Fabiana Lopes e Gustavo Brigatto
Valor Econômico | De São Paulo
Depois de anos de especulações envolvendo o assunto, o Bradesco anunciou, ontem, a venda de parte da Scopus, sua empresa de tecnologia da informação (TI) para a IBM. Pelo desenho do negócio, a companhia americana ficará com toda a área de serviços da empresa brasileira, que envolve as atividades de suporte técnico e manutenção de equipamentos e sistemas. O valor da transação não foi revelado.
A divisão, batizada de Scopus Serviços, responde por dois terços do faturamento líquido da Scopus que, em 2013, foi de R$ 600 milhões – 5% a mais que em 2012. O Bradesco manterá sob seu controle a Scopus Soluções em TI, de atividades de consultoria e desenvolvimento de tecnologia.
O vice-presidente do Bradesco e presidente da Scopus, Maurício Minas, destacou que o contrato envolve a transferência de todos os ativos da área de serviços, incluindo contratos e 2,4 mil de seus mais de 3 mil funcionários. Atualmente, a Scopus Serviços é responsável pela gestão de um parque de 30 mil máquinas do Bradesco instaladas em agências e pontos de atendimento em todos os municípios brasileiros. Além disso, a unidade atende 100 empresas de setores como telecomunicações e varejo.
De acordo com Minas, a venda da unidade de serviços da Scopus justifica-se por ser de uma atividade não financeira, não relacionada, portanto, com o foco de atuação do banco. “Estávamos limitados em relação ao crescimento.” Segundo o executivo, a área representava mais custos do que receitas e, por isso, não deve trazer impactos significativos para os resultados da instituição. Além de reduzir as necessidades de investimentos para apoiar a evolução do negócio, a ideia é conseguir redução de preços em alguns dos serviços contratados.
As negociações com a Big Blue – como a IBM é conhecida – levaram 10 meses.
Para a companhia americana, o negócio representa um avanço importante na prestação de serviços no Brasil. Nos últimos dois anos, ela tem investido para aumentar sua presença em empresas de médio porte e também sua presença física por meio da abertura de escritórios fora do eixo Rio-São Paulo. Com a Scopus Serviços, a IBM ganha 150 filiais espalhadas pelo país onde ficam alocados técnicos e peças de reposição.
A expectativa é que com sua escala, a IBM obtenha ganhos de produtividade que resultem em menores custos e, consequentemente, preços mais baixos para os clientes. “Nosso propósito ao assumir essa operação gigante é levar ainda mais segurança e disponibilidade aos clientes do banco. Para isso, vamos utilizar tecnologias analíticas de ponta que aceleram o processo de identificação e resolução de problemas”, disse Rodrigo Kede, presidente da IBM, em comunicado.
Desde o fim dos anos 90 a IBM vem direcionando suas operações para os segmentos de software e serviços, que são mais rentáveis que seu negócio tradicional, a venda de equipamentos. Atualmente, a Big Blue tem se concentrado na oferta de sistemas por meio da internet no modelo conhecido como computação em nuvem e também em ferramentas que ajudam empresas e governos a lidar com grandes volumes de dados.
Criada em 1975, a Scopus foi comprada pelo Bradesco em 1989. Na época, o mercado brasileiro de TI vivia os tempos da reserva de mercado, política que incentivava o desenvolvimento de tecnologias nacionais, já que as importações eram restritas. Os bancos então investiram em companhias de tecnologia próprias para ter acesso aos recursos necessários para o seu crescimento. Foi nesse período que nasceram nomes como a Cobra, do Banco do Brasil (hoje BB Tecnologia e Serviços, ou BBTS) e a Itautec, do Itaú.
Com a abertura do mercado e o aumento da competição no mercado de TI, no entanto, manter uma companhia própria deixou de fazer tanto sentido para os bancos. No ano passado, o Itaú fez um movimento semelhante, passando 70% de sua área de serviços para a japonesa Oki.
“Com o tempo, ficou muito caro manter essas estruturas”, disse Minas. Se essa é a avaliação para os serviços, o mesmo não vale para a área de desenvolvimento de tecnologia, na lógica do Bradesco. De acordo com o executivo, a unidade, que agora conta com 700 pessoas, tem um valor estratégico para o banco, principalmente para o desenvolvimento de iniciativas na área atendimento digital a correntistas. Na divisão também estão informações sobre a segurança do banco. “[Essa área] nos permite inovar e nos dá diferencial competitivo em algumas situações. E essas operações a gente não quer passar para um terceiro”, afirmou. O plano, por enquanto, é manter apenas o Bradesco como cliente.
Com a Scopus Soluções, o banco mantém a participação de 49% na joint venture feita em 2011 com a americana NCR para a fabricação de caixas eletrônicos na cidade de Manaus.