Por Fábio Soares Alves*
Novamente a privatização do Banrisul é apontada como saída para a crise das finanças estaduais pelo vice-governador do Rio Grande do Sul, em declarações na mídia, com argumentos que contêm dados sem consistência nem lógica. Em respeito ao povo gaúcho, tomo a liberdade de fazer um contraponto no debate para o esclarecimento da sociedade.
Em primeiro lugar, a história do Banrisul se confunde com o desenvolvimento econômico e social do Estado desde a sua fundação, em 12 de setembro de 1928, por Getúlio Vargas. Toda a trajetória do banco foi marcada como uma instituição de crédito confiável e eficiente, atenta às necessidades da economia, e levando atendimento para milhões de gaúchos, muitos abandonados pelos bancos privados.
A instituição exerce papel de liderança regional e arregimenta outros atores sociais na fomentação econômica das comunidades, estabelecendo um vínculo com as localidades, atendendo mais de 3 milhões de clientes, atingindo 77% dos municípios que representam 97% do PIB gaúcho.
Com isso, o Banrisul vem consolidando sua captação de recursos junto ao público tanto pela expansão física de sua rede de agências quanto pela diversificação de produtos à disposição de clientes para aplicações. Cumpre papel de destaque na alocação de recursos no RS, exercendo a função de indutor do desenvolvimento ao garantir que a poupança do Estado se transforme em crédito regional.
A partir do Proes, em 1998, o banco obteve uma forte recuperação patrimonial-financeira, o que vem se refletindo tanto no fortalecimento de sua base de capital quanto na sua expansão operacional. A instituição tem apresentado lucros crescentes, repassando esses resultados para o Estado, detentor de 99% de suas ações. Em 2005, o banco lucrou R$ 350 milhões. Até setembro de 2006, o lucro acumulado era de R$ 254,5 milhões.
Cabe alertar que em caso de privatização os prováveis compradores seriam os banqueiros paulistas (Bradesco, Itaú) ou os europeus (Santander, HSBC, ABN-Amro), acabando praticamente com o sistema financeiro gaúcho, que já perdeu a Caixa Estadual e o Meridional. A medida também ampliaria ainda mais a concentração de recursos na Região Sudeste. Ao contrário dos bancos privados, que apresentam índices de concentração acima de 60% no Estado de São Paulo, o Banrisul aloca 93,31% de seus créditos na Região Sul, principalmente no RS. A sociedade gaúcha não pode abdicar desse poderoso instrumento.
O momento é de fortalecer o Banrisul como banco público e enfrentar os novos desafios, como o atendimento a segmentos desassistidos, a democratização do crédito, a geração de empregos e renda, o fomento à produção, o estímulo à agricultura e à pecuária, e as parcerias com instituições sociais. O Banrisul surgiu e cresceu como banco de fomento econômico e social do RS e dessa tarefa não pode se distanciar.
* Fábio Soares Alves é presidente em exercício do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região