Por Vagner Freitas*
O primeiro mandato do presidente Lula teve contradições pela própria necessidade de vencer a desconfiança dos “mercados” e debelar a crise econômica herdada dos tucanos. Para quem não se lembra, o dólar ultrapassava R$ 3,50 e a dívida pública chegava a alarmantes quase 60% do PIB. Pode-se discutir se era necessária toda a restrição macroeconômica da política Palocciana, mas é evidente que o cenário mudou.
Hoje a agenda é olhar o futuro, promover crescimento econômico, com justiça social e redistribuição de renda, gerando empregos melhores e com carteira assinada, além de ter forte política social de inclusão. Esse foi o recado das urnas. O projeto vitorioso do presidente Lula foi o que mudou em relação aos tucanos. Isso impediu o verdadeiro golpe que se tentou dar para impedir a reeleição.
Se a agenda vitoriosa é clara, fica difícil entender como em determinados lugares dentro do próprio governo permanece a herança maldita do pensamento neoliberal tucano-pefelista. Um dos enclaves do atraso é o Banco Central. Seu presidente, Henrique Meirelles, dá declarações dizendo que a atual crise dos mercados financeiros mostra que sua política de pagar os juros reais mais altos do planeta está correta. Parece torcer para que tudo dê errado, para que o setor a que sempre beneficiou, o financeiro, continue a ter os absurdos lucros em detrimento de toda a sociedade. Pois são os únicos que ganham com juros altos e crise econômica. Sem contar o absurdo de mexer no cálculo da remuneração das cadernetas de poupança e do FGTS, prejudicando pequenos investidores e os trabalhadores e, mais uma vez, favorecendo a banca e seus fundos de aplicação milionários.
Mas se o BC parece não entender que o governo mudou, está sendo seguido muito de perto nessa alienação pela direção do Banco do Brasil. Numa volta à era tucana (que tinha congelamento de salário e perseguições), a direção do BB resolveu punir e discriminar no pagamento da PLR os bancários que fizeram greve. Talvez se esqueça da origem sindical do atual presidente, que nomeia cada um dos diretores do BB. Será que eles acham que o presidente da República concorda com a punição a grevistas por uma empresa pública? Será que podem desrespeitar o direito de greve previsto na Constituição e saírem impunes?
Dominados pela lógica do mercado, dos resquícios autoritários dos oito anos tucanos, parece que as diretorias do BC e do BB não percebem que o momento político mudou. Nós, sindicalistas, que defendemos um projeto de país mais justo e o governo popular do presidente Lula contra o golpe que tentaram dar, não podemos aceitar que os setores que foram derrotados nas eleições continuem a implementar suas políticas no Banco Central e no Banco do Brasil. Para mudar, crescer, desenvolver-se, tornar-se mais justo, o país precisa se livrar das amarras desse pensamento atrasado.
* Vagner Freitas é presidente da Contraf-CUT e diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores