Dirigentes sindicais cobraram fim das dispensas de trabalhadores
Em negociação ocorrida com entidades sindicais nesta sexta-feira (8) em São Paulo, os bancários cobraram uma reunião com o presidente do Santander Brasil, Jesús Zabalza, para discutir o fim das demissões, da rotatividade e das terceirizações, bem como a manutenção dos empregos e mais contratações. Os representantes do banco prometeram trazer uma resposta na reunião do Comitê de Relações Trabalhistas (CRT), marcada para o próximo dia 19.
Os números do balanço do Santander do terceiro trimestre deste ano e de anos anteriores revelam que não há justificativas para dispensar trabalhadores porque a situação da empresa no Brasil é bem distinta de outras partes do mundo.
A filial brasileira é responsável por 24% do lucro mundial do grupo, apurando 1,277 bilhão de euros apenas nos primeiros nove meses de 2013 e o lucro por bancário brasileiro é 1,95 maior que o apresentado pelo empregado espanhol.
Essas e outras argumentações foram enfatizadas pelos dirigentes sindicais durante a negociação que tratou exclusivamente de emprego e reivindicaram que o banco cesse as demissões e por isso cobraram uma reunião com Zabalza.
“Queremos que o presidente do banco firme compromisso de suspender o processo de demissão que, entre dezembro do ano passado e setembro deste ano, exterminou cerca de quatro mil postos de trabalho em nosso país. Com isso, a situação nas agências, que já era difícil, está caótica. Os funcionários estão sobrecarregados e inseguros com essa verdadeira onda de demissões”, afirmou a funcionária do Santander e diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Rita Berlofa. O banco demitiu empregados inclusive durante a greve, o que não tinha acontecido antes.
Segundo a dirigente sindical, o banco tem de mudar de postura e passar a valorizar a unidade brasileira, que apresenta o melhor índice de eficiência – que mede as receitas da instituição em relação às despesas – em todo o mundo, onde as despesas por empregado chegam a ser 33% inferiores ao do funcionário na Espanha.
“Apenas com a cobrança de tarifas o Santander cobre 148% da folha de pagamento no Brasil. Ou seja, tem recursos de sobra para manter o emprego dos trabalhadores”, ressaltou Rita. Enquanto isso, o nível de adoecimento só aumenta no banco, sendo que dos 13 funcionários de uma agência do Mato Grosso 6 estão afastados por motivos de doença.
“O banco tem que buscar alternativas de redução de custos que não seja no emprego ou nas condições de trabalho de quem faz este banco lucrar”, reforçou o secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Mário Raia. “Se tiver que cortar custo, o banco deveria começar com as bonificações dos altos executivos para evitar demissões”.
Desigualdade de tratamento
Se de um lado a empresa elimina postos de trabalho – comprometendo a sobrevivência de milhares de trabalhadores -, de outro é extremamente generosa com seus altos executivos e com os acionistas. Segundo dados da própria empresa, entre 2010 e 2013, cada um dos integrantes de um seleto grupo do alto escalão teve reajuste de 67% em sua remuneração anual, passando de R$ 4,7 milhões para R$ 7,9 milhões.
Já aos acionistas, para os quais eram distribuídos 1,4 milhão de euros em 2003, receberam 6 milhões de euros em 2012. “Essa balança está muito desigual. Se o Santander se empenha tanto em valorizar seu alto escalão e a remunerar bem os acionistas, não pode deixar de lado aqueles que são os verdadeiros responsáveis pelos resultados do banco no Brasil, que são os trabalhadores. Quantos empregos, por exemplo, não seriam assegurados com R$ 659 mil, que corresponde ao que um alto executivo recebe em um mês”, questionou Rita.
“Ficou visível o constrangimento dos negociadores do banco diante dos argumentos apresentados e dos dados dos balanços do próprio banco, que revelam os abusos de poder, a sangria de empregos de bancários e bancárias e as péssimas condições de trabalho com a falta até de profissionais da limpeza em muitas agências e departamentos”, frisou a funcionária do Santander e secretária de Mulheres da Contraf-CUT, Deise Recoaro. Ela condenou as discriminações no banco e cobrou “respeito e igualdade de oportunidades para quem constrói dia a dia os lucros bilionários do banco no Brasil”.