Por Sérgio Braga Vilas Boas*
Estamos acompanhando o andamento do clima organizacional nas agências Banco do Brasil. Há denúncias as mais diversas sobre o "método" administrativo utilizado em determinados locais de trabalho. Entendo a impaciência e a agonia de muitos, mas é preciso tomar alguns cuidados com esse tipo de situação. Temos conversado com pessoas, e, continuado a receber denúncias.
Por que é preciso cautela? Porque o Assédio moral é hoje uma tônica dentro das empresas, e profundamente complexas são as suas causas! È vertical e atinge toda a sua estrutura de comando. Está levando a relação social que existe nas organizações à total e completa decrepitude. Os indivíduos, capitalistas (ou seus prepostos) e trabalhadores, estão sempre sob ameaça de abstrações despóticas e incontroláveis.
A cultura do dinheiro, a persecução frenética dos resultados, " leva os quatro pilares ideológicos, jurídicos e morais do alto capitalismo – constituições, contratos, cidadania e sociedade civil – a serem, hoje, vadios maltrapilhos, mas sempre lavados, barbeados e vestidos com roupas novas para esconder sua verdadeira situação de penúria" , como atesta Luiz Gonzaga Belluzzo em recente artigo.
Max Weber, em a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, publicado originalmente em dois extensos artigos em 1904 e 1905, respectivamente, diz em seu capítulo II: "… aqueles que se entregam à fome de riqueza sem reservas, como a um impulso descontrolado, como aquele capitão de mar holandês que atravessaria o inferno por lucro, mesmo que chamuscasse suas velas, não são de fato os representantes daquela atitude mental da qual deriva o espírito do moderno capitalismo". Na verdade Weber acreditava, penso eu, nas teses de um dos reformadores, Jean Cauvin (o Calvino), donde a propriedade, o lucro e o trabalho deviam ser utilizados para o bem comum.
Karl Marx, ao contrário de Weber, atestou que o cerne da questão está exatamente no modo e na forma como se organiza a produção, ao dizer em a Ideologia Alemã (1845/1846): "O modo de produção da vida material determina o caráter geral dos processos da vida social e política. Não é a consciência dos homens o que lhes determina a realidade objetiva, mas, ao contrário, a realidade social é que lhes determina a consciência" . Parece-me que Marx, a despeito de não ser cristão, entendeu melhor a máxima do Cristo explicitada em Marcos 2:27: O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado . O homem é sujeito principal das organizações e das sociedades. É fim, e não meio. O capitalismo inverte a máxima.
Pois bem, partindo da afirmação Marxista, a consciência dos homens foi solapada. Internalizada a tese do capital, agem feito máquinas a ferir os demais sujeitos da relação social em questão, e isso lhes faz muito mal! Não é incomum escutar, sob pedidos de sigilo, depoimentos de parentes próximos de gerentes, postos efetivos, caixas, ou até mesmo dos próprios, sobre há quantas noites não dormem; de quantas vezes acordaram no meio dela e ficaram "zanzando" pela casa sem sono; que nos seus sonhos – os que dormem bem – consórcios, ourocaps, seguros, contas, cartões, são presença obrigatória; úlceras, LER/DORT escondidas, crises de choro e etc. Os que se aposentam, sobem apressados a escada em forma de caracol que leva ao departamento jurídico do sindicato, com largo sorriso e expressão de alívio, e desabafam: graças a Deus, paz!
A despeito da cautela necessária argumentada supra, e de pensar que o furacão que envolve as empresas e suas relações sociais internas não pode ser solucionado no varejo, convenhamos: há métodos, e métodos. Mesmo no inferno, procurando-se pacientemente, haverá um lugar onde o fogo queime menos! E isso significa RESISTIR!
RESISTIR é separar os efeitos nefastos gerados pelo modo e organização da produção, ambos sociais, efeito e causa, da simples deseducação ou inabilidade em administrar conflitos. RESISTIR É NÃO TOMAR PARTE DESSA CONSPIRAÇÃO CONTRA SÍ PRÓPRIO, CONTRA O HOMEM! Lidar com pessoas é tarefa difícil e gratificante! Melhor conquistá-las a tê-las sob ameaça! È PRECISO CONVERGIR PARA O ÓBVIO! TODOS NÓS SOMOS VÍTIMAS!
Enfim, tenho plena consciência que as pessoas não querem ouvir teses, ou razões sócio-antropológicas sobre o problema. Quem está com fome quer, naquele momento, comer, não importando que razões o levaram à situação. Temos procurado através da negociação junto às instâncias superiores dar solução ao problema. Acredito nas pessoas com quem tenho conversado, negociado. Em muitos casos temos conseguido melhorar significativamente o quadro dessa forma. Todavia não vamos abrir mão de cumprir o nosso papel de forma mais incisiva. Repito, acredito nos interlocutores que tenho procurado, mas, uma reação futura que se realiza face ao compasso de espera tornado inútil, pode-se transformar em algo incontrolável e que leve a conseqüências indesejáveis para todos.
* Sérgio Braga é presidente do Sindicato dos Bancários de Alagoas, diretor executivo da Contraf-CUT e membro da Comissão de Empresa do BB.