Bancário e vigilante mortos foram vítimas do descaso com segurança

PAB do Santander era novo e já havia sido assaltado, mas nada mudou

O assalto ao PAB da usina nuclear de Angra dos Reis (RJ), na tarde de quarta-feira, dia 21, que terminou com as mortes da vigilante Verônica Soares, de 24 anos, e do bancário Igor Henrique Batista Alves da Silva, de 22, expõe uma variada gama de irregularidades no funcionamento da unidade. O posto, vinculado à agência de Praia Brava, tinha apenas quatro meses de funcionamento e operava somente com um bancário e um vigilante.

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As irregularidades são muitas. “O erro começa já no layout do posto, que tinha porta voltada para fora da usina. Além de atender aos funcionários da empresa – como determina a norma de funcionamento dos PABs – o posto atendia também a clientes comuns”, destaca Paulo Garcez, diretor da Federação dos Bancários do Rio e Espírito Santo.

Outra irregularidade dizia respeito ao acesso do bancário morto às informações. “O Igor era caixa, não era gerente, nem coordenador. Ele não podia ter senha do cofre. Mas, como ele era o único bancário que trabalhava no local, tinha acesso ao código”, acrescenta o dirigente sindical.

A circulação de pessoas no local também já havia mudado neste curto período de funcionamento. Inicialmente, o PAB serviria somente aos funcionários da própria usina.

“Os trabalhadores de construção civil que atuam na obra da usina de Angra 3 seriam pagos na agência de Praia Brava. Mas houve uma mudança e eles passaram a receber pelo PAB também. No dia do pagamento, o movimento era enorme, lembra Jorge Raimundo, diretor do Sindicato dos Bancários de Angra dos Reis, que acompanha o desdobramento dos fatos.

Segundo a assessoria de imprensa da Eletronuclear, como o PAB fica dentro do terreno da usina, mas a porta é voltada para fora, a empresa não responsabiliza pela segurança, que seria encargo da polícia militar. Em curtíssima nota, a direção da Eletronuclear lamenta o ocorrido, mas ressalta que o estabelecimento bancário fica fora de seu perímetro de segurança nuclear.

Novo, mas já violado

Mesmo novo, o PAB já havia sofrido outra ação de ladrões, há cerca de 20 dias, quando malotes contendo R$ 150 mil foram levados. A ação aconteceu durante o procedimento de abastecimento do caixa eletrônico que fica dentro da usina, fora do PAB.

Como a Eletronuclear não permitia o ingresso do carro forte em suas dependências, um bancário tinha que pegar os malotes no PAB, colocá-los em seu carro e entrar nas dependências da empresa para levar o dinheiro até o caixa eletrônico. Neste trajeto, foi rendido pelos assaltantes.

Na ocasião, o vigilante que atuava no PAB se queixou da segurança precária para Jorge Raimundo. “O rapaz me disse que a visibilidade era muito ruim, por causa dos vidros e das persianas. De dentro do PAB ele não conseguia ver o que se passava fora, e isso o deixava inseguro. Ele me disse que, se alguém tentasse assaltar o posto, seria pego de surpresa”, relata o sindicalista.

O Sindicato fez a sua parte, mas o banco, não. “Quando ocorreu o assalto anterior comunicamos ao Santander as péssimas condições de segurança. A porta não é giratória nem tem detector de metais. A unidade é vulnerável, fica do lado de fora de Angra 3. Então é uma área de livre acesso. Os assaltantes entraram sem dificuldades e mataram os dois”, lamentou o presidente do Sindicato, Rogério Salvador.

Difícil investigar

A falta de segurança no local não só facilita a ação dos bandidos, mas também dificulta as investigações. “É fácil entrar numa agência que só tem uma vigilante e sem porta giratória com detector de metais. Mas, como não há câmeras, é muito difícil identificar os assaltantes. A polícia esteve no PAB até tarde no dia do crime, fazendo perícia e colhendo impressões digitais. Agora temos que esperar o resultado das investigações”, informa Jorge Raimundo.

Quanto ao plano de segurança do PAB, sem o qual a nenhum estabelecimento bancário pode funcionar, ninguém sabe dizer ao certo. O Santander afirma que existe, mas o sindicato nunca o viu. Só o que a entidade ouviu foram promessas.

“Quando houve o roubo do malote, a segurança do banco esteve aqui e disse que instalaria mais dispositivos de segurança. Mas isso não aconteceu ainda e, infelizmente, a consequência foi a morte de dois trabalhadores”, lastima Jorge Raimundo.

Luto e luta

Em sinal de respeito pela morte de Verônica e Igor, agências do Santander do centro de Angra, de Praia Brava e de Mambucaba não abriram na quinta-feira, dia 22.

“O PAB também ficou fechado, não há nenhuma condição da unidade funcionar”, informa Rogério Salvador. Acompanhando o luto da Costa Verde, os Sindicatos da Baixada Fluminense e Petrópolis também concentraram as ações do Dia Nacional de Luta dos bancários a unidades do Santander.

O sepultamento de Verônica deve ocorrer no cemitério da Vila Histórica de Mambucaba, onde a vigilante morava. O corpo de Igor será trasladado para Volta Redonda, cidade onde reside sua família, e deverá ser sepultado nesta sexta-feira, dia 23.

O Santander emitiu uma nota de três linhas lamentando o ocorrido e informando que está prestando assistência às famílias das vítimas e colaborando com as investigações.

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