ARTIGO: A super explora‡Æo no Ramo Financeiro

Por Alberto Rocha Cunha*

 

Uma das formas da super exploração do trabalho no ramo financeiro é o estabelecimento de metas para os funcionários. Alvo da contestação dos bancários, a questão sempre perdura, visto que os banqueiros nunca se sensibilizam para o drama de seus empregados.

 

Os bancos, geralmente, apregoam que as metas são necessárias em todos os ramos de negócios e que, sem elas, as empresas não chegariam a lugar nenhum. Dizem que as mesmas obedecem à necessidade de um melhor posicionamento das empresas no mercado, que, por ser muito competitivo, exige cada vez mais das empresas e de seus empregados. Ou seja, explicam, mas não convencem.

 

A verdade é que a fixação de metas para a venda de produtos pelos trabalhadores do ramo financeiro se constitui em uma forma grotesca de acumulação de capitais. Os bancos vivem alardeando que o mercado está competitivo, mas não explicam como um mercado tão competitivo permite que, a cada ano, os seus lucros permaneçam sempre em patamares dos bilhões de reais, sem a possibilidade de concorrência real.

 

O bancário, que deveria trabalhar seis horas diárias, em virtude das características da profissão, obrigado pelo banco a vender diversos produtos aos clientes, muitas vezes em vendas casadas, resultado de campanhas promovidas internamente para alavancar determinadas modalidades, vê-se compelido a oferecer os produtos durante e após a sua jornada normal de trabalho.

 

Assim, em determinada semana o banco estabelece uma meta nacional ou regional para venda de títulos de capitalização. Cabe ao bancário, na agência ou fora dela, oferecer esse produto aos clientes, sempre pressionado por uma meta a cumprir, sob pena de ser mal avaliado pelo superior imediato, o que pode lhe custar até mesmo o emprego. Dessa forma, o bancário tudo faz para vender o produto da hora, mesmo quando o produto em questão não se adequa ao perfil do cliente.

 

Não há diálogo possível com a empresa para redimensionar as metas. Muitas vezes, quando o bancário não cumpre uma meta, por ser a mesma inatingível do ponto de vista negocial, sofre pressões desmedidas da empresa e de seus superiores, o que descamba simplesmente para o tão propalado assédio moral.

 

Uma das formas mais comuns de assédio moral nos bancos é a divulgação de ranking de atingimento das metas. Através de cartazes, quadros e, mais recentemente, de meios eletrônicos, a empresa divulga para seus empregados o atingimento das metas pelas diversas agências que compõe determinada regional, sem levar em consideração as condições diversas de mercado e outras que ocasionaram as diferentes performances das unidades.

 

Agindo dessa forma, a empresa submete aqueles que não cumpriram as metas ou mesmo os que as cumpriram, mas em um patamar inferior à de outras unidades, ao vexame de ver seu nome figurar entre os últimos colocados em uma competição que visa tão somente apontar perdedores, visto que apenas um, entre tantos competidores, tem seu lugar garantido no pódio: o banqueiro.

 

Aos trabalhadores e seus sindicatos resta resistir a esses abusos. Felizmente, alguns juízes da Justiça do Trabalho têm reconhecido que a competição promovida pelos bancos entre seus empregados é, antes de tudo, uma afronta à dignidade humana e lesiva à saúde de quem é submetido a essa situação.

 

No entanto, somente uma campanha vigorosa de todos os sindicatos de bancários do País, coodenada pela CONTRAF/CUT, e com forte aliança com outros setores da sociedade, como os próprios clientes, que também são lesados por essa prática, poderá por fim a mais essa exploração à que os bancários são submetidos diariamente por seus patrões.

 

* Alberto Rocha Cunha é vice-presidente do Sindicato dos Bancários do Pará e Amapá

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