A partir de janeiro de 2016 os funcionários do Banco do Brasil, para concorrer a funções através do sistema TAO (Talentos e Oportunidades) de seleção da empresa, devem obrigatoriamente ter realizado o curso à distância Prevenção e Combate ao Assédio Moral e Sexual através da universidade corporativa do BB. A novidade é bem vinda. Desde sempre os sindicatos cobram dos bancos novas medidas para coibir a prática de assédio moral e sexual. Foi com luta que conquistamos no BB o acordo aditivo à Convenção Coletiva de Trabalho que prevê a implantação do Programa de Combate ao Assédio Moral nas instituições financeiras, a proibição de ranking individual de empregados e a limitação ao uso de mensagens por telefone com cobrança de metas e resultados fora do horário de trabalho.
O curso tem sistema de navegação fácil de usar, e o conteúdo é apresentado de forma simples e didática, com testes e avaliação no final. Mas os temas não são aprofundados, o que exigiria mais leitura e mais do que duas horas de curso, conforme a proposta do banco. E que fique aqui nossa cobrança ao BB: garanta a realização do curso durante a jornada de trabalho!
Há no curso um alerta importante a todo trabalhador ao reconhecer que a competição e o individualismo no mercado piorou a organização do trabalho, com empresas com foco na redução de custos e na maximização de resultados. E nós acrescentamos, isso ocorre frequentemente com prejuízo para o ser humano, fragilizando seus princípios éticos e morais, deteriorando seu desenvolvimento integral nos planos psíquico, emocional, físico e social. O curso ainda reconhece que a violência moral está exacerbada e é uma afronta aos princípios da dignidade humana e da valorização do trabalho.
O curso aborda também a penalidade aos funcionários que comprovadamente tenham praticado assédio. Nosso alerta aos trabalhadores é que resistam a todo tipo de assédio, lutando de forma coletiva e praticando a solidariedade nos locais de trabalho. Denunciem a seus sindicatos, não apenas à Ouvidoria Interna como é proposto pelo curso. Outra crítica que tecemos aos bancos, incluindo o BB, é a lógica de gestão que prioriza o lucro cada vez mais, com estímulos velados, e algumas vezes declarados, de gestores para que haja pressão psicológica sobre os trabalhadores para atingir as metas, mesmo que através de venda casada e falsificação de operações para fazer o que se chama popularmente de “fumaça”.
Nunca é demais criticar outra prática da empresa: quando o funcionário é flagrado praticando assédio ou faltando com a ética nos negócios, o banco afirma que é um caso isolado e carrega toda a responsabilidade nas costas do trabalhador. Reconhecemos que há casos de psicopatia de gestores, mas temos convicção de que são casos específicos e que a maioria quer se dedicar ao trabalho, mas com boas condições de trabalho, metas não abusivas, coletivas e não individuais, que não afetem a avaliação de desempenho GDP, proteção contra perda de função e número de funcionários suficientes para evitar a degradação do ambiente de trabalho.
Ernesto Izumi é Secretário de Formação da Contraf-CUT.