Banc rios tˆm mais problemas psicol¢gicos do que f¡sicos

(Rio) Pesquisas realizadas pelo Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro com funcionários de dois grandes bancos privados revelou que os transtornos psicológicos estão superando as lesões físicas entre as doenças mais comuns entre bancários. Utilizando a metodologia do Projeto VidaViva, os sindicalistas já consultaram bancários de dois prédios do Bradesco – Pólo Rio e o prédio da administração do banco – e o Searj do HSBC.

 

O método utilizado é a chamada “técnica do pote”, que usa uma urna transparente onde são colocadas tarjetas coloridas, uma cor para cada tipo de problema: dor insistente, dor ocasional ou dor psicológica. A situação proposta leva os trabalhadores a refletirem sobre suas condições de trabalho. Os resultados mostram proporções diferentes. No Bradesco, 73,2% dos bancários avaliam que é sobre sua saúde mental que as pressões e o stress do dia a dia têm maior influência. Já no HSBC este número é um pouco menor. Dos 151 pesquisados, 67,5% alegaram que os problemas mentais como insônia, depressão, irritabilidade, medo e insegurança, entre outros transtornos, são mais comuns que as doenças físicas.

 

Para Adriana Nalesso, diretora que representa o Seeb Rio na coordenação nacional do Projeto VidaViva, as diferenças nos resultados são provocadas pelas diferenças nas próprias organizações, principalmente na forma de cobrar as metas. De posse destes dados, é possível negociar com os bancos pesquisados que sejam feitas mudanças na organização para melhorar a qualidade de vida do trabalhador dentro da empresa.

 

Surpresas

Outro estudo realizado com a metodologia do Projeto VidaViva já teve sucesso na mudança da empresa. Os funcionários do call center do Itaú participaram de uma pesquisa que revelou as péssimas condições de trabalho do local. Como o movimento sindical é proibido de entrar nas dependências do call center – Adrian a Nalesso precisou pedir uma autorização especial para visitar o local – os diretores do sindicato não tinham como saber o tipo de problemas que havia no prédio. Some nte com a pesquisa foi possível avaliar imenso risco à segurança a que estavam expostos os funcionários.

 

Com os trabalhadores do call center foi usado o método de desenho do mapa do local de trabalho e do mapa do corpo. O primeiro revelou que a entrada na sala do call center era feita por uma porta estreita, que só se abria com a passagem do crachá eletrônico. O acesso tinha ainda um corredor estreito que só dava passagem a uma pessoa de cada vez. A sala também não tinha janelas. Quando os empregados desenharam o local de trabalho, perceberam o perigo que corriam em caso de incêndio, já que a evacuação do call center não poderia ser feita rapidamente e o resgate dos trabalhadores não poderia ser feito pela lateral do prédio, já que não havia nenhuma abertura para fora. Depois da realização da pesquisa, o banco fez algumas mudanças e instalou uma saída de emergência. Mas ainda faltam as janelas e permanece o corredor estreito.

 

Dores na alma

Quando fizeram o mapa do corpo, os funcionários afixaram num desenho do contorno do corpo humano tarjas coloridas para designar dores insistentes, dores ocasionais ou transtornos psicológicos. Ficou claro, nesta atividade, que os transtornos como insônia, depressão e medo eram causados pelo trabalho sob pressão, o assédio moral, o medo de perder o emprego, a vergonha de adoecer e a discriminação aos doentes e o alto nível de competição individual e coletiva que havia no call center. Quanto aos problemas físicos, foi verificado que havia queixas quanto ao mobiliário, a ilumi-nação forte demais, a falta de protetor de tela. Foi constatada também a diferença de mobiliário de acordo com o nível hierárquico, sobretudo as cadeiras, que eram mais altas e confortáveis para os supervisores. Durante a dinâmica, também foi revelado aos sindicalistas que o banco só permite o descanso de dez minutos a cada 50 trabalhados para os lesionados reabilitados. Os outros trabalhadores têm apenas o seu intervalo para lanche e um outro, chamado de “aderência”, que é a oportunidade para irem ao banheiro e até para fazerem a ginástica laboral. As duas pausas são agendadas previamente, e cada bancário é informado sobre quando pode fazer seus intervalos na própria tela de seu terminal. “o funcionário não pode sentir-se mal, porque não terá permissão para ir ao banheiro fora do horário programado”, ressalta Adriana. Se um bancário insistir em se ausentar de seu posto fora da hora estabelecida, perde pontos em sua avaliação.

 

A surpresa dos sindicalistas foi grande diante de tais condições. Nem mesmo os próprios bancários tinham se dado conta do absurdo das situações que vivem no dia-a-dia. “Foi um despertar. Eles começaram a ver coisas que nunca tinham percebido”, relata Adriana Nalesso. A partir dos resultados obtidos em pesquisas como estas é possível traçar estratégias para o enfrentamento do problema.

 

A sindicalista, que já foi secretária de Saúde do Seeb Rio, percebeu, em sua experiência, que os bancários muitas vezes apresentam tanto problemas mentais quanto físicos, mas optam pelo afastamento pela lesão do corpo porque é mais fácil o reconhecimento pelo INSS.

 

Perto da base

O Projeto Vida Viva reúne sindicatos de diversas categorias profissionais e se baseia na tríade vida, saúde e trabalho. O objetivo é promover uma reflexão sobre as condições de trabalho e buscar sua melhoria. A premissa básica é que seja um trabalho feito com a base, promovendo um retorno dos dirigentes ao contato diário com os trabalhadores.

 

A metodologia do projeto é toda visual, nenhum tipo de material escrito é usado. Os resultados costumam ser surpreendentes e superar todas as expectativas tanto dos dirigentes que aplicam as pesquisas, quanto dos trabalhadores que participam.

 

Adriana Nalesso faz parte da coordenação nacional do projeto e, com sua experiência, percebeu que os sindicalistas não dão a devida atenção à saúde do trabalhador. Ela percebe que as mulheres lidam melhor com a questão mas, como o movimento sindical tem predominância de homens, o tema fica para segundo plano. “É preciso um maior envolvimento dos dirigentes. O trabalho não deve ficar restrito às secretarias de saúde”, entende Adriana.

 

Capacitação

Nos próximos dias 29 e 30 de junho será realizado o III Encontro Estadual dos Monitores do Projeto VidaViva. O evento acontece em Araruama, na Casa Abel Casa (Estrada de São Pedro, s/n, Praia do Hospício, Areal) e tem o objetivo de capacitar multiplicadores para aplicarem o projeto em suas bases. Os sindicatos de Nova Friburgo, Petrópolis, Rio de Janeiro e Sul Fluminense já confirmaram a presença de seus representantes.

 

Fonte: Feeb RJ/ES

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