(São Paulo) O assédio moral apareceu novamente na pauta da imprensa paulistana. A edição do último domingo, 24 de junho, do jornal Diário de S.Paulo abordou o tema usando uma bancária como exemplo de trabalhador com sérios transtornos mentais causados pelo ambiente de trabalho.
A reportagem, de página inteira, deu destaque para a opinião do presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, justamente por concluir que a categoria bancária é uma das que mais sofre com o problema.
A personagem citada foi denominada M.J. e ela conta que passou onze anos em uma agência bancária com o constante temor de assaltos. No final do ano passado, “o medo que só existia em sua cabeça tornou-se realidade”, pois, em pouco mais de uma semana, seu local de trabalho foi invadido por ladrões duas vezes.
Já aflita pela pressão por metas, competitividade acirrada e pelo medo do desemprego, o assalto acabou sendo “a gota d’água” para que M.J. passasse a sofrer do transtorno mental chamado Síndrome do Pânico.
Após contar a história de trabalhadores de outros segmentos que sofrem com os mesmos problemas, o jornal destacou que a pressão em cima dos bancários está acima da média com uma constatação assustadora. “A redução de postos de trabalho, a instituição de metas por vendas e o medo do assalto têm feito os transtornos mentais chegarem perto da incidência das doenças ortopédicas (LER) entre bancários”, diz o periódico. “A pressão de quem não atinge metas faz o bancário se sentir com a ‘cabeça a prêmio’”.
Números – Ainda de acordo com a reportagem, no Brasil, os transtornos mentais ocupam o segundo lugar na concessão de benefícios de auxílio-doença pelo INSS.
De junho de 2006 até maio deste ano, 7,69 milhões benefícios foram concedidos por incapacidade de trabalho. Destes, 15%, ou 1,18 milhão foram gerados por transtornos mentais. Somente por Síndrome do Pânico, computou-se 14.670, 0,2% do total de benefícios.
Em São Paulo, o número total de concessões somou 2,6 milhões, sendo que 430 mil, ou 17%, em razão de transtornos mentais. Os registros da Síndrome do Pânico foram 6.690, 1,5% do total de benefícios.
Nexo-Epidemiológico – Uma das principais conquistas dos trabalhadores no campo da saúde, nos últimos anos, foi a adoção do nexo-epidemiológico para a concessão do auxílio-doença acidentário. Com ele, o trabalhador com determinada doença, como o transtorno mental, precisa apenas comprovar a sua ocupação para atestar que contraiu o mal no trabalho, visto a sua constante incidência em pessoas que exercem a mesma função.
Em outras palavras, para conseguir o auxílio-doença acidentário, o trabalhador não precisa mais que seu empregador emita a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT).
Além disso, o nexo-epidemiológico permite uma avaliação melhor de qual empresa oferece mais ou menos risco a seu empregado. Assim, quem oferece mais risco paga uma alíquota maior ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), de onde é tirado o dinheiro para o benefício.
“Quem afasta menos, paga menos (ao SAT). Um dos objetivos do nexo é pressionar as empresas a cuidar mais da saúde do trabalhador”, disse a supervisora médica pericial da gerência regional do INSS/SP, Ederli Marialva Azevedo Leão para o Diário.
Os bancos, que pagavam 1% do valor de sua folha de pagamento para o SAT, compunham o grupo de menor risco. Após a avaliação mais criteriosa, a situação foi invertida e eles passarão a pagar 3%, valor reservado às empresas brasileiras que oferecem maior risco a seus empregados.
Fonte: André Rossi, Seeb SP