Ao vender ativos para reforçar capital, bancos europeus sacrificarão lucros

Pressionados pelas autoridades reguladoras a reforçar o capital, os bancos europeus estão vendendo algumas de suas operações que mais vêm crescendo para concorrentes de fora da região. As vendas poderão deixá-los melhor capacitados para enfrentar o estresse financeiro – e menos capacitados a incrementar os lucros futuros.

O Banco Santander da Espanha, que declarou precisar de mais u20ac 5,2 bilhões (US$ 6,9 bilhões) para atender as exigências de capital, vendeu sua unidade colombiana em dezembro para o Corpbanca do Chile, por US$ 1,16 bilhão. O Deutsche Bank da Alemanha está avaliando opções que incluem a venda da maior parte de sua unidade de administração de ativos, enquanto o KBC Groep da Bélgica poderá se desfazer de negócios na Polônia.

Essas vendas são uma consequência imprevista da decisão das autoridades reguladoras europeias de fazer os bancos aumentar o capital – um colchão de proteção contra perdas de crédito -, para ajudá-los a sobreviver ao agravamento da crise da dívida soberana. A European Banking Authorithy (EBA) ordenou às instituições financeiras da região, em 8 de dezembro, que levantem u20ac 114,7 bilhões em capital adicional até a metade de 2012.

Para reduzir sua dependência dos mercados para a captação de recursos, bancos de todas as partes da Europa prometeram reduzir seus ativos em mais de u20ac 950 bilhões nos próximos dois anos, segundo dados compilados pela “Bloomberg”. Cerca de dois terços disso virá da venda de unidades lucrativas e empréstimos pendentes, afirma Huw van Steenis, analista do Morgan Stanley em Londres.

Não deverá ser fácil conseguir bons preços para esses negócios em meio a crise, mas as outras opções para se conseguir dinheiro são ainda menos atraentes. Os bancos não querem emitir mais ações porque os preços de seus papéis estão baixos: o índice Bloomberg Europe Banks and Financial Services acumula uma desvalorização de 33,5% no ano.

Vender empréstimos problemáticos também é complicado. Se os bancos aceitarem os preços baixos que os investidores estão dispostos a pagar, eles terão de registrar perdas com os empréstimos, e essas perdas vão corroer seu capital. Como resultado, os ativos problemáticos e os créditos podres vão responder por apenas 4% das reduções de ativos nos próximos dois anos, segundo van Steenis.

Com isso, sobra a venda de unidades de negócios inteiras fora de seus mercados domésticos. “Estas são as partes mais lucrativas de seus negócios”, diz Azad Zangana, economista da Schroders para a Europa, citando as vendas de ativos na América Latina por bancos da Espanha e Portugal. “Você começa a ficar uma organização menos lucrativa. Seu modelo de negócios para de funcionar se você se vê forçado a emprestar apenas para uma economia que passa por uma recessão muito profunda.”

Ao se desfazerem de alguns de seus melhores ativos, os bancos poderão ficar menos estáveis. “Os bancos estão vendendo mais os ativos de maior liquidez para que possam conseguir preços que lhes permitam evitar perdas de capital adicionais”, diz Joseph Swanson, diretor adjunto de reestruturação da Houlihan Lokey em Londres. “Infelizmente, essa estratégia pode resultar em uma menor qualidade de ativos e maior volatilidade nos lucros.”

O Santander concluiu em outubro a venda de suas operações de seguros no Brasil para a Zurich Financial Services, por US$ 1,7 bilhão. O banco espanhol também vendeu uma participação de US$ 958 milhões no Banco Santander Chile, o maior banco chileno em ativos. O lucro líquido do Santander Chile cresceu 45% entre 2008 e 2010 e poderá crescer 15% este ano, para cerca de US$ 970 milhões, segundo estimativas de analistas compiladas pela “Bloomberg”. O Santander informou que também vai vender uma participação em sua unidade bancária brasileira.

A planejada venda pelo banco espanhol de parte de sua unidade de financiamento ao consumo nos Estados Unidos, para um grupo liderado pela KKR, poderá reduzir o lucro líquido para os acionistas do Santander em u20ac 150 milhões, segundo estimativa feita em 28 de outubro por Raoul Leonard, analista do Royal Bank of Scotland (RBS) em Londres.

“Supondo que vendas múltiplas de ativos estejam para ser concretizadas, isso poderá representar um impacto negativo” sobre os lucros, escreveu Leonard. Uma porta-voz do Santander não quis fazer comentários na sexta-feira.

O KBC, banco belga que recebeu um socorro de u20ac 7 bilhões do governo, informou em julho a intenção de vender a segunda maior companhia de seguros da Polônia e sua participação de 80% no Kredyt Bank polonês. “Quando você vende um ativo, sempre há os dois lados da moeda”, diz Stephane Leunens, um porta-voz do KBC. “A nossa preocupação é diminuir os riscos para a instituição, ao mesmo tempo em que tentamos gerar crescimento suficiente em nossos mercados principais.”

O Deutsche Bank, que precisa cobrir um rombo de capital de u20ac 3,2 bilhões até a metade do ano que vem, disse no mês passado que poderá vender a maior parte de sua unidade de administração de ativos, um negócio que o presidente-executivo Josef Ackermann construiu ao longo da última década para ajudar a reduzir a dependência que o banco tinha da área de banco de investimento. O lucro antes dos impostos da administradora de ativos no terceiro trimestre mais que dobrou, para u20ac 186 milhões, em relação ao mesmo período do ano passado, representando 20% do lucro total do banco.

Analistas afirmam que os bancos estão num beco sem saída. “Se eles aumentarem o capital vendendo as joias da coroa, o mercado vai recompensá-los no curto prazo porque as instituições estarão cumprindo o cronograma das autoridades reguladoras”, diz Will James, que administra o SLI European Equity Income Fund da Standard Life em Edinburgo.

O problema no longo prazo, acrescenta ele, é “como você cresce num cenário em que os clientes não querem tomar empréstimos? Esta é a peça do quebra-cabeça que falta. Num ambiente de baixo crescimento, ou sem crescimento, os bancos que tiverem que vender ativos de qualidade continuarão tendo problemas.

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