Avanço dos bancos públicos no crédito não impede freio nos empréstimos

Folha de S. Paulo
Eduardo Cucolo

As operações de crédito no Brasil registraram em 2014 o menor ritmo de crescimento em 11 anos, segundo levantamento do Banco Central.
A desaceleração provocada pela perda de fôlego da economia brasileira só não foi maior devido, mais uma vez, ao desempenho dos bancos públicos, que lideraram a liberação de recursos pelo sétimo ano consecutivo.

O estoque total de empréstimos a consumidores e empresas cresceu 11,3% no ano passado, menor percentual desde 2003. Para 2015, o BC espera um avanço de 12%, puxado novamente pelos bancos estatais, que devem registrar expansão de 14%.

O ritmo de crescimento das concessões de novos financiamentos caiu de 12% em 2013 para 5% em 2014, considerando todo o mercado.
Os bancos públicos terminaram o ano com 53% de participação de mercado, a maior desde 1998, época que precede a privatização de várias instituições.Eles devem terminar este ano com participação de 55%.

O freio no crédito nos bancos privados ajudou a reduzir a inadimplência, que passou de 4,3% para 4% nos nacionais e de 4,1% para 3,5% nos estrangeiros que atuam no Brasil. Nos estatais, subiu de 1,8% para 2,1%.

Reportagem da Folha de setembro mostrou que essa alta nos atrasos tem sido puxada pela Caixa, que apresenta resultado até piores que o setor privado nas linhas ao consumo.

Habitação

O avanço dos públicos tem sido impulsionado por modalidades com juros subsidiados, como o habitacional e o crédito do BNDES. Essa primeira linha mostrou desaceleração no ano passado, mas ainda cresce a um ritmo elevado, de quase 30% ao ano.

A alta nos juros da Caixa nessa linha deve contribuir para que esse crescimento seja um pouco menor em 2015.
Em relação ao BNDES, o governo já anunciou a disposição de reduzir a atuação dessa instituição.

No ano passado, o banco liberou menos crédito, com queda de 0,5% nos desembolsos. As concessões na principal linha para empresas a juros de mercado, o capital de giro, no entanto, recuaram ainda mais (-12%).

Veículos

A liberação de novos financiamentos para compra de veículos por pessoas físicas alcançou em dezembro do ano passado o maior valor desde dezembro de 2010. A concessão de R$ 10,1 bilhões foi influenciada, segundo o Banco Central, pelo fim do benefício do IPI reduzido, no final do mês.

Em dezembro, as concessões subiram 24% em relação a novembro. No ano, no entanto, o avanço foi de 2,6%.

O estoque de financiamentos para veículos caiu 4,4% no ano. Segundo o BC, o dado reflete a antecipação da compra desses bens em anos anteriores. Em 2010, por exemplo, essa carteira avançou 49%. Em 2011, 27%. Desde 2013 o saldo tem recuado.

Segundo o BC, a tendência é que a antecipação de compras para aproveitar o benefício (que ainda é oferecido por algumas montadoras) leve novamente a uma queda nos próximos meses.

Para o BC, o aumento do IOF no crédito às pessoas físicas que começou a valer semana passada deve ter impacto “modesto” sobre o crédito neste ano. Segundo a instituição, a alta de 1,5% para 3,0% no tributo pesa mais para os empréstimos de curto prazo, uma vez que a cobrança se dá nos 12 primeiros meses da operação.

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