Ato em Brasília defende Banco Central independente dos banqueiros

Mobilização da CUT denuncia interesses nefastos do mercado financeiro

Criado no auge da ditadura militar, em 1964, o Banco Central pode ficar completamente atrelado aos interesses nefastos do mercado financeiro e dos banqueiros, caso vingue o projeto político de candidatos à presidência da República, como o de Marina Silva e Aécio Neves, que vendem uma suposta independência do Banco Central (Bacen) como solução para vários problemas econômicos.

Para combater essa iniciativa enganosa, a CUT Brasília, o Sindicato dos Bancários de Brasília, Contraf-CUT e diversos sindicatos filiados à Central realizaram na terça-feira (9) um ato em frente ao Bacen, em defesa de um BC independente dos banqueiros, dos especuladores financeiros e em favor do interesse público, do povo brasileiro.

O ato foi o ápice de uma série de atividades realizadas no mesmo dia nas agências do Distrito Federal, com o objetivo de dialogar com a população sobre a exploração que os bancos impõem à sociedade, através das tarifas exorbitantes de serviço e juros; da ameaça aos empregos e à jornada de trabalho, através da terceirização ilimitada dos serviços; e, principalmente, do risco de este cenário ficar ainda pior com a possibilidade de tornar o Banco Central independente dos poderes brasileiros.

“A independência do Banco Central traz uma série de problemas na implantação de políticas econômicas. Isso teria como reflexo o desinteresse de regular o sistema financeiro para que ele possa de fato ter crédito direcionado à população, com taxas de juros mais baixas, além de liberar todo tipo de atuação dos bancos privados. A independência do Banco Central interessa aos especuladores e a apenas cerca de 40 mil famílias brasileiras”, afirma o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo.

Para a CUT Brasília, a Contraf-CUT e os sindicatos filiados, o debate a ser pautado não deve abordar a independência do Banco Central, mas a participação da sociedade nas decisões do Bacen, como agente fiscalizador.

“A discussão que temos que fazer é sobre um Banco Central que realmente atenda os anseios da sociedade e não faça um papel que não é o dele, que é legislar sobre a regulamentação do sistema financeiro para precarizar o direito dos trabalhadores e atender unicamente a ganância dos banqueiros”, afirma o presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto.

Mais juros, menos crescimento econômico

O secretário de Organização da Contraf-CUT, Miguel Pereira, explica que o Bacen é o mais importante instrumento de políticas públicas ligadas à economia, e que a tal independência do órgão só traria benefícios aos banqueiros e especuladores financeiros.

“É uma análise fácil de ser feita. A lógica dos bancos, principalmente os privados, é de lucro. Se eu não tenho um regulador, que segura as taxas de juros e propõe crédito produtivo, eu vou querer manter lucros altíssimos através da taxa de juros elevada, ainda que isso desempregue milhões de pessoas. Temos que fazer a pergunta: Banco Central independente de quem? Quem vai ditar as normas da política econômica, de crédito?”, indaga.

O dirigente da Contraf-CUT informa ainda que “a cada meio ponto de elevação na taxa básica de juros, R$ 3 bilhões são drenados da economia, dos investimentos em saúde, em educação, para pagar a dívida pública para banqueiros. Além disso, quanto mais os juros sobem, mais difícil fica a concessão de crédito à produção, mais enfraquecida fica a economia, menor é a geração de emprego e renda”.

Pacote de ataques à economia brasileira

Para as entidades, o programa de Marina Silva e Aécio Neves apresenta um pacote de ataques à economia e às políticas sociais. Além da independência do Banco Central, esses candidatos à presidência do Brasil também pretendem retrair o crédito direcionado à produção e reduzir o papel dos bancos públicos, que têm tido um papel fundamental para baratear o crédito.

Nos últimos anos, o crédito para produção no Brasil cresceu de 25% para 50% do PIB, sendo que, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES são responsáveis por mais da metade desse resultado. “Os bancos privados nunca se envolveram na oferta de crédito produtivo. Eles têm as financeiras deles com taxas muito mais distorcidas para consumo. Mas para capital de giro, é Banco do Brasil, BNDES ou Caixa. Banco privado não corre risco. Ganham com inflação ou com o aumento da taxa Selic”, explica Miguel Pereira.

O dirigente sindical afirma que, na lógica da redução de crédito produtivo, programas já implementados nos governos Lula e Dilma, como os de crédito para agricultura familiar, Minha Casa Minha Vida, Prouni, deixariam de existir. “Só há expansão da economia com expansão de crédito”, avalia Miguel Pereira, lembrando a forma com a qual o Brasil superou a crise internacional nos últimos anos.

Coincidência ou evidência?

O pacote econômico ofertado por Aécio já é conhecido. Basta lembrar das privatizações, da política de reajuste zero, do desemprego em massa, dos privilégios do setor especulador da era FHC.

Já o pacote econômico proposto por Marina Silva não é diferente, já que a coordenadora de programa de governo e maior apoiadora da campanha da candidata é Neca Setúbal, principal herdeira do Itaú Unibanco.

Essas questões foram as mais citadas pelos dirigentes sindicais. Também foi lembrado o fato de que Neca ter doado R$ 1 milhão e bancado 83% dos custos do instituto de Marina Silva no ano passado.

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