“O banco poderia dar uma satisfação melhor ao demitir um funcionário. Ela estava doente. Existe um exagero das metas. A gestão do banco esquece os limites do ser humano, um cliente que vivencia uma situação dessa não acredita na credibilidade dessa empresa”.
O depoimento é do pai da ex-bancária de uma agência do Itaú na zona leste de São Paulo, que trabalhou no local durante cinco anos. O desabafo foi feito enquanto a filha assinava a homologação no Sindicato e ele lembrava que na época em que exercia a mesma profissão – foi bancário durante cerca de 30 anos. As metas já existiam, mas não eram abusivas como são hoje. A trabalhadora, caixa de agência, passou mal enquanto atendia um cliente, com fortes dores na região lombar, na cabeça e nuca. Após se queixar da dor, ninguém a socorreu.
A prioridade para a gerente, segundo a bancária, era que “alguém assumisse logo o posto do caixa”. Sem nenhum trabalhador para cumprir a função, a pressão foi grande para que ela se recuperasse e voltasse às suas atividades. Sem melhoras, ela reassumiu seu posto, sem enxergar quase nada, desmaiou.
“Ninguém chamou socorro. Um bancário me ajudou, se demonstrou preocupado. Precisei pedir ajuda por telefone para minha irmã e, na hora, só pensei em chamar um táxi e ir para o hospital, já que meus pais estavam viajando”, conta a trabalhadora.
Segundo ela, em nenhum momento foi cogitada a ideia de pedir uma ambulância ou presença de um médico no local. A bancária relata que ficou deitada no chão. A indisposição começou às 11h15 e somente às 15h a funcionária pediu o táxi por não ter mais condições de permanecer no trabalho após várias tentativas.
Ela foi ao hospital, ainda está passando por uma bateria de exames cardiológicos e de análise clínica, com a possibilidade de ser encaminhada a um neurologista. “O médico disse que por conta da pressão do meu cotidiano existe a possibilidade dessa indisposição ter sido o início de um infarto ou síndrome do pânico”.
Demissão
A surpresa foi a volta ao trabalho. Na segunda-feira, no retorno, foi demitida. “A gerente me chamou e alegou verbalmente abandono de trabalho. Me pressionou a assinar a carta de demissão. Assinei e imediatamente procurei o Sindicato. Questionei sobre o abandono, pois outros bancários sabiam que eu fui ao médico”. Além de comunicar a saída para ir ao hospital, outros trabalhadores viram o drama vivido pela bancária, o desmaio e a necessidade de ter ficado deitada no chão da agência enquanto passava mal.
A alegação sobre o abandono de emprego não faz sentindo, uma vez que a legislação trabalhista não dispõe a respeito do prazo de ausência injustificada, mas a jurisprudência trabalhista considera abandono falta de mais de 30 dias ou período inferior se houver circunstâncias evidenciadoras. E a dispensa é por justa causa.
Justiça
Para a bancária, a história de desrespeito ao trabalhador não pode ficar por isso mesmo. Com os documentos em mãos, ela pretende entrar com uma ação judicial pela omissão de socorro do banco e desrespeito aos seus direitos. “Quando cheguei no hospital, o médico disse que demorei muito para procurar socorro e que a situação poderia ser pior”.
A secretária de Saúde do Sindicato, Marta Soares, deixa claro que todo o aparato judicial será disponibilizado para que a bancária receba apoio nesse momento. “A situação é inadmissível. Para nós, a prioridade é que ela esteja com boa saúde. Em seguida, é o apoio para tomar medidas judiciais cabíveis. Vamos analisar o caso e nossos advogados estão a disposição dela e de qualquer trabalhador que se sinta injustiçado e tenha seus direitos lesados pelo empregador”.
Metas e adoecimento
Marta lembra que cada vez mais as metas abusivas adoecem trabalhadores da categoria bancária. O caso da ex-funcionária do Itaú não foi diferente. “Ela era caixa, mas era obrigada a vender produtos. É uma situação injusta com o bancário e com o cliente, que precisa de qualidade no atendimento, não de uma loja de produtos”.
A trabalhadora afirma que entre as metas estava a venda de previdência, seguros de acidentes pessoais e seguros mini residenciais. “A pressão era diária. Mas minha nota de avaliação era a máxima”, finaliza.
A secretária de Saúde entrou em contato com representantes do banco para reintegrar a trabalhadora dias antes da homologação. “O retorno foi negativo, portanto, o próximo passo é apoiar a bancária no âmbito judicial”.