Brasil 247
De terno e gravata, em seu gabinete ou em palestras ao mercado, o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal, tem-se mostrado um dos mais reticentes, entre os grandes banqueiros do País, em apoiar e praticar a política do governo de baixar juros, reduzir margens de lucro e ampliar os empréstimos ao público. Na contramão da política de crescimento, a instituição que ele preside demitiu 7.728 sete mil funcionários nos últimos doze meses, nas contas das entidades de classe dos bancários, e, sempre que pode, o próprio Setúbal lança farpas de ironia sobre os incentivos oficiais a um novo momento no setor. “O crédito não vai mais subir no ritmo de 30% ao ano”, determinou Setúbal, na quarta-feira 20, em palestra. “Árvores não crescem até o céu.
A mesma crueza não se vê nas frases de outra face pública do Itaú, o garoto propaganda Luciano Huck, de camisa laranja. Na publicidade da tevê, o eterno rapaz diz que o Itaú é um banco dos novos tempos, que reconhece que o Brasil mudou e que está mudando junto. Um banco feito para ajudar, alinhado, aparentemente, com a direção que os últimos governos vêm apontando para a sociedade. Uma propaganda de fundo político, assim. Na vida real ditada por Setúbal, no entanto, esse apoio é de todo complicado. “Empréstimo exige capital e capital precisa ser remunerado. O problema não está nas margens grandes”, afirmou ele em sua palestra na quarta, fazendo, nitidamente, uma defesa dos ‘grandes’ spreads, que é como são chamadas as diferenças entre o preço de captação de dinheiro de um banco e o valor que este mesmo banco cobra para emprestar a seus clientes. “Há pressões por todos os lados”, reconheceu, sobre o movimento do governo e da sociedade contra os altos spreads. “No fim, a racionalidade vai prevalecer”.
Em defesa de seu lucro de R$ 3,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano, não daria para o presidente do Itaú dizer que se tratou de pouco dinheiro, mas ele deu um jeito de reclamar do resultado. “Os lucros são nominalmente altos, mas não a rentabilidade”, acentuou.
Diante da discrepância entre o que o Itaú prega em suas propagandas com Huck e a estratégia que revela com Setúbal, vale sempre perguntar qual das caras do Itaú é a que realmente vale.