São Paulo – O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou hoje (17) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava disposto a comparecer ao Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista, para mais uma vez reiterar que nada tem a ver com a propriedade do apartamento do Guarujá, que a família pretendia adquirir pela Bancoop (cooperativa dos bancários), mas anunciou a desistência, em 2010. Lula e sua mulher, Marisa Letícia, haviam sido convocados a depor sobre o tema nesta quarta-feira pelo MP paulista, mas a sessão foi suspensa na noite de ontem.
Para Okamotto, a tentativa do promotor Cássio Conserino de trazer o ex-presidente para depor configuraria uso político indevido do Ministério Público para promover interesses particulares. “O presidente Lula estava disposto a vir prestar depoimento. Infelizmente, por conta da arbitrariedade do promotor, o depoimento foi suspenso e essa oportunidade não foi concretizada”, afirmou Okamoto.
Ainda segundo Okamotto, o instituto que dirige prestou, por diversas vezes, esclarecimentos por escrito à imprensa e à Justiça, dando conta de que a tentativa de associar o ex-presidente ao apartamento "é simplesmente uma forma de incriminar e desgastar a imagem do político mais importante do país, nos últimos tempos".
Na rua
A manifestação de apoio ao ex-presidente, mantida pelos organizadores mesmo depois da notícia da suspensão dos depoimentos, teve início já nas primeiras horas da manhã, reunindo integrantes de movimentos sociais, do movimento sindical e dirigentes partidários. Estiveram presentes ativistas do Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Espírito Santo e de várias cidades do interior de São Paulo.
Por volta das 11h, cerca de 2.500 pessoas fecharam uma das faixas da Avenida Dr. Abrahão Ribeiro, em frenteao fórum. Do outro lado, um bloco de cerca de 50 integrantes de movimentos conservadores pediam intervenção militar e a queda da presidenta Dilma Rousseff, com faixas saudando a Polícia Militar. Alguns chegaram a atirar objetos. Uma pedra atingiu uma ativista do movimento em defesa do presidente Lula.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), autor da representação ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que causou a suspensão do depoimento do ex-presidente, participou do ato. Segundo ele, trata-se de um ato pró-democracia, em defesa do Estado de direito, e também em defesa da Constituição Federal e do próprio Ministério Público, porque "o promotor que quis abusar de suas prerrogativas para incriminar o presidente Lula não tinha o direito de conduzir esse processo".
O deputado Wadih Damous (PT-RJ) também esteve presente. “Este promotor que quis incriminá-lo vai ter seus 15 minutos de fama por abusar de suas prerrogativas como promotor, por manchar o papel importante do Ministério Público para a democracia brasileira. As pessoas precisam entender que a história não pode ser resolvida numa canetada. Quem quiser governar, precisa ganhar a eleição.”
"O que está acontecendo, por parte de uma parcela da sociedade, de uma parcela da Justiça e parte da imprensa, é uma tentativa de desmobilizar, de desmoralizar um projeto de instituir a justiça social no país, atacando uma pessoa que sintetiza esse projeto político de promoção da igualdade e de combate às injustiças sociais", disse Okamoto.
Choques
Manifestantes contra Lula presentes ao local tentaram inflar um boneco em que o ex-presidente aparece vestido com roupa de presidiário – o Pixuleco. Um dos organizadores da manifestação de apoio a Lula, Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares (CMP), solicitou ao tenente-coronel Pereira, que comandava o contingente policial no local, para intervir e aconselhar os militantes a interromper a provocação, sob risco de um acirramento dos ânimos. O militar, porém, disse que não podia impedir a exibição do boneco e foi acusado de fazer "corpo mole" pelos ativistas.
O pequeno contingente policial presente ao Fórum da Barra Funda foi reforçado por um grupo de soldados da Tropa de Choque, que formou um cordão de isolamento para impedir que os manifestantes ocupassem a área até então ocupada pelo grupo contra o ex-presidente.
Por volta das 12h30, os manifestantes ligados a grupos como Revoltados Online e Movimento nas Ruas tentaram inflar o boneco. Os coordenadores do ato pró-Lula voltaram a apelar para que a polícia interviesse e evitasse que a provocação terminasse em confronto. Militantes dos movimentos sociais tentaram se aproximar do local onde estava o boneco e foram contidos com bombas de gás, cassetetes e sprays de pimenta.
Minutos depois, um grupo conseguiu furar o cerco e furar o Pixuleco. Integrantes dos dois lados foram vistos com sinais de agressão no rosto e levados pela polícia para o interior do fórum. Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares, afirmou que quatro manifestantes pró Lula ficaram feridos na confusão. Marcelo Reis, líder do Revoltados Online. foi visto pela reportagem com uma mancha roxa no rosto.
Carla Zambelli, que se disse integrante do Movimento Nacional dos Movimentos Democráticos – que agrega, segundo ela, 43 organizações anti-governo –, afirmou que o conselheiro do CNMP que concedeu a liminar suspendendo o depoimento de Lula não tem credibilidade por ter ocupado cargo na Petrobras. Ela afirmou que a presença no ato de hoje é "só o começo" e anunciou a convocação para um novo dia de protestos no dia 13 de março.