Bancários da Caixa do Espírito Santo realizaram nesta quarta-feira, 24, um Dia Nacional de Luta contra a reestruturação do banco, que prevê diversas mudanças na estrutura de trabalho da Caixa, entre elas a fusão de unidades de matriz, extinção de setores e migração de atividades operacionais para centralizadoras e filiais, com corte de funções de diversos empregados.
Durante as mobilizações, foram paralisados o prédio da Enseada do Suá, onde ficam setores atingidos pela primeira onda da reestruturação, como Gipes e Girec – que serão extintas no Espírito Santo –, e o prédio da Beira Mar, onde funcionam a Giret Norte e Sul, a Retec e a Gilie. Ambos os prédios estão localizados na capital, Vitória.
“O dia de luta foi importante pra protestar, mostrar para a Caixa que não estamos satisfeitos. A reestruturação não resolve o problema do banco, ela é na verdade um desmonte, uma preparação para a privatização. O que vai melhorar e fortalecer a Caixa é fazer mais contratações, valorizar os empregados, preservar o banco como empresa pública para que ele cumpra com seu papel social”, destaca Rita Lima, diretora do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo.
Preocupação e dúvidas marcam implementação das mudanças
Nas unidades de trabalho, o sentimento predominante é de apreensão. Danielle Ferreira Abboud trabalha como assistente júnior na Retec, setor que já iniciou o processo de descontinuação. Ela acumula dúvidas sobre as mudanças. “Já fomos informados que a área será extinta, mas não temos definição de prazos, não sabemos se poderemos optar por outro local de trabalho e qual será nossa situação”, desabafou. Assim como outros seis empregados do setor, Danielle não poderá incorporar a função. A redução no seu orçamento será de praticamente um terço do salário.
Renata Sobral Pinto é auxiliar operacional da Retec e também terá a função cortada, da mesma forma que o marido, Ricardo Sobral, outro empregado da Caixa. “Isso impacta tudo, a vida de toda a família, até dos meus irmãos”, relatou. Além do impacto financeiro, ela levanta questionamentos sobre a carreira e a relação com a Caixa. “Você gosta de trabalhar na empresa, se sente reconhecido, e de repente isso tudo cai por terra. É difícil construir nossa carreira no banco e teremos que recomeçar do zero. Imagine isso numa nova agência, num novo espaço de trabalho”.
“Falta transparência. A intenção do banco não está clara com a reestruturação, e a justificativa de redução de gastos não faz sentido, porque o corte de despesas será pequeno diante das mudanças. Isso tudo traz para os empregados um cenário de incertezas. Será que o banco está realmente sendo preparado para a venda? Vai haver abertura de capital?”, se perguntou Rúbia de Matos Paula, uma das gerentes da Caixa.
Carmem Ferreira é bancária da Caixa há 10 anos e já passou por outras reestruturações, mas nenhuma tão “traumática” como essa. Para ela, a descontinuação dos setores está na contramão da história. “Essa reestruturação não tem coerência nem transparência. A Caixa está fazendo um discurso, mas com outra prática. Pela política que a Caixa tem na área de crédito, a Rerec deveria ser fortalecida, e não descontinuada”, disse a empregada.
Mais setores serão atingidos
Na tarde de hoje, em meio às manifestações contra a reestruturação do banco, surgiram rumores de que mais um setor seria extinto: a Gerência de Alienação de Bens Móveis e Imóveis (GILIE), que, assim como a Gipes, seria centralizada no Rio e Janeiro. A informação, contudo, ainda não foi confirmada, mas a expectativa é de que o setor seja atingido mais cedo ou mais tarde, já que a reestruturação está sendo feita em “ondas”.
Durante a manhã, bancários da área compartilharam o medo e a preocupação com as mudanças e criticaram a falta de informação. “Sabemos que em algum momento seremos atingidos, mas não sabemos quando ou que vai mudar. Se vamos perder a função, se seremos realocados em um lugar longe”, explica Célia Mara Rangel, da GILIE. “Falta informação, a gente só sabe boatos”, complementou Wilson Soares Junior, do mesmo setor.
“Caixa desperdiça talentos”
Antenor de Souza Moreira, gerente de Filial na GIREC, é bancário há 44 anos, dos quais 39 pela Caixa. O cargo de gestor não o impediu de ver com preocupação as mudanças em curso. “O banco quer melhorar o atendimento, mas ele não conseguirá realocar todos os empregados em setores onde eles acumularam experiência, onde ele está treinado. O período de readaptação será longo. Então a Caixa desperdiça talentos, desperdiça investimento anteriores em estudo. As competências das pessoas não serão aproveitadas da mesma forma”, disse.