O despachante técnico de vôo Rodrigo Maciel, casado, pai de dois filhos e funcionário da Gol Linhas Aéreas, está desempregado desde o dia 2 de maio. Não por falta de vagas ou competência, mas porque atuou em defesa de melhores condições de trabalho.
As denúncias, dissídios de greve e instalação de operações-padrão para alertar sobre a jornada exaustiva e a falta de mão-de-obra resultaram na demissão do também diretor jurídico do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos. Além de ilegal – a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante estabilidade aos diretores sindicais -, a ação é imoral e representa um exemplo claro de prática antissindical adotada pela empresa.
Para a demissão, a companhia alegou adulteração do espelho de ponto, não por acaso, um dos motivos de discussão do sindicato. “Tentaram utilizar meu caso como um bode expiatório para me calar e calar os outros companheiros e utilizaram justamente esse problema do ponto porque há muito tempo denunciávamos as falhas no sistema. Isso é perseguição e por diversas oportunidades tentamos uma negociação. Mas, a Gol se manteve irredutível, mesmo durante a negociação na Secretaria Regional do Trabalho. O processo agora está correndo e a primeira audiência já está marcada para o início do mês que vem”, comentou Maciel.
Nesta quarta-feira (22), dia nacional do aeroviário, casos como esse virão à tona em manifestações programadas para os aeroportos de Porto Alegre, Rio de Janeiro (Galeão), Salvador, Recife, além de Guarulhos. O objetivo é dialogar com a população sobre a situação de quem cuida do embarque de passageiros, transporta de mercadorias, faz a manutenção das aeronaves e cuida de todas as outras atividades relacionadas às empresas aéreas, de serviços auxiliares e de manutenção no setor da Aviação Civil.
Contra a privatização dos aeroportos
Em São Paulo, a mobilização ocorre no Aeroporto de Guarulhos, às 18h, mais especificamente no check-in da Gol, apontada como a empresa onde há maior incidência de práticas antissindicais. “Infelizmente, a data não é de comemoração, justamente por conta do excesso de carga horário, de terceirização, do excesso de horas da falta de profissionais”, comentou Celso Klafke, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Sina).
“Em muitos casos, o agente de aeroporto que ganha uma média de R$ 1.300 está sendo demitido e, em seu lugar, sendo contratado o auxiliar de aeroporto que ganha metade e realiza a mesma atividade”, critica Orisson Melo, presidente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos, que representa cerca de 100 mil trabalhadores.
A postura explica parte dos problemas nos aeroportos nacionais. A política de redução de custos a qualquer preço, em detrimento da qualidade, faz com que trabalhadores ainda sem o tempo adequado de treinamento e sem a formação exigida para a função sejam contratados pelas empresas. O resultado é a queda na qualidade do serviço.
Por fim, Klafke lembra outra pauta essencial para a categoria neste dia 22 entrega dos aeroportos brasileiros à iniciativa privada. “Promoveremos um data de luta pela valorização do trabalho, mas também pela valorização do setor aéreo. Nesse sentido, é fundamental nossa luta contra as política neoliberais da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e contra a privatização do espaço aéreo brasileiro”, afirma.
Investir no que já deu errado
A CUT, a Fentac e o Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) já se manifestaram contrários à concessão dos aeroportos de Guarulhos (Cumbica), Campinas (Viraocopos) e Brasília (Juscelino Kubitschek). Primeiro, porque se trata de um setor estratégico de entrada E saída para o país. Segundo, porque a Infraero (estatal responsável por administrar os aeroportos) seria minoritária no processo de administração e ainda ficaria nas mãos do governo apenas os menos rentáveis. No modelo atual, os que geram mais lucro sustentam os outros que recebem uma quantidade menor de passageiros.
Em nota, as entidades defenderam maior investimento na contratação de pessoal para aperfeiçoar a administração, o planejamento e os serviços . Sob pena do Brasil repetir os mesmos erros que governos anteriores ao do presidente Lula cometeram em outros setores como o financeiro, de energia elétrica, gás e estradas.