Contra a discriminação sofrida por negros, negras e pessoas com deficiência no mercado de trabalho, especialmente no sistema financeiro, o Sindicato dos Bancários de Brasília realizou uma nova manifestação na quinta-feira (19), dessa vez no Setor Bancário Sul (SBS), onde estão concentradas as sedes dos principais bancos públicos.
Embalados pela percussão dos integrantes do Entorno das Artes – projeto de inclusão social do Sindicato com crianças e adolescentes da Ceilândia -, os bancários exigiram igualdade de oportunidades nas seleções internas do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e BRB. “Esse assunto, inclusive, deve ser pauta da Campanha Nacional 2011 da categoria”, adiantou o presidente do Sindicato, Rodrigo Britto.
“Os bancos públicos também discriminam afrodescendentes, mulheres e homossexuais. Embora possuam qualificação e escolaridade similar, e em alguns casos até superior, os trabalhadores incluídos nessas minorias ainda enfrentam dificuldades para crescer profissionalmente no BB, na Caixa e no BRB”, lembrou Britto.
Por mais de uma hora de atividade no SBS, bancários e transeuntes ouviram explicações dos diretores do Sindicato sobre as práticas discriminatórias dos bancos. “Apesar de nossa luta histórica pela igualdade de direitos dentro dos locais de trabalho, as instituições financeiras insistem em priorizar o que é considerado padrão”, criticou Jeferson Meira, diretor do Sindicato e funcionário do BB.
“O elevador da Galeria dos Estados, por exemplo, que está há três anos quebrado, limita o acesso dos deficientes e das pessoas com dificuldade de locomoção ao SBS”, afirmou Meira. “Sem elevador e/ou escada rolante é muito difícil se deslocar até o local de trabalho”, reclamou o diretor do Sindicato e funcionário do BB Rogério Dias, que é deficiente.
A manifestação no SBS foi a segunda de uma série de atividades programadas para lembrar o 13 de Maio. A data marca a Abolição da Escravatura no Brasil, com a assinatura da Lei Áurea em 1888.
“Até o final de maio, realizaremos outros atos para cobrar a implantação de fato da responsabilidade social dos bancos, utilizada como ação de marketing, e que, no entanto, está longe de ser alcançada no dia a dia das agências e dos departamentos das instituições”, acrescentou Rodrigo Britto. O primeiro ato foi realizado no Setor Comercial Sul, na última sexta-feira, dia 13 de maio.
Além do samba-reggae dos meninos do Entorno das Artes, o protesto realizado pelo Sindicato ainda contou com a apresentação do grupo de capoeira Abadá Brasil. “O Entorno das Artes, esse extraordinário projeto criado pelo Sindicato, é uma importante forma de inclusão social das crianças e adolescentes da Ceilândia”, elogia Moredson Cordeiro, coordenador da iniciativa.
“O Sindicato está de parabéns por lutar pelo fim da discriminação nos locais de trabalho. Eu mesmo já fui vítima de preconceito”, observa Sorriso, que é negro e instrutor do grupo de capoeira Abadá Brasil.
O protesto foi encerrado com uma grande apresentação de roda de capoeira. Alguns bancários se arriscaram a ‘gingar’ com os capoeiristas do grupo.
Mapa da discriminação
Em relação aos bancos privados, o Itaú Unibanco é a instituição com menor número de afrodescendentes e o Bradesco é o que menos contrata deficientes físicos. Os dados fazem parte do caderno Construindo a Igualdade de Oportunidades, divulgado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) recentemente.
Ainda de acordo com a publicação, que traz números do Mapa da Diversidade, pesquisa feita com quase metade da categoria, os negros e as negras ocupam apenas 19% das vagas no setor no Brasil. No DF, as mulheres negras representam apenas 12% do corpo funcional. Quanto à remuneração, na região Centro-Oeste os brancos recebem, em média, R$ 4.142, e os negros, com igual qualificação, R$ 3.614.