Os interesses de classe
Por William Mendes*
No próximo domingo, dia 1o de outubro, o povo brasileiro vai às urnas para eleger seus representantes nos parlamentos e nos executivos. É um momento ímpar, único, para o chamado “povo”. Não falo aqui no sentido lato sensu e sim no stricto sensu.
No lato sensu o povo equivale aos 185 milhões de brasileiros. No stricto sensu retiro certos grupos constituintes da sociedade como banqueiros, rentistas, grandes empresários, os grandes “coronéis” ou “caciques” que dominam este país há 500 anos.
É o dia em que o voto do bancário, do desempregado, da professora, do auxiliar de limpeza vale o mesmo que o do presidente do Bradesco e Fenaban. Que vale o mesmo que o do dono da Globo, da Editora Abril, da Folha e do Estadão.
Este poder do voto é referente ao conceito que a filósofa Marilena Chauí muito bem explica no livro Leituras da Crise, onde cita Aristóteles:
“Aristóteles também distinguiu entre virtudes privadas e virtudes públicas, isto é, pensou numa ética pública, na qual a virtude central é a justiça. Distinguiu entre justiça do partilhável ou distributiva – que se refere à distribuição dos bens e ao problema da desigualdade – e justiça do participável ou participativa – que se refere ao exercício do poder e à igualdade… a justiça participativa, se refere ao que só pode ser participado, ou seja, ao poder político, que pertence a todos os cidadãos igualmente”.
O povo percorreu um longo tempo para poder exercer esse direito de igualdade.
No início só votavam os abastados (e só os homens). Com a luta pela verdadeira democracia, fomos incluindo os grandes segmentos de excluídos da sociedade até chegarmos ao voto universal.
Após a direita capitalista nas Américas (Central e do Sul) ter sofrido tantas derrotas na última década, sua grande mídia tem começado a dar vazão novamente às teses de que o povo não sabe votar e que isto tem sido responsável por candidatos de esquerda ou centro-esquerda estarem vencendo as eleições aqui nos trópicos. A elite tem dito “é um absurdo gente pobre e analfabeta decidir os rumos do país”.
O embate eleitoral de classes – todos têm lado
O melhor momento para se desmascarar a falácia do conceito de “imparcial”, “isento” e “neutro” é em períodos eleitorais. Fica-se evidente que todos têm lado.
E é natural que todos o tenham.
Afinal de contas o desempregado, o bancário, o sem-terra não deve ter o mesmo interesse que o dono de banco, que o dono de empresa, que o dono de jornal e TV.
Sendo assim, o voto deve significar representação de classe. Tanto nas legendas partidárias como nos candidatos dentro das legendas.
É aqui que o povo a que me refiro ganha força. No dia da eleição, podemos eleger para a presidência e para o governo dos estados e Distrito Federal, partidos e pessoas que pensam em fazer um governo para o povo.
A grande mídia da elite tem trabalhado incansavelmente para desqualificar a política e o parlamento (Congresso Nacional e Assembléias Legislativas). O interesse por trás disso, é vender a idéia de que política é coisa de profissional, de gente técnica, de gente “competente”.
Não podemos cair nessa lógica elitista e conservadora.
O povo tem que eleger para os parlamentos os seus representantes. Há que se atentar para os partidos destes candidatos pois, há partidos como PFL, PSDB, PP e outros que defendem políticas que privilegiam os mais ricos e há partidos como PT, PC do B, PSB e outros de esquerda que defendem o público e os direitos de todos. É evidente que não preciso citar aqui as dezenas de partidos existentes hoje.
O papel da classe trabalhadora (o povo) nesta eleição
Temos um compromisso neste domingo, 1o de outubro. Eleger a continuidade das mudanças positivas implantadas pelo governo Lula ou retroceder a tudo aquilo que foi o Brasil até 2002, no governo dos tucanos.
Os números estão aí. Redução da pobreza, inflação baixa, milhões de empregos gerados, praticamente 100% dos trabalhadores brasileiros conseguindo aumento real em seus acordos coletivos e, muito importante, tratamento de forma muito mais justa para os servidores do Estado em todos os níveis com o fim do congelamento salarial e contratação por concurso público para melhorar as condições de trabalho e atendimento à Nação, reestruturação do Estado Brasileiro que permitiu maior combate à corrupção, maiores programas sociais da história do Brasil como o Bolsa Família e ProUni – que está permitindo a cerca de 300 mil jovens das classes C e D (povo) fazer sua faculdade etc.
Temos outro compromisso importantíssimo nesta eleição: eleger deputados dos partidos que estarão ao lado do governo Lula. É muito importante para ter os projetos do povo aprovados nos parlamentos (Federal e Estadual). Votem nos candidatos da coligação do presidente Lula – PT, PC do B e PRB.
O ideal para os trabalhadores seria atingir maioria de candidatos ligados ao povo, ou seja, termos na Câmara Federal de 257 a 308 deputados federais para aprovação de leis ordinárias e complementares a favor das mudanças sociais necessárias, sem a grande dependência que este mandato teve para constituir maioria no parlamento.
Temos ainda no campo da esquerda ou centro-esquerda outros partidos que representam os trabalhadores brasileiros, e que naturalmente não são os partidos de direita e conservadores.
Neste domingo, não deixemos que a minoria elitista e reacionária nos engane. Vamos fazer o bom embate de classes e eleger os nossos candidatos, ou seja, os candidatos do povo.
* William Mendes é secretário de Imprensa da Contraf-CUT e funcionário do Banco do Brasil