São Paulo – A crise financeira ainda vai abalar os mercados de todo o mundo este ano. A recuperação deve vir somente em 2010. A avaliação foi feita por representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM), em reunião com dirigentes de sindicatos globais, realizada em Washington, EUA, entre os dias 14 e 16 de janeiro. Cerca de 80 participantes debateram possíveis soluções para a crise financeira e formas de evitar novos desastres. Luiz Cláudio Marcolino, representante da Contraf-CUT em Washington, presidente do Sindicato dos bancários de São Paulo, Osasco e região (Seeb SP), e que também é vice-presidente do sindicato global UNI-Finanças, participou das discussões e apresentou alternativas para a defesa dos empregos durante a crise.
Os integrantes dos dois maiores organismos da economia internacional admitiram que a crise financeira foi gerada a partir da falta de fiscalização dos mercados globais, o que vai ter que mudar. E assumem que o sistema financeiro está muito mais globalizado do que eles imaginavam.
A crise de alimentos (commodities) que fez os preços aumentarem e gerou preocupação com a volta da inflação foi um dos estopins da crise financeira. Nesse contexto, o Banco Mundial começou os debates sobre proteção social: todos os contratos de empréstimos efetuados previam respeito aos direitos dos trabalhadores. O que era recomendação, agora vai virar obrigatoriedade: o Banco Mundial passará a exigir que as normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sejam acatadas para emprestar dinheiro aos países.
O movimento sindical vai conhecer os projetos apresentados pelos países para poder acompanhar o cumprimento dos direitos dos trabalhadores. E terá um canal para denunciar ao Banco Mundial os que não cumprirem essas diretrizes. A instituição fará uma auditoria e caso a denúncia seja confirmada, essas nações poderão ficar sem novos empréstimos.
Outra orientação anunciada pelo FMI é a de que os países invistam 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com contrapartidas sociais ou isenção fiscal. “Todos concordam que o elo mais fraco da crise é o trabalhador”, conta o presidente do Sindicato. A política fiscal dos países deve estar voltada para projetos de infra-estrutura para geração de empregos.
O FMI também está monitorando a reorganização da economia e debatendo com os países o aperfeiçoamento da estrutura econômica com novos mecanismos de fiscalização e regulação. Um Fórum de Estabilização Financeira está criando novas normas contábeis de forma que as empresas tenham redimensionado seu valor real. “Ficou claro que as práticas de governabilidade de muitos países e empresas terá que ser alterada”, diz Marcolino, destacando que a integração política monetária do mundo terá que ser melhorada. A crise levou a perdas no mercado financeiro que já são maiores que o PIB mundial.
Marcolino faz um balanço positivo da reunião de cúpula. “É a primeira vez que o FMI se reúne com os trabalhadores e esse diálogo social é importante. Mesmo tendo normas rígidas, esses organismos estão se abrindo para conceitos como proteção social, o que não faziam antes.” Para Marcolino, sabem que o modelo estrutural que ajudaram a construir colaborou para destruir a economia mundial. “As soluções não serão imediatas. Será necessária uma nova estrutura de sustentabilidade para o desenvolvimento global, com mais controle e fiscalização dos mercados. O estabelecimento de novas normas contábeis será importante porque vai dar transparência para que os trabalhadores acompanhem o real crescimento das empresas, sem serem surpreendidos, como aconteceu com os bancos americanos, por exemplo”, completa Marcolino.