(São Paulo) O Sindicato dos Bancários de Patos de Minas e Região reproduziu, na edição de novembro/2006 de seu jornal quinzenal, carta de um bancário do Itaú com pedido de demissão. A correspondência traz à tona toda a angustia de um trabalhador que, depois de tanto ter se doado ao banco, percebe que todo o seu esforço não foi suficiente para atender às exigências da empresa. “Cinco bilhões (em lucro) é pouco para o banco, mas a sobrecarga de trabalho há muito tempo passa do suportável pelos ombros dos homens dignos que fazem o Itaú e seus números”, cita um trecho da carta.
Números esses que estariam consumindo a subjetividade desse bancário, bem como sua condição de sujeito, de pensante e de equilíbrio entre corpo, mente e alma. Para esse funcionário, o pedido de demissão representa uma carta de alforria e o modo de dar um pai melhor a sua filha, bem como de contribuir com a melhoria da humanidade.
“Esse é o sentimento de um homem cansado, decepcionado com aquilo que deveria ser a fonte de sustento e de alegria, já que o trabalho deveria ser fonte de prazer. Só que esse sentimento tornou-se generalizado não apenas no Itaú, mas em todo o sistema financeiro, haja vista que os desrespeitos são práticas comuns em todos os bancos”, declara o diretor da FETEC/CUT-SP, Gutemberg de Souza Oliveira.
De acordo com o dirigente, hoje, o bancário deixou de ser considerado ser humano para se tornar mais um ativo dos bancos. “Esses trabalhadores deixaram de ter um nome para ter um número, sem qualquer direito a ter opiniões, podendo pensar apenas nos interesses da empresa e nas formas de como alcançar as metas impostas”.
Para Gutemberg, a carta do bancário é um importante instrumento de reflexão. “O movimento sindical deve pensar formas de humanizar o trabalho nos bancos de forma a não perpetuar a angustia vivida hoje pelo conjunto da categoria”, desabafa o dirigente ao sugerir a reprodução do texto que segue abaixo.
(Pai Nosso, seja feita a Vossa Vontade)
(Hoje minha filha Cristiane faz 8 anos, e quero dar-lhe de presente um pai melhor…)
Ao Banco Itaú,
Gostaria que vocês me demitissem.
Não sou um bom funcionário.
Não consigo mais “vestir a camisa”…
Quis tentar mudar o banco antes de mudar do banco: tentei duas vezes contribuir com mais inteligência e mais valor, mais não fui bem sucedido…
Gostei de trabalhar aqui, mais cansei: como no livro A Metamorfose, de Franz Kafka (sugiro o a todo bancário sua leitura – é um espelho do que pode nos ocorrer), chegaria o dia em que me tornaria barata se ficasse na mesma condição: de subjugado, de calado, suportando sobrecargas desumanas de trabalho aliado ao descontentamento institucional com relação aos resultados.
Cinco bilhões e pouco para o banco, mas a sobrecarga de trabalho há muito tempo passa do suportável pelos ombros dos homens dignos que fazem o Itaú e seus números.
Os números e a subjetividade exagerada aos poucos iam consumindo minha subjetividade, minha condição de sujeito, de pensante, de equilíbrio: corpo, mente e ALMA…
Gostaria de receber minha carta de demissão como premio pela minha dedicação e bons resultados…
Gostaria de receber minha carta de demissão como carta de alforria…
Gostaria de poder continuar contribuindo, não com o banco, mas com os SERES HUMANDOS envolvidos na invenção bancária. Os homens precisam se afirmar como superiores as suas invenções…
Eu preciso mostrar aos meus amigos e colegas (por favor, republiquem essa massa e teor dessa mensagem, via malote ou correio, para todos os colegas bancários é minha última contribuição interna para um Itaú mais humano…):
NÃO SÃO OS SERES HUMANOS QUE SÃO EMPREGADOS DAS EMPRESAS…
SÃO AS EMPRESAS QUE SÃO EMPREGADAS DOS SERES HUMANOS
Deus tem algo melhor para mim…
Estou demitindo o banco da minha vida. O banco onde entive sentado…
E já me sinto melhor…
É meu MODO HUMANO DE FAZER, DE AGIR…
Gostaria que o Itaú me demitisse…
Clóvison Elberth Alves
Colega Espiritual e Atleta
(… assim na terra como no céu…).
Carta publicada no Voz Bancária – ano XII – nº 481 – a pedido do ex-funcionário do Banco Itaú, Clóvison Elberth Alves, que após anos de trabalho no banco, demitiu-se contra os abusos e o assédio moral representado pela sobrecarga de trabalho e de metas abusivas no Itaú.
Fonte: Lucimar Cruz Beraldo – Fetec SP