derrota, um escarmento e um aviso para todos os trabalhadores, tornou-se seu oposto. Os bancários, seus dirigentes e suas organizações, conseguiram dobrar o braço dos banqueiros e sair vitoriosos da primeira grande greve no governo golpista. Serve como lição de como, com grande mobilização, capacidade de negociação e combatividade, se podem manter os direitos dos trabalhadores e seguir na luta, mesmo nas difíceis condições atuais..