O início dos trabalhos legislativos em 2009 entrou para a história política de Alagoas, depois de uma sessão simbólica realizada ontem pelos movimentos sociais no plenário da Assembléia Legislativa. De forma inédita, lideranças do movimento sindical e popular tomaram as cadeiras dos 27 deputados e instalaram uma sessão pública, na qual aprovaram “decretos legislativos” reduzindo o duodécimo da Casa, cassando o mandato dos deputados “taturanas” e desapropriando os bens obtidos por eles com os R$ 300 milhões desviados da ALE.
A instalação da “Assembléia Popular” teve início pela manhã, com a eleição e posse dos 27 “deputados” eleitos pelo povo. Os bancários, que vêm apoiando a luta pela cassação e punição dos deputados corruptos desde o início, tiveram participação destacada no ato, elegendo inclusive uma deputada: Arivoneide Moraes (BB), do Conselho Regional do Sindicato. Outros diretores da entidade, entre eles o presidente Edmundo Saldanha (CEF), também acompanharam a manifestação, que foi organizada pelo Movimento Social contra a Criminalidade e a Corrupção (MSCC), liderado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT-AL).
Com a ocupação da Assembléia pelos movimentos sociais, o início oficial dos trabalhos legislativos em Alagoas foi adiado pelo presidente da Casa, deputado Fernando Toledo (PSDB), que viajou às pressas para local ignorado. Segundo a CUT e a coordenação do MSCC, o ato de ontem é mais um alerta dos trabalhadores e da sociedade para os poderes constituídos, no sentido de que não permitam o retorno dos deputados corruptos afastados pela Justiça do Estado. O recado foi principalmente para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, que derrubou uma das liminares do Tribunal de Justiça de Alagoas e está para julgar uma segunda.
Além de ocuparem o plenário da Assembléia Legislativa, realizarem uma sessão pública simbólica e cassarem o mandato dos deputados “taturanas”, os movimentos sociais realizaram uma manifestação em frente à sede do Poder, do qual participaram cerca de cinco mil pessoas. Em seguida, os manifestantes saíram em passeata pelas ruas do centro de Maceió. Faixas, cartazes, bandeiras e palavras de ordem compunham o cenário, seguido do coro: “Fora ladrões! Fora taturanas!”.
Na sessão pública realizada pelas entidades, o duodécimo do Poder Legislativo foi reduzido em R$ 23 milhões/ano, com o montante sendo redistribuído para a saúde, educação, segurança pública, reajuste salarial do funcionalismo e o Plano de Cargos e Carreira dos servidores da ALE. Já os bens desapropriados dos parlamentares tiveram a seguinte destinação: as fazendas foram para a reforma agrária, os terrenos para a construção de moradias populares, os carros para a segurança pública e as mansões para a instalação de centros de formação dos trabalhadores.
Após realizarem os protestos e registrarem o recado do povo alagoano, os movimentos sociais, que atuaram todo tempo de forma pacífica, desocuparam a sede do Legislativo, que volta a funcionar normalmente nesta quarta-feira. Os atos de protesto e cobrança, entretanto, vão continuar em outras oportunidades, segundo informou a coordenação do MSCC. As manifestações pela cassação e punição dos deputados taturanas, indiciados pela Polícia Federal e o Ministério Público, já duram mais de um ano, igual tempo de afastamento dos parlamentares.