Por Juarez Braga Zamberlan e Eloi Valdir Horst (Melão)*
No domingo, 13, o programa Cine Jornal, do Canal Brasil, destacou as estréias de filmes brasileiros, curtas e longas, em abril e maio. Provoca particular interesse o longa "Baixio das Bestas", dirigido por Cláudio Assis. O filme trata da exploração sexual de mulheres na zona da mata pernambucana, associada às orgias violentas patrocinadas por agroboys, filhos de usineiros da região.
Os comentários daqueles que assistiram ao filme são preocupantes. A maioria não gostou. Acha o tema da violência, sexo e drogas muito batido. Dizem que saíram do cinema com o estômago embrulhado. Polêmica à vista.
Mesmo desconhecendo maiores detalhes, associa-se o nome do filme ao processo em andamento no Banco do Brasil, chamado "Ações Estruturantes". Elaborado na surdina o plano prevê o enxugamento de pessoal e da estrutura (atividade meio), corte de substituições para comissionados e embutido um Plano de Cargos Comissionados e um novo Modelo Organizacional. Os funcionários dispensáveis terão "oportunidades": remoção, aposentadoria ou afastamento, de "caráter voluntário", com "incentivo", focadas especialmente nos funcionários com mais de 50 anos e caixas executivos nas agências. Sabe aquela piada sobre o aposentado do Bradesco?
Dizem os gestores do Banco que as medidas visam "monitorar o cenário e construir estratégias que o prepare (o Banco) para novos padrões de atuação". "Excelência em gestão, competitividade da empresa e ganhos de escala" são termos utilizados para justificar o pacotaço, comunicado aos superintendentes na sexta-feira, 04, em Brasília, repassado aos gerentes na segunda, 07, e divulgado aos funcionários no dia seguinte. Hierarquia, verticalidade e autoritarismo da melhor cepa, bem aos moldes dos planos neoliberais aplicados nas gestões coloridas e tucanas do BB. Pelo visto, ainda dando cartas.
Por outro lado, vimos o presidente Lula, antes, durante e depois da campanha eleitoral, citar dados sobre a quantidade de brasileiros que saíram do ostracismo financeiro. Abriram conta bancária e exibem orgulhosamente seu troféu: o cartão magnético.
Serão esses "os novos padrões de atuação" que a direção do BB deseja atender? Milhões de pobres, trabalhadores de baixa renda, semi-alfabetizados, atendidos por máquinas, estagiários, terceirizados, caixas de supermercado e loterias. É terminantemente proibido dirigir-se aos terminais de caixa. Depósitos somente nas salas de auto-atendimento. Pagamento de contas (coisa mais antiquada) em qualquer lugar, menos aqui. Esta seria a nova campanha publicitária do Banco da (mãe) Joana?
Será desta forma que o BB partirá em busca "do aumento da concessão de crédito e do incremento de novos negócios"? Nenhuma interação entre pessoas, calor humano zero, telemarketing agressivo e chato, atendimento virtual ou terceirizado pode ser a política de qualquer banco privado, NUNCA do Banco do Brasil, que se deseja público, de todos, do João, da Maria, do Paulo, do Geraldo e do Luis Inácio. Ou apenas do Geraldo?
O Banco do Brasil deve ser acolhedor, inclusivo. Deve ter um quadro de pessoal preparado para operar linhas de crédito que vão além da euforia estatística pela posse de um cartão magnético. Os atuais gestores têm idéia de quantos brasileiros, do campo e da cidade, ao procurarem o Banco em busca de apoio para seus projetos deram com os burros n’água?
"Não há gente suficiente para atender a todos", "essa linha de crédito está suspensa", ou "o foco é em consórcio e CDC", são estórias e mentiras inventadas para justificar a impossibilidade de atendimento.
É claro que se deve pensar na perenidade da empresa, renovar quadros, arejar idéias e rever estratégias. Porém, para cumprir a missão largamente divulgada de "contribuir para o desenvolvimento do País", o Banco do Brasil necessita trilhar outro caminho. Com democracia, transparência, espírito público e funcionários comprometidos e motivados.
Não deixe de ver o filme "Baixio das Bestas", mas lembre-se: o tema é conhecido e a crueza das cenas provoca reações surpreendentes. Parece que já vimos esse filme, no cinema e no BB. Qualquer semelhança com fatos e pessoas pode não ser mera coincidência.
* Juarez Braga Zamberlan, 47, é diretor do Seeb Horizontina e Região, dirigente da CUT-RS.
* Elói Valdir Horst(Melão), 54, é suplente da Comissão dos Empregados do BB no RS, fundador do PT.