Com bom humor, os bancários de Pernambuco realizaram nesta sexta-feira, dia 13, um protesto contra um assunto muito sério: a discriminação nos bancos. O palco das manifestações foi a agência do Santander de Afogados, em Recife. Com irreverência, um grupo de teatro representou como a discriminação e o preconceito atingem os bancários.
“Embora o tema do protesto fosse muito grave, o teatro acabou dando um toque mais leve ao protesto. Graças ao humor, conseguimos passar o recado que, por si só, é uma tristeza”, explica a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello.
A tristeza a qual Jaqueline se refere está explícita na pesquisa Mapa da Diversidade, feita recentemente pela Febraban após intensa cobrança do Sindicato. O levantamento comprova que os bancos discriminam negros, mulheres e pessoas com deficiência tanto no acesso ao emprego bancário quanto na remuneração e na ascensão profissional.
Segundo dados do Mapa da Diversidade, as pessoas negras correspondem a 35,7% da População Economicamente Ativa do país. No entanto, no setor financeiro, negros e negras ocupam apenas 19% das vagas. Além disso, os negros recebem salários menores: enquanto um bancário branco recebia em média R$ 3.411 em 2009, o negro recebia um salário médio de R$ 2.870.
Para o diretor do Sindicato, Geraldo Times, o protesto desta sexta, que ocorreu em todo o Brasil, tem o objetivo de promover a inclusão, garantindo a contratação de negros, negras e pessoas com deficiência nos bancos. “E, claro, também protestamos pelos clientes, já que a maioria das agências não tem acessibilidade para os portadores de deficiência”, ressalta.
Geraldo explica que o Sindicato dos Bancários de Pernambuco escolheu o Santander para realizar o protesto porque lá, recentemente, um bancário sofreu discriminação. “O banco demitiu um funcionário que está há 19 anos no banco e tem deficiência auditiva. Não há nada que justifique a demissão deste bancários, que era um bom empregado, a não ser a discriminação”, diz.
13 de maio
Os bancários escolheram o dia 13 de maio para fazer o protesto contra a discriminação porque a data comemora o dia da abolição da escravatura. Durante muito tempo, os livros de história apresentaram a Lei Áurea como um ato generoso da princesa Isabel, que seguia os propósitos abolicionistas de seu pai o Imperador Dom Pedro II.
Porém, alguns pesquisadores recentes da historiografia brasileira têm outro ponto de vista sobre a abolição da escravatura e sobre a Lei Áurea. Afirmam eles que a abolição teria sido fruto de um estado semi-insurrecional que ameaçava a ordem imperial e escravista. Tal interpretação acentua o caráter ativo, e não passivo, das populações escravizadas.
Sílvia Hunold Lara e Sidney Chalhoub, ambos professores doutores do departamento de História da Unicamp, afirmam que as rebeliões de escravos estavam se generalizando no país, na época da abolição, gerando quilombos por toda a parte.
“Além disso, a Lei Áurea não apresentou nenhum projeto de inserção do negro na sociedade. Ou seja, foi uma abolição incompleta e até hoje estamos pagando por isso. Vale destacar, também, que o Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão. O movimento negro brasileiro pensa que esta data não é para se comemorar. Por isso, temos o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro”, comenta Geraldo.