Com a desaceleração de alguns indicadores inflacionários, os banqueiros ensaiam uma pequena variação no seu discurso de que aumento de salário representa um risco para a inflação.
Até algumas semanas atrás, o discurso dos empresários em geral, com grande repercussão na mídia, era de que não poderia haver aumento de salários em face da aceleração da inflação. O argumento era repetido, a despeito dos esclarecimentos do Dieese e de outros economistas de que não havia o risco de inflação por demanda e que a pequena escalada inflacionária circunscrevia-se a problemas localizados.
Em nota técnica divulgada no dia 18 de agosto para subsidiar a discussão dos sindicatos cujas categorias têm data-base no segundo semestre, o Dieese refutou a tese de que a busca por aumento de salário representa um risco para a inflação. Reconhecendo que quem mais tem a perder com a inflação são os trabalhadores, o estudo mostrou que a pequena alta inflacionária dos últimos meses deve-se a questões externas e ao aumento dos preços de alguns produtos agrícolas circunscritos, mas que essa tendência está perdendo força e não pode ser um impeditivo para que os trabalhadores busquem aumentos reais de salários.
A avaliação do Dieese mostrou-se correta. O aumento de preços dessas commodities arrefeceu e a inflação está desacelerando. Mas em entrevista publicada neste domingo pela Folha de São Paulo, o presidente da Fenaban e do Santander, Fábio Barbosa, insiste na tese, com uma pequena variante.
“A inflação está mostrando sinais de desaceleração, o que é muito bom. Estamos vivendo agora uma época de reajustes salariais e é importante que eles não contaminem a economia e dificultem esse processo de desaceleração de preços”, disse Fábio Barbosa, num claro recado de que os bancos não pretendem atender a reivindicação de aumento real dos bancários.
“Esse tipo de argumento é uma falácia, uma vez que os reajustes salariais são para compensar perdas passadas”, responde Vagner Freitas, presidente da Contrf/CUT e coordenador do Comando Nacional. “No ano passado, o sistema financeiro aumentou a produtividade em 13%, contra 5,3% de crescimento do PIB, e nos últimos 12 meses a produtividade foi maior ainda, de 14,5%. O que significa que nossas reivindicações podem ser atendidas sem nenhum risco de inflação. Mas também fica claro que para conquistar esse objetivo os bancários terão de fazer uma grande mobilização para pressionar os banqueiros.”
O Dieese endossa a posição da Contraf/CUT. “Os trabalhadores não devem aceitar que os custos do combate à inflação lhes sejam transferidos, especialmente se considerado que o bom desempenho do mercado de trabalho”, afirma o documento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-econômicos.
Ao contrário do argumento dos empresários, para o Dieese conquistar reajustes é a melhor maneira de os trabalhadores se protegerem da “transferência direta de renda para os setores que são credores da dívida pública interna”, provocada pela elevação da taxa básica de juros nos últimos meses. Quem se beneficia dessa transferência são os bancos, as empresas, fundos financeiros e pessoas físicas de renda alta que possuem títulos da dívida pública.
Além de lutar por aumento de salário, o Dieese sugere uma série de medidas que devem ser tomadas pelos sindicatos para proteger os salários mais baixos, e portanto mais suscetíveis de perdas em razão do aumento dos preços de produtos alimentícios básicos. Todas essas medidas estão incluídas na pauta de reivindicações da Campanha Nacional dos Bancários que está sendo negociada com os banqueiros.
Conheça o estudo completo do Dieese no link. http://www.contrafcut.org.br/download/Arquivo/08819121911.pdf