Bancários do RS recebem negociador do BB e denunciam assédio moral

O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre recebeu na manhã de quinta-feira, dia 17, a visita do negociador do Banco do Brasil, Sérgio Braga. Acompanhado do Gerente de Administração da Super RS, Jesus Nonoai e da nova Gerente Geral da GEPES, Célia Gomes Santos, os representantes do banco foram recebidos pelos diretores das entidades e representantes de sindicatos do Interior do Estado.

O encontro partiu do BB, visando esclarecer o papel desenvolvido pela Ouvidoria e pelo Comitê de Ética, implantado no ano passado após a Campanha Salarial.

No início do encontro, Sérgio fez uma explanação das atividades da Ouvidoria. “Recebemos a demanda, avaliamos e damos o encaminhamento aos problemas que se apresentam. É um processo que envolve a gestão de pessoas. A Ouvidoria interage e media os conflitos, se não conseguir resolver, encaminha para o Comitê de Ética”, afirmou.

O representante do BB disse ainda que o setor está sendo consolidado, e que tal estrutura requer crédito de confiança do funcionalismo e do meio sindical. “Estamos aqui no Sindicato para que vocês apontem os avanços e as carências, para que possamos fazer com que toda essa estrutura funcione”, afirmou Sérgio.

Ouvidoria e Comissão de Ética

O diretor de Formação do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (SindBancários) e representante do RS na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, Ronaldo Zeni, disse que os bancários desejam um reposicionamento hierárquico da Ouvidoria. “O setor precisa estar em um nível acima da diretoria, assumindo a postura e dando encaminhamentos com isenção.”

O diretor acrescentou que os funcionários estão muito insatisfeitos, situação provocada pela imposição de metas abusivas, que acabam gerando um desgaste físico e psicológico muito grande.

Em Porto Alegre o semestre tem somente três meses, pois a Gerev firmou acordo de trabalho com os gestores exigindo estarem na etapa Ouro do Sinergia em março, desprezando totalmente a programação das dependências e ameaçando com descomissionamento quem não cumprir a determinação. “Isto gera muita insegurança no local de trabalho e temos que combater isto imediatamente.”

“Também há outra questão problemática verificada nas seleções internas. Cada colega que ingressa no processo tem que responder a seguinte pergunta: Vai fazer greve? Exigimos que esse tipo de postura e essa pergunta jamais faça parte de uma seleção ou que sirva de exclusão para a ascensão profissional. Isto é uma clara violação constitucional ao direito de greve”, denunciou Zeni.

Isidoro Grassi Neto, dirigente do Sindicato de Santa Maria e suplente no Comitê de Ética do RS, afirmou que o sistema de informática do banco está ultrapassado e sempre fora do ar. “Isso provoca mais um problema, uma vez que o cliente sai de seu trabalho para acessar os serviços na agência, mas chega ao local, não tem o sistema e a gente acaba tendo que ouvir a queixa do cliente que não tem o serviço”, afirmou Neto, que representou a titular do Comitê de Ética, Karen D’Ávila, que se encontra em férias.

Também apontou a descrença dos funcionários com a Ouvidoria, que tem dado pouco retorno às demandas do funcionalismo. Informou que até o momento não foi chamado para nenhuma reunião e nem mesmo avaliação de algum caso de desvio de conduta. “Diante da situação caótica que se verifica no Rio Grande do Sul, acredito ser difícil não termos nada para apreciar”, exemplificou.

O diretor da Fetrafi-RS, Mauro Cardenas, disse que há mais de um ano ocorreu uma reunião semelhante, quando as mesmas demandas foram apresentadas, com destaque para o descrédito da Ouvidoria. “As pessoas não estão demandando a Ouvidoria. A situação não mudou e a empresa tem uma postura cada vez mais rígida. Hoje há situações no BB que não víamos no regime militar. Colegas são perseguidos e o número de insatisfeitos é enorme”, afirmou o dirigente.

Assédio moral e metas abusivas

Para o diretor de Comunicação do SindBancários, Flávio Pastoriz, o banco deveria informar os casos recebidos. Disse que a Ouvidoria e o Comitê de Ética são ferramentas para passar a eficiência e a credibilidade da gestão do banco. Os sindicatos e os Comitês podem ter acompanhamento das denúncias.

Pastoriz também destacou a situação de terror a que são submetidos os funcionários. “Há cobrança de metas das 7h às 23h, sem falar dos finais de semana. Isso não é apenas com os escriturários, mas com os gestores”, relacionou.

“Aonde vamos parar com tudo isso? Se não cumprem as metas, os funcionários são ameaçados de descomissionamento ou transferência para outra cidade. O banco deu um salto na prática do assédio e no desrespeito ao funcionalismo. O Comitê a e Ouvidoria são instrumentos importantes, mas as pessoas não acreditam na eficácia desses instrumentos”, acrescentou Pastoriz.

Outro modelo de gestão é preciso

Na avaliação do diretor do SindBancários, Pedro Loss, o modelo de gestão do BB também piorou de uns tempos para cá. “Na regional de Porto Alegre, onde atuo, os colegas são ameaçados de perda de comissão ou mudança de cidade. O banco falha no modelo de gestão aos gestores. A gente quer melhores condições de trabalho, deseja bons resultados e um ambiente agradável. Muitos não denunciam porque lá na frente temem represálias. Somos parceiros e queremos ver as coisas acontecendo. Queremos que o banco dê lucro, mas com responsabilidade social interna”, disse Loss.

O diretor do Sindicato de Horizontina, Eloi Horst, o Melão, afirmou que o funcionalismo está doente. “O modelo de gestão está passando dos limites, provocando uma legião de infelizes.”

Já o diretor do SindBancários, Julio César Vivian, apontou que há um problema sistêmico, ou seja, da cultura autoritária. Tem que se apresentar soluções efetivas, renegociando o modelo da Ouvidoria. Os integrantes do Comitê de Ética não sabem o que está ocorrendo e nem quais os casos que estão sendo analisados. “Queremos que essas estruturas funcionem, mas as pessoas têm medo de utilizar os canais com medo de sofrer represálias em seu currículo profissional mais adiante”, declarou Vivian.

Resposta do BB

Após ouvir as manifestações dos dirigentes, Sérgio Braga comentou algumas delas. Com relação à divulgação dos casos feitos à Ouvidoria, o representante do banco disse que a maioria é de processos internos. “O que interessa são as denúncias de desvios éticos profissionais, como o assédio moral e sexual. Esse é um problema do mundo contemporâneo do trabalho. Por isso questionamos até que ponto é interessante divulgar as denúncias”. frisou.

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