Assembleia sindical na Rio+20 termina com proposta de aliança internacional

Movimento sindical deve entrar na disputa por modelo de desenvolvimento

Após três dias de intensos debates, os 400 representantes de 66 organizações sindicais de todo mundo encerraram na noite de quarta-feira (13), no Rio de Janeiro, a II Assembleia Sindical sobre Trabalho e Meio Ambiente.

Ao final, as lideranças da classe trabalhadora deixaram claro que, se o momento de crise é ideal para ampliar a participação dos movimentos sociais e exigir a transição do atual modelo para outro sustentável, inclusivo e democrático, também é necessário estabelecer amplas alianças para avançar nessa luta.

“O Fórum Social Mundial fracassou porque reflete, reflete, reflete, mas na hora de tentar fazer ações não consegue promover unidade. Juntamos nossas forças na América do Sul para eleger governos do campo democrático e popular para derrotar as tentativas de tratados de livre comércio e agora temos o desafio de entrar em uma conjuntura de vitória e sair do momento de letargia. Precisamos ir além da nossa profissão, da nossa categoria e das barreiras do nosso país”, defendeu o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício.

Papel do movimento sindical

Enfatizando a falência do sistema neoliberal, como nos debates dos dias anteriores, o Secretário de Políticas Econômicas e Desenvolvimento Sustentável da Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas (CSA), Rafael Freire, destacou que o efeito estufa não é resultado simplesmente do aumento da população, mas também do avanço desse modelo.

“Ou os sindicatos entram nessa disputa política ou irão acabar. Se não tivermos outro pensamento vigente no mundo, não teremos saída. Essa é a primeira geração na Europa que não tem os mesmos direitos que os pais tiveram.”

Diretor do Programa de Empregos Verdes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Peter Poschen, abordou o labirinto que a relação entre esgotamento dos recursos naturais e trabalho decente acaba por promover. “O consumo excessivo de recursos naturais não permite criação de empregos verdes e a promoção de trabalho decente, porque os impactos ambientais influem diretamente na economia”, explicou.

Aliança contra exploração da mão-de-obra

Coordenador no Brasil do programa “Jogo Limpo”, que investiga a situação dos trabalhadores ligados a grandes eventos esportivas, Ramón Szermeta também ressaltou a importância de construir uma rede de lutas para combater a truculência de entidades como a Fifa, que desrespeitos leis trabalhistas e a soberania dos países.

“Eventos esportivos internacionais exigem respostas mais coordenadas e firmes do movimento sindical e da sociedade civil diante do impacto que causam nos países. Temos desafios como unificar a luta em defesa dos direitos do imigrantes e pensar ações conjuntas para defendê-los”, afirma Ramón.

Já Freire se mostrou otimista com o resultado do encontro. “Essa assembleia prova que mesmo na adversidade é possível debater e, mesmo divergindo, construir sínteses. Não tenho dúvidas de que o mundo saberá que sim, temos propostas, sim, vamos resistir e sim, continuaremos lutando por melhores condições para todos os trabalhadores.”

Declaração final

Na última parte da assembleia, o dirigente da CSA leu uma carta enviada pelo ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, que lamentou não poder estar presente por problemas de saúde. “O avanço da ciência e da economia deve ser utilizado para acabar com a fome no mundo. Discutir desenvolvimento sustentável é, antes de tudo, discutir o fim da fome”, dizia um dos trechos.

A seguir, a assembleia discutiu e apontou alterações no rascunho da resolução, que traz o resultado dos debates nos grupos de trabalho. O documento final deve ser divulgado até amanhã e você poderá conhecê-lo aqui no Portal da CUT.

Secretária-geral da CSI-ITUC, Sharan Burrow, encerrou a mesa final destacando a necessidade de implementar o Piso de Proteção Social como parte do desenvolvimento sustentável, ao permitir o acesso público a serviços públicos de qualidade como saúde e educação, e apontou que cabe aos trabalhadores combater o ataque a direitos.

“Há governos que atacam seus próprios cidadãos e são covardes diante do mercado financeiro. Então, temos que inverter esse modelo. Temos poder e conseguiremos fazer isso se nos esforçarmos. Precisamos dessa mudança.”

Próximos passos

Com o final da Assembleia Sindical, a CUT centra seus esforços nos debates da parte oficial da Rio+20 (entre os dias 13 e 22) e, principalmente, na Cúpula dos Povos (15-23), onde a entidade manterá a Tenda-Florestan Fernandes, no Aterro do Flamengo. Lá, promoverá diversas atividades, com destaque para dois debates no dia 18.

Nos dia 18, as trabalhadoras cutistas participam de uma marcha pelo centro da capital carioca e, no dia 20, da grande marcha dos movimentos sociais.

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