O presidente da CUT Artur Henrique fala sobre os 25 anos da CUT em entrevista publicada pela Carta Capital. Veja abaixo a íntegra da conversa.
Há 25 anos, a CUT, Central Única dos Trabalhadores, surgia em meio a ditadura militar, como movimento de luta pela democracia e direitos da classe trabalhadora. Em 2008, comemorando sua efeméride, a maior central sindical do país em número de sindicatos filiados, já não se considera de oposição. A proximidade declarada da CUT ao governo Lula permitiu uma ampliação das negociações, o que segundo o presidente Arthur Henrique não comprometeu a autonomia da central.
Para a CUT, ainda que o cenário político seja o mais favorável na história do país, a pauta de reivindicações se mantém e o apoio ao governo é crítico. CartaCapital falou com Arthur Henrique, eleito presidente da Central em 2006, com cerca de 70% dos votos para um mandato de três anos.
CC: Qual é o balanço do senhor da atuação da CUT nesses 25 anos, desde a época da ditadura quando surgiu, passando pelo FHC e hoje, no governo Lula?
AH: A CUT nesses 25 anos viveu várias fases. A primeira delas foi a do novo sindicalismo, do nascimento da nossa Central em 1983 quando todo o debate a respeito da luta pela democracia, pela anistia, pelas eleições diretas envolviam o conjunto da sociedade brasileira.
A CUT nasceu em meio a esse movimento pela democratização do país, pelo direito à cidadania. Durante a década de 80 tivemos um grande crescimento, inclusive das ações da CUT, principalmente quando conquistamos importantes vitórias na Constituição de 88. Na década de 90, principalmente com os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, passamos numa situação de resistência aos ataques aos direitos dos trabalhadores, resistência ao projeto neoliberal que estava aqui implantado no país.
CC: Como o senhor avalia esse período?
AH: Foi um período de privatização, de desemprego em massa, de criminalização dos movimentos sociais. Tempos difíceis para a classe trabalhadora e a CUT também sofreu com isso.
CC: E a fase atual?
AH: É a fase de um governo democrático popular que dialoga com os movimentos sociais e que tem um importante papel no sentido de recolocar no centro do debate nacional tanto a questão do trabalho, do desemprego, da renda da cidadania, como também colocar o papel do Estado como indutor da economia, do desenvolvimento. Acho que são esses dois elementos que marcam a nossa relação com o governo Lula. Continuaremos exigindo e reivindicando a pauta de reivindicação dos trabalhadores, a agenda sindical, a implementação das nossas propostas porque, mesmo tendo diálogo, mesmo tendo respeito ao movimento social, não quer dizer que todas as nossas reivindicações são atendidas. É preciso aliar o processo de mobilização com o processo de negociação, que nesse período tem sido conquistador pela nossa central sindical. Acho que foram 25 anos em que a gente conseguiu se transformar na primeira central sindical do Brasil, na quinta sindical do mundo, em número de sindicatos filiados, em número de trabalhadores filiados aos nossos sindicatos, o que mostra o acerto da política desenvolvida pela Central nesses últimos 25 anos.
CC: Quando o senhor foi eleito presidente, a CUT estava dividida entre aqueles que apoiavam o Lula incondicionalmente, os que não o apoiavam de maneira alguma e aqueles que o apoiavam mediante uma plataforma de exigências de reformas. Qual é a avaliação da CUT do governo Lula agora no segundo mandato?
AH: Não houve uma divisão na CUT quanto ao apoio ao governo Lula. Tínhamos, no período do primeiro mandato do governo Lula uma minoria de 3% que defendia a candidatura do companheiro José Maria, naquela época ainda nossa Central Sindical, e que acabou saindo para formar o Conlutas, do PSTU. Uma outra parte, 20%, que defendia um apoio crítico ao Lula e sua proposta de eleição e a grande maioria, quase 70 % dos agentes sindicais da central entendiam que o que estava naquele momento em disputa na sociedade brasileira eram dois projetos e que era importante um posicionamento da CUT no sentido de apoiar um projeto democrático popular simbolizado pelo governo Lula.
CC: Recentemente o MST foi condenado a pagar uma indenização a Vale, o que gerou um debate sobre a atual criminalização dos movimentos sociais. Qual é a avaliação do senhor quanto a isso?
AH: O que nós estamos assistindo hoje não é a criminalização dos movimentos sociais pelo governo Lula. As ações contra o MST estão sendo feitas no Rio Grande do Sul pela governadora Yeda Crusius do PSDB. Portanto a criminalização é e continua sendo feita pelos tucanos. A Yeda Crusius, o seu governo e outros governos tucanos, outros democratas da direita é que estão fazendo todo um processo, inclusive usando parte da mídia para fazer essa criminalização, não só do MST como também dos sindicatos, dos agentes sindicais e da própria CUT em vários desses estados que são controlados por essa direita que foi derrotada nas eleições para presidência da República, mas que se mantém nesses governos estaduais.
CC: E quanto às leis sindicais que foram aprovadas em novembro do ano passado que, entre outras normas que dizem respeito aos sindicatos, exige sua legalização?
AH: Nós entendemos que o primeiro passo para a mudança da estrutura sindical brasileira foi dado com a aprovação dos reconhecimentos das centrais sindicais. Mas é preciso ter claro que esse é o primeiro passo. Nós precisamos ampliar as mudanças da estrutura sindical brasileira. Isso equivale a aprovar rapidamente, segundo o próprio acordo que foi feito entre as centrais sindicais e o governo de aprovar um projeto de lei pondo fim ao imposto sindical e estabelecendo a contribuição da negociação coletiva aprovada em assembléia pelos próprios trabalhadores. É preciso uma legislação que garanta a organização no local de trabalho, que proíba as práticas anti-sindicais. Esse conjunto de mudanças na legislação ainda é necessário para mudar, para democratizar a estrutura sindical brasileira.
CC: Em relação à política monetária e fiscal posta em prática pelo governo Lula, qual é a posição da CUT?
AH: Temos críticas muito grandes à proposta implementada pelo Banco Central de continuar elevando os juros da economia para manter a inflação sobre controle. Ninguém quer a volta da inflação. Entendemos que é preciso diminuir os juros para dar mais condições de gerar crescimento econômico, o desenvolvimento, a distribuição de renda e não aumentar os juros. Nós estamos vivendo no mundo um momento de crise de inflação provocada principalmente pelo aumento dos alimentos. É preciso, portanto, ter uma grande presença e fortalecimento da agricultura familiar para produção de alimentos, combatendo os especuladores que querem ganhar dinheiro no mercado de commodities, de produtos futuros como o alimento. É preciso fazer a reforma agrária. Entendemos, também, que a política monetária, de aumento dos juros e do superávit primário não condiz com aquilo que interessa ao conjunto da classe trabalhadora. Nós queremos menos superávit, menos juros e mais investimentos em políticas públicas como saúde, segurança, educação. É o que o povo precisa.