Trabalhadores defenderam manutenção do carro-forte para transportar valores
Bancários e vigilantes rejeitaram o uso do malote inteligente para transporte de valores, durante audiência pública ocorrida na manhã desta quinta-feira, dia 1º, na Câmara Municipal de Recife. Os vigilantes, que lotaram totalmente o plenarinho da Casa, estavam vestidos com camisetas pretas, nas quais estava escrita a frase “malote inteligente desemprega, contamina e mata“.
A audiência pública foi presidida pelo vereador Romildo Gomes (DEM), que é presidente da Comissão de Meio Ambiente, Transporte e Trânsito, e discutiu o projeto de lei nª 36/2011, de autoria do vereador Maré Malta (PPS). O projeto, que já foi aprovado em primeira discussão, obriga “as instituições bancárias, os correspondentes bancários e as empresas transportadoras de valores a utilizar equipamentos de segurança no transporte e na guarda de moeda corrente, que inutilizem as cédulas em caso de abertura não autorizada do malote”.
Participaram dos debates o vereador Malta, o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr, o presidente da Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), José Boaventura dos Santos, a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Jaqueline Melo, e o presidente do Sindicato dos Vigilantes de Pernambuco, José Ignácio de Souza.
Também compareceram os vereadores Osmar Ricardo (PT), Amaro Cipriano Maguari (PDT); Alfredo Mariano (PSDC); Jadeval de Lima (PTN); Priscila Krause (DEM) e Vera Lopes (PPS). Ainda estiveram presentes o diretor do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, João Rufino, e o advogado do Sindicato dos Vigilantes de Pernambuco, Francisco de Assis Fragoso.
Da polêmica ao diálogo
Malta foi o primeiro orador a falar sobre o projeto. Diante das manifestações contrárias dos bancários e vigilantes, que ocorreram mesmo antes da audiência, ele disse que “ao elaborar o projeto o meu propósito era dar segurança à categoria dos vigilantes, que trabalham em condições adversas, arriscando a vida. O meu intuito, de propor o malote inteligente, era levar mais segurança através do uso da tecnologia”.
Mas, como houve muitas divergências, ele resolveu que o projeto que já está na fase de votação no plenário será recolhido para receber substitutivos nas comissões temáticas. “Sem ouvir os trabalhadores, jamais esse projeto irá prosseguir”, disse, sob o aplauso dos participantes.
Com esse posicionamento do vereador, a polêmica deu lugar ao diálogo. “Nós que fazemos o movimento sindical aprendemos que o diálogo é sempre a melhor alternativa”, disse Boaventura. Ele disse que o malote inteligente traz um efeito contrário às intenções iniciais do parlamentar.
“Nos países europeus que adotaram esse sistema, o resultado foi a exposição dos profissionais que transportam valores à violência e a componentes químicos. Na prática, o efeito foi desfavorável”, alertou Boaventura. O Brasil tem 800 mil vigilantes, entre os quais 25 mil transportam valores, sendo que 2 mil estão em Pernambuco.
Como o vereador decidiu rever o projeto, Ademir também reforçou o caminho do diálogo para construir um substitutivo que traga proteção à vida das pessoas e evite a precarização do transporte de valores, a insegurança e o desemprego. “A utilização de novas tecnologias, como o malote com jato de tinta ou com incinerador para destruir cédulas em caso de assalto, coloca em primeiro lugar a defesa do patrimônio e não tem se mostrado seguro e eficaz para a segurança da sociedade e a proteção da vida dos vigilantes”, apontou.
O diretor da Contraf-CUT, que destacou a competência dos municípios em fazer leis sobre assuntos de interesse local, como garante o artigo 30 da Constituição Federal, propôs a definição de um espaço para a parada dos carros-fortes. “O maior problema hoje está na hora do abastecimento desses terminais”, denunciou. Ainda na última segunda-feira, dia 29 de agosto, dois vigilantes foram assassinados num assalto ocorrido em Cuiabá, no momento em que abasteciam caixas eletrônicos. Outra proposta é a instalação de caixas eletrônicos somente em locais seguros, com abastecimento protegido na parte traseira das máquinas.
Ademir também aproveitou o debate para defender a transformação dos correspondentes bancários em pequenas agências e postos de serviços bancários, “a fim de garantir qualidade de atendimento, assistência financeira, segurança e preservação do sigilo das informações dos clientes”.
Os bancários de Pernambuco apoiaram igualmente a abertura do diálogo e a melhoria da segurança para trabalhadores e clientes. “Segurança é um assunto importantíssimo e é papel do legislativo assumir a causa. Nós nos colocamos à disposição para aprofundarmos os debates e elaborar projetos que venham ao encontro dos interesses da sociedade, dos bancários e dos vigilantes”, afirmou Jacqueline.
Ao final, Rufino denunciou a irresponsabilidade do Itaú, que está retirando portas de segurança com detectores de metais das agências em Recife, mesmo com a existência de lei municipal, fragilizando a segurança e aumentando os riscos para bancários, vigilantes e clientes. “O banco deveria contratar mais um vigilante para fazer o monitoramento das imagens e preservar as portas de segurança”, reivindicou.