POR WILLIAM MENDES*
“Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
transformam o país inteiro num puteiro
pois assim se ganha mais dinheiro
A sua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára…”
(Cazuza, “O tempo não pára”)
O artigo “De sindicalistas a analistas”, do professor Ricardo Antunes, publicado na seção Tendências e Debates da Folha de S.Paulo (19/10/2006), mostra mais uma vez a necessidade de contrapor a tentativa da classe dominante e de alguns “estudiosos” de querer desqualificar ou criminalizar aqueles que contribuem para defender e melhorar as condições de vida do “povo brasileiro” (no sentido stricto sensu, retirando-se certos grupos como banqueiros, rentistas, grandes empresários ou “coronéis” que dominam este país há 500 anos).
Desde 2005, quando surgiram as denúncias de um suposto “mensalão” no Congresso Nacional e cuja CPI encerrou-se sem provar nada, tentou-se desqualificar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT, a CUT e seus milhares de sindicatos filiados, e demais movimentos como o MST e a UNE, que de uma forma ou outra defenderam a democracia contra as recentes tentativas de golpes “brancos” ou descarados mesmo.
O professor Antunes segue em seu artigo a mesma linha que outros “estudiosos” usaram nos momentos difíceis por que o partido passou em 2005: uma “desconstrução” que sugeriria que alguns problemas internos do partido seriam de responsabilidade da sua ala sindical.
Não sou do “envelhecido ‘novo sindicalismo’” como ele diz, mas do “novíssimo ‘novo sindicalismo’”, ou seja, convivi e aprendi muito com pessoas da geração que, desde a década de 1970, organizou os trabalhadores em busca de democracia, inclusão social, novos direitos e melhores condições de vida e trabalho.
Essa geração chamada de “novo sindicalismo” teve papel importante em eventos que mudaram o rumo do país. Para lembrar alguns cito a luta contra a ditadura, a criação do PT, que organizaria os trabalhadores desde a década de 80 para fazer as mudanças sociais, disputando espaços nas instituições burguesas oficiais (parlamentos e executivos), criou a maior central sindical da América Latina (CUT), dentre outros feitos.
Sobre o professor insinuar que é ruim dirigentes sindicais e representantes de movimentos sociais assessorarem o projeto de país que o governo Lula vem implantando desde 2003, gostaria de questionar o que há de errado nisso?
Em primeiro lugar, é uma bobagem dizer que a tendência Articulação Sindical “controla com mão-de-ferro a central” (referindo-se à CUT). A Central tem eleição a cada 3 anos, diferente de algumas entidades com mandatos eternos. Como existe democracia na CUT e em seus milhares de sindicatos filiados, os setores que torcem a cara para as tendências políticas que vencem as eleições têm de respeitar, como minoria, o fato de a Articulação Sindical ter inserção e trabalho político em suas bases. O que muitos detratores não dizem é que um dos motivos mais prováveis desta tendência ter uma base social tão ampla são os princípios que norteiam sua prática democrática do consenso progressivo, prática de debates em fóruns para tomada de decisões sobre os temas (o que tornam as decisões mais democráticas por serem partilhadas com todos).
Em segundo lugar, é preciso acabar com esse preconceito de dizer que dirigente sindical ou trabalhador não pode ser político ou ocupar cargos de confiança. Ou que existe um vício de origem. Afinal, mesmo em momentos que consideramos equivocada a atuação de parte dos sindicalistas ligados à Força Sindical de apoiar um candidato ligado às elites e que, em seu governo, privatizou e demitiu trabalhadores, sabemos que eles têm direito a essa escolha e que sua atuação política é legítima.
Mas voltando à ocupação de espaços, da colonização, passando pelo império, até chegarmos à República, TODAS as administrações tiveram pessoas indicadas em cargos de confiança. Para dar um exemplo, é só lembrar os tucanos que dominaram o Planalto nos 8 anos de PSDB/PFL. Havia desde ministros “eruditos” que combinavam falcatruas “no limite da irresponsabilidade” para usar dinheiro dos fundos de pensão nas privatizações até assessores da presidência que acertavam com juízes como reverter ações favoráveis aos trabalhadores. (Fica aqui a indicação da leitura do livro O mapa da corrupção no governo FHC, da editora Perseu Abramo).
Para finalizar, deixo algumas convicções que acredito serem notadas pela sociedade brasileira, a despeito do que prefeririam determinados grupos: alguns “estudiosos” e a classe dominante brasileira poderiam lembrar que sabedoria não tem relação direta e automática com erudição ou acúmulo de conhecimento técnico.
O Brasil está mudando para melhor. Os indicadores econômicos e sociais alcançados sob a liderança de um presidente-metalúrgico mostram que temos a melhor combinação de fatores positivos ao mesmo tempo, ou seja, a diminuição da miséria e pobreza chegou a 20% em um mandato; as empresas brasileiras, públicas e privadas, têm seu melhor desempenho em 15 anos; a geração de emprego e ocupações remuneradas teve um saldo positivo de 7 milhões de postos.
E, por último, o fato de a CUT – com seus 3.489 sindicatos e 22,5 milhões de representados – não sair da cabeça e dos ataques da direita, da elite e de alguns eruditos é sinal de que continua incomodando àqueles que não querem que o Brasil continue avançando para uma sociedade mais justa e igualitária. A Folha de S.Paulo, por exemplo, nos últimos dias, cedeu espaço para o prof. Antunes criticar a CUT, cedeu vários espaços para Bornhausen, do PFL, cedeu espaço para Paulinho, da Força Sindical, mas se negou a publicar este artigo, depois de 3 dias de espera.
Quanto a nós, sindicalistas da Articulação Sindical e demais companheiros de outras tendências políticas de esquerda, continuaremos a fazer aquilo que é nossa missão, ou seja, buscar sempre melhores salários e condições de vida e de trabalho para os trabalhadores, que é aquilo que temos feito, pois basta observar os resultados das últimas campanhas salariais, em que a quase totalidade das categorias tem conseguido aumento real de salário.
* William Mendes, 37, é secretário de imprensa da Contraf-CUT e diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região